A 360imprimir divulgou esta terça-feira as conclusões do barómetro que avalia o primeiro trimestre da adoção da semana de quatro dias de trabalho. O balanço período tinha sido prometido pelo CEO da empresa portuguesa, Sérgio Vieira, e os indicadores mostram que houve uma clara melhoria do bem-estar, com pouca quebra de produtividade. Ao Jornal Económico, diz que este é o caminho e que não há planos de andar para trás: “Tenho perfeita consciência de que reverter o modelo traria um enorme ruído internamente”.
O barómetro em causa, elaborado com o apoio de uma consultora independente, será feito trimestralmente e, como dito no início do projeto-piloto, o objetivo é quantificar o sucesso da semana de quatro dias e partilhar os dados com outras empresas. O documento completo pode ser consultado aqui.
Logo à partida, o sucesso do modelo “foi imediato”, diz a empresa em comunicado, com uma taxa de adesão voluntária de 98%.
Em termos de satisfação com o modelo de quatro dias, 83% dos colaboradores inquiridos mencionam que passam mais tempo com a família e amigos e uma esmagadora maioria (93%) revela que tenciona estar a trabalhar na empresa daqui a um ano — um número que Sérgio Vieira considera importante destacar, tendo em conta que a rotatividade entre empresas do ramo tecnológico é assinalável.
A acrescentar a este indicador, 88% das chefias dizem estar satisfeitas com o desempenho das equipas e a maioria dessas equipas reporta uma redução do stress, fadiga e ansiedade associadas ao trabalho.
Volume de trabalho quebra, atração e retenção dispara
Mas nem todos os indicadores são pintados a ‘verde’. O primeiro trimestre do modelo revela uma quebra de 6,4% no volume de trabalho egerado (importa não confundir com produtividade), um resultado que a empresa considera ainda assim positivo face ao que se esperava. Antecipando essa mesma redução, o modelo da 360imprimir implicava uma hora de trabalho extra diária, nos quatro dias em que os colaboradores trabalham. Na prática, trabalha-se o mesmo número de horas por semana, mas não o mesmo número de dias.
A produtividade, essa, teve um aumento residual (+0,6%).
O indicador mais encorajador, talvez pela atenção mediática que a iniciativa atraiu, regista-se na atração de talento. A empresa verificou um aumento de 297% no número de candidaturas recebidas face ao trimestre anterior. Já a taxa de saída desse talento, um mal que assombra todas as tecnológicas, reduziu 36%.
A vontade de ficar – pela empresa ou pelo modelo que nela vigora – é tanta, que voltar atrás na decisão está fora de questão, tanto para os gestores como para os colaboradores. Destes, um em casa três diz que só regressaria ao modelo de cinco dias se fosse garantido um aumento salarial igual ou superior a 50%. A esmagadora maioria (75%) diz ainda que seria necessário um aumento de pelo menos 30% para sequer considerar regressar às semanas convencionais.
“Estamos no caminho certo”, sublinha CEO
Números encorajadores à parte, Sérgio Vieira diz ao JE que as conclusões estão em linha com o que se esperava e pede contemplação, sobretudo sobre o peso relativo de um indicador: o volume de trabalho realizado.
“Montámos o modelo para ser protecionista, isto é, para que minimizasse o impacto na nossa empresa, para que a redução horária anual se traduzisse na ordem dos 7%”, explica, confirmamdo que os dados internos faziam adivinhar que a redução da carga horária trouxesse “algum impacto” ao volume de trabalho. Mas não há motivo para alarmes, assegura: “É um custo comportável face aos benefícios, que mais que compensam este modelo”.
Sobre a retenção, o CEO da tecnológica portuguesa diz que “ainda é cedo” para medir concretamente a retenção de talento, uma vez que apenas se passou um semestre, mas admite que tem “perfeita consciência de que reverter o modelo traria um enorme ruído internamente”.
“A decisão que tomámos foi de avançar com a clara expetativa de que seria para vigorar. Para descansar os meus acionistas e colaboradores, o piloto foi uma solução intermédia que deixou ambas as partes confortáveis. Os resultados são satisfatórios – fico mais descansado, que estamos no caminho certo”, acrescenta.
Recorde-se que a 360imprimir foi pioneira na adoção da semana dos quatro dias de trabalho, semanas após se ter tornado uma empresa 100% remota, abrangendo os seus cerca de 200 colaboradores.
O modelo de 36 horas de trabalho em quatro dias por semana foi implementado de forma experimental, tendo a empresa assumido um compromisso mínimo de dois anos. A empresa acredita que esta será “uma solução compatível com o seu crescimento acelerado e eficaz no aumento da satisfação e bem-estar dos seus colaboradores, com impacto direto na sua motivação e retenção”.