Antes de mais, importa contextualizar o enquadramento atual do nosso tecido económico empresarial, fortemente alicerçado em PME, a maioria das quais assente numa base acionista e/ou societária de cariz familiar.

É precisamente esta característica do tecido económico nacional que coloca a ênfase no tema das sucessões empresariais. É comummente aceite que as sucessões empresariais constituem, simultaneamente, um dos principais obstáculos e um importante fator crítico de sucesso para a sobrevivência, desenvolvimento e ganhos de escala das nossas empresas.

Foi neste contexto, de reconhecida necessidade de instrumentos de apoio à dinamização e apoio às sucessões empresariais e ganhos de escala das empresas, que, em 2019, foi lançada a linha de financiamento com garantia mútua dedicada a esta finalidade, a saber a Linha ADN 2018 – Sucessão Empresarial e Incremento de Escala.

A par da importância da implementação e lançamento deste tipo de linhas de fomento à economia, urge definir e implementar modelos alternativos e complementares de capitalização e financiamento do nosso tecido económico empresarial.

Ora, para além do leque de instrumentos e de agentes económicos que têm vindo a operar neste mercado, caracterizado por movimentos inorgânicos de aquisição e consolidação, designadamente os fundos de private equity, verifica-se o surgimento de uma nova classe de investidores e de veículos de investimento: os denominados Search Funds.

Mas o que são os Search Funds e como se distinguem dos investidores tradicionais e dos fundos de private equity?

Os Search Funds são veículos de investimento que permitem a empreendedores captarem fundos junto de investidores com o propósito de adquirir, gerir e fazer crescer uma empresa que cumpra determinados critérios pré-definidos. Distinguem-se dos fundos de private equity pelo facto de não terem uma lógica de portefólio e investirem apenas numa única empresa, assumindo um modelo de gestão ativa, com vista à promoção do crescimento da empresa.

Este modelo nasceu nos Estados Unidos, na década de 80, e desde então foi-se replicando, atingindo particular relevância na última década.

Os Search Funds entraram em Portugal em meados da década passada, concretamente em 2016, com a constituição de uma sociedade de investimento agregando cerca de duas dezenas de investidores, tendo como objetivo a aquisição de uma PME com problemas de sucessão, mas com potencial de continuidade e de criação de valor a longo prazo.

Os Search Funds, enquanto fenómeno emergente no contexto empresarial em Portugal, visam complementar a resposta ao problema de sucessão e transição de controlo das PME familiares, sempre que os respetivos acionistas e/ou sócios não têm uma sucessão natural na empresa.

A profundidade do impacto dos Search Funds não se esgota no mero tema das sucessões empresariais, na medida em que materializam um importante desígnio de diversificação das opções de capitalização e de ganhos de escala das nossas empresas.

Paralelamente, importa definir os modelos de (co)financiamento mais adequados a estas transações, operadas pelos Search Funds em território nacional.

É precisamente neste ponto que a Banca de Empresas se deve posicionar no sentido de cumprir o seu “mandato” de apoio e fomento ao desenvolvimento económico nacional e de fortalecimento do nosso tecido empresarial.

A definição, estruturação e implementação de modelos de financiamento customizados e adaptados, por um lado, às características desta nova classe de investidores e, por outro lado, às características específicas das respetivas empresas “alvo”, é crucial para o sucesso destas transações.

É mais uma oportunidade para combinar capitalização e financiamento, de uma forma devidamente estruturada e sustentável a médio e longo prazo.

A título ilustrativo, constata-se que o último trimestre de 2020 permitiu alcançar mais um marco neste tipo de transações, tendo-se concluído a maior transação de um Search Fund até ao momento em Portugal, no setor industrial, na região centro do país. Esta transação, em particular, permitiu responder ao problema de sucessão dessa PME, mantendo os sócios atuais na gestão da empresa por um período transitório e, acima de tudo, criar condições de gestão, de funding e de financiamento para o seu incremento de escala a médio e longo prazo.

Em suma, o modelo de financiamento associado a estas transações deve, necessariamente, diferenciar-se do “business as usual”, na medida em que implica uma abordagem customizada às empresas e respetivos investidores, garantindo a devida complementaridade com a solução de capitalização implementada por via da transação acionista, bem como a respetiva sustentabilidade a médio e longo prazo.

É paradigmático, até, que a maior transação operada por um Search Fund em Portugal tenha sido concretizada em pleno período de crise pandémica, o que apenas vem demonstrar a importância deste tipo de veículos de investimento e de investidores nos diversos ciclos da economia.

Certamente, os enormes desafios resultantes da crise pandémica, conjugados com as necessidades acrescidas do nosso tecido económico empresarial, trarão novidades em 2021. E a Banca de Empresas tem necessariamente um importante papel a desempenhar nesta matéria.