Depois da pandemia de Covid-19 ter interrompido uma fase de forte crescimento da indústria da fundição, e numa altura em que tudo levava a crer que o pior já tinha passado – face nomeadamente ao aumento das vendas dos construtores automóveis – o sector está novamente confrontado com perspetivas negativas: o aumento do preço das energias, nova desaceleração das vendas de automóveis novos e as dificuldades das cadeias de fornecimento não dão tréguas e exercem forte impacto já este ano.
No dia em que realiza o seu congresso nacional (o 19º), em São João da Madeira, o sector está contudo “apostada em potenciar” as suas competências e o “capital de conhecimento” acumulado ao longo de décadas no desenvolvimento tecnológico, em inovação e, mais recentemente, em sustentabilidade, declara Filipe Villas-Boas, presidente Associação Portuguesa de Fundição (APF).
Com cerca de 60 empresas em operação, que deverão ter fechado 2021 com um volume de negócios agregado da ordem dos 536 milhões de euros e asseguram mais de cinco mil postos de trabalho diretos, a fundição portuguesa há muito que se assume como “fortemente exportadora”, enviando para o exterior mais de 90% da produção.
Territorialmente, o sector está predominantemente implantado nos distritos de Aveiro, Porto e Braga, onde laboram mais de 80% das fundições existentes em todo o país.
‘Fundição – futuro & desafios’ é o tema do congresso, que pretende descobrir alternativas. Uma delas está no “assinalável incremento das atividades de construção e infraestruturas por quase toda a Europa”, refere fonte oficial da associação. E no mercado interno, sublinha Filipe Villas-Boas, o “investimento na ferrovia, área em que temos experiência e onde queremos reforçar as nossas competências e a capacidade instalada, abre oportunidades interessantes para as nossas empresas e para o país”.
Mas a crise energética é uma “grande ameaça para a plena recuperação” do sector, ressalva. Trata-se, explica, de uma indústria que é grande consumidora de eletricidade, o que já há meses se traduz em perdas de competitividade e rendibilidade. Em causa pode estar a execução do Programa Nacional de Investimentos 2030, que tem alocados à modernização e expansão da ferrovia aproximadamente 10 mil milhões de euros, o que as empresas filiadas na APF encaram como “estimulante desafio”.
Em quatro painéis de debate, serão tratados temas da atualidade para o sector, como economia circular, transição energética, desenvolvimento de novas tecnologias, investimento na ferrovia, inovação e novos processos de produção, digitalização e capacitação da mão-de-obra. Entre vários especialistas, nacionais e estrangeiros, que participarão nesses painéis, estará Fynn-Willem Lohe, secretário-geral da CAEF – Associação Europeia de Fundição.