“Que ideia a de que no Carnaval as pessoas se mascaram. No Carnaval desmascaram-se.”

Vergílio Ferreira

(Directamente da Cidade do México, onde escrevo estas linhas, debato-me com a profunda contradição entre os avassaladores recursos naturais e as consequências do narcotráfico e da corrupção. A sensação que fica é que todos os problemas são universais mas, às vezes, encará-los com sol no rosto e uma beleza enorme em pormenores faz-nos acreditar. Quando não num efectivo mundo melhor, pelo menos na remota possibilidade de virem a existir umas maiores igualdade e solidariedade entre as pessoas. Este é, sempre, o meu Natal. De olhos postos no futuro mas com a memória bastante para reconhecer erros. Incluindo os meus. Principalmente os meus.)

A proximidade do Natal tende a tornar as pessoas, muitas vezes hipocritamente, mais brandas e ternas. Excepto – claro! – quando exista uma segunda volta para as eleições para o Conselho Geral da Ordem dos Advogados, caso em que as redes sociais tendem a tornar-se um imenso esgoto a céu aberto, povoado de idiotas úteis, a debitarem campanha em nome de quem lhes acena com o poder. Se na vida real as pessoas se desmascaram no Carnaval, na Ordem dos Advogados isso costuma suceder em Dezembro de cada triénio.

Conheço de perto o fenómeno (e até já participei nele…), assisto ao mesmo de triénio em triénio e não deixo de notar a progressão de criaturas que, pela sua natureza, não são capazes de mais do que o truque rasteiro. Convivo com elas com a mesma naturalidade de quem sabe que o mundo não se circunscreve ao Largo de São Domingos e que há muito mais (e muito melhor…) para viver.

Em consequência, a dita campanha não é, sequer e na sua maioria, feita pela positiva, com ideias que possam ser discutidas, antes se procurando antagonizar o respectivo opositor com constantes alusões deprimentes pessoais.

Não me revejo nesses ataques como não me revejo num quase deserto de ideias, assentando tudo num piscar de olhos aos colegas que integram o sistema de apoio judiciário.

Não é esse o meu caminho. Ao contrário de outros tempos, mantive-me, quase sempre, calada na campanha eleitoral porque, de certa forma, perdida a inocência de que algo de importante poderia ser feito, retive o cancro, não o da nossa Colega Sandra em concreto, mas aquele em que se tornou a CPAS.  Um sorvedouro do nosso dinheiro que não tem fim e cuja única utilidade é a de pagar reformas principescas, incluindo a daquele que ocupa o cargo de Bastonário, mas que é incapaz de prover aos que dela verdadeiramente necessitam.

Posso não saber em quem votar na segunda volta para o Conselho Geral  mas sei – e perfeitamente – que, no que se reporta à CPAS, não vou por aí…

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.