Os portugueses têm uma relação de carinho com as classes profissionais que associam ao serviço público. No sentido judaico-cristão de entrega, dedicação aos outros, em especial em situações de calamidade ou de emergência.

As Forças Armadas quando nos livram de uma ditadura; os bombeiros, quando enfrentam as chamas e protegem a vida e a propriedade de terceiros, em montes e vales inacessíveis; os médicos e os enfermeiros, quando não rejeitando sacrifícios, nos atendem nas urgências, numa qualquer, e não apenas em situação de pandemia.

Talvez por tudo isto, estas sejam algumas das classes profissionais mais admiradas em Portugal e que a comunicação social, bem, valoriza.

Nos últimos dias, correram céleres as imagens de uma enfermeira italiana, exausta, no seu posto de trabalho. Ou a verdadeira tragédia, no momento em que escrevemos estas linhas, de quase 20% dos infectados com o novo coronavírus serem médicos. Tocante. Dramático. Sinal de muita impreparação e falta de planeamento de quem tem responsabilidades.

E numa altura em que uns se aproveitam de forma imoral da tragédia que vivemos, sejam vendendo máscaras, luvas e gel desinfectante a preços pornográficos, ou aproveitando para despedimentos e encerramentos, talvez os portugueses, como um todo, se estejam a esquecer de tantas outras classes profissionais que honram a noção de serviço público, independentemente serem ou não funcionários públicos. Portugueses que são agentes essenciais para o funcionamento das sociedades modernas e que colocam os interesses de clientes e utentes, em primeiro lugar.

Os exemplos que nos chegam de outros países, onde sérias medidas de restrição social já foram implementadas, mostram que mesmo em Estado de emergência, ou de calamidade, há certos serviços e profissionais que são absolutamente indispensáveis para não regredirmos, num ápice, para o caos e a idade da pedra. Estes profissionais arriscam a sua saúde e, no limite, as suas vidas, ao serviço da comunidade, num momento em que enfrentamos um desafio que não terá paralelo no espaço de uma ou várias gerações.

Profissionais como, entre outros, os motoristas dos transportes públicos e de mercadorias, os funcionários das estações de serviço, dos serviços de limpeza, das forças de segurança, das farmácias, dos supermercados e os bancários. Sim, os bancários que, por vezes, uma certa opinião pública tem pretendido transformar em vilões de crimes cometidos por outros. Os bancários que mantêm os seus balcões ao serviço dos seus clientes.

Todas estas classes servem os seus clientes ou utentes com elevado sentido de responsabilidade, em condições de segurança aquém do que seria desejável, como é fácil de perceber.

Todos eles em contacto de proximidade com clientes e utentes. São eles, também, os heróis desta luta contra a pandemia e que me fazem ter tanto orgulho em ser português e ser bancário!