É em momentos especialmente conturbados a nível económico e financeiro, como o que atualmente vivemos, que voltamos a deparar-nos com mais uma dura realidade: Portugal é o país da zona euro com pior nível de literacia financeira.

O Banco Central Europeu divulgou, há pouco mais de um ano, um estudo em que Portugal aparece em último lugar entre os países da Zona Euro, com apenas 25% da população inquirida a ser capaz de responder acertadamente a, pelo menos, três de cinco questões simples sobre literacia financeira. Foram abordados conceitos como diversificação do risco, inflação, aritmética e juros compostos.

Apesar de os resultados divulgados poderem ser analisados por variáveis como rendimento, género ou idade, este estudo não se focou na capacidade de poupança da população, nem avaliou a capacidade de encontrar estratégias de investimento rentáveis. Este estudo focou-se na compreensão de conceitos financeiros básicos, anteriores à própria capacidade de poupança e investimento das pessoas. E o desempenho de Portugal, neste estudo, é verdadeiramente preocupante, a meu ver.

Nos últimos anos, temos vindo a assistir a uma maior aposta na promoção da literacia financeira em Portugal, através de algumas iniciativas e projetos públicos e privados que visam este objetivo. Mas ainda há muito por fazer. Isso mesmo fica espelhado, desde logo, em simples conversas quotidianas que denotam a dificuldade em compreender medidas ou o seu efeito prático, em temas bem atuais como inflação e impacto do aumento da Euribor.

Esta falta de literacia é, acredito, uma questão basilar em todo o nosso sistema económico e financeiro. Afinal, com parcos conhecimentos nestas temáticas e com diminuta maturidade financeira, não é apenas o nível das finanças pessoais que se ressente, mas todo o sistema produtivo e empresarial.

Nesta última vertente, o sistema financeiro, em diversas valências, necessita de encontrar respostas que sejam pensadas exclusivamente para as necessidades dos micro e pequenos negócios, que compõem a quase totalidade do tecido empresarial português.

Os dados da PORDATA relativos a 2021 indicam que há cerca de 1,4 milhões de micro e pequenas empresas em Portugal (até 50 colaboradores), representando 99,3% do total. Um pouco mais (99,9%), se contarmos também com as empresas de média dimensão.  Muitos destes gestores, pela reduzida dimensão das suas organizações, concentram em si as mais variadas tarefas, incluindo a gestão financeira em aspetos tão concretos como os seguros.

Numa injusta troca, o setor dos seguros mostra-se particularmente duro para os empresários: a oferta é vasta, a concorrência é feroz, as especificidades de coberturas quase intermináveis e a linguagem demasiado específica. Isto estende-se desde os seguros obrigatórios para a empresa e para os trabalhadores até aos seguros que funcionam como vantagens competitivas no pacote salarial dos colaboradores, como é o caso dos seguros de saúde, por exemplo.

Neste contexto, faltam respostas para os micro e pequenos negócios que sejam, ao mesmo tempo, concentradas e democráticas. Concentradas por permitirem aos empresários, que já se dividem por múltiplas tarefas e preocupações, encontrarem informação clara num único lugar, poupando tempo e simplificando a pesquisa, comparação, compra e gestão dos seguros. Democráticas, no sentido de serem acessíveis em conteúdo e forma (descomplicando o “segurês”), estando disponíveis a qualquer hora e em qualquer lugar.

De que forma pode o setor dos seguros responder a estas necessidades? Sem dúvida, recorrendo ao digital, num caminho de desmaterialização de processos, acelerado pelo período da pandemia. Apesar do atraso, quando comparado com outros países europeus, o suporte digital dos seguros mostrou que é possível manter contacto (e negócio) junto dos consumidores particulares, o que acabou por reforçar a confiança de todos os envolvidos (seguradoras, intermediários e clientes) nos mecanismos digitais.

Com todas estas evidências, mostra-se necessário envolver, também, os clientes empresariais, sobretudo, os de micro e pequena dimensão. É essencial criar ofertas específicas, com seguros pensados para um número reduzido de colaboradores, com métodos de contratação e gestão simples, rápidos e sem exigências burocráticas, dificilmente compreensíveis para quem não domina uma área tão particular.

Pois cabe também ao setor de seguros apoiar no desenvolvimento da literacia financeira em Portugal, capitalizando o potencial dos gestores portugueses.