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Sete bancos lucraram 1.050 milhões no primeiro trimestre de um ano de rentabilidade

Em média os sete bancos registam um rácio de Return On Equity (ROE), aproximadamente, de 16,3%. Ora o custo do capital, segundo Eduardo Areilza, Senior Director da área de serviços financeiros da consultora Alvarez & Marsal, está entre 12% e 14%.
2 Junho 2023, 17h42

Não há dúvida que 2023 está a correr muito bem aos bancos portugueses. Os lucros dos sete maiores bancos – Caixa Geral de Depósitos, BCP, Novobanco, Santander Totta, BPI, Grupo Crédito Agrícola e Banco Montepio somaram em março 1.050 milhões de euros o que traduz uma subida de 61% face aos resultados dos mesmos bancos no primeiro trimestre de 2022 (que foram de 653,1 milhões).

Mais do que isso, a rentabilidade dos capitais próprios ultrapassa já o custo de capital.

Em média os sete bancos registam um rácio de Return On Equity (ROE), aproximadamente, de 16,3%. Ora o custo do capital, segundo Eduardo Areilza, Senior Director da área de serviços financeiros da consultora Alvarez & Marsal, co-autor do estudo apresentado esta semana intitulado “O Pulso da banca 2022 [Banking Pulse Report Portugal]”, está entre 12% e 14%. Portanto podemos concluir que, graças à subida dos juros pelo BCE, a banca está a ter o seu ano de ouro.

Eduardo Areilza disse mesmo que “este ano será o melhor ano para a receita dos bancos portugueses”, por causa do repricing dos ativos, fruto da subida dos juros do crédito e da maior lentidão na subida dos depósitos”.

O produto bancário composto pela margem financeira, comissões e resultados de operações financeiras explica a subida dos lucros da banca no primeiro trimestre, de resto seguindo um caminho começado já no ano passado, quando o BCE, em julho de 2022, começou a subir os juros em resposta à crise inflacionista.

Recorde-se que, segundo esse estudo da consultora, em 2022 o aumento agregado da receita de margem financeira dos sete bancos analisados subiu 77,2% num ano para 2,536 mil milhões de euros.

Os sete maiores bancos, só no primeiro trimestre de 2023 somaram em receita da margem financeira 2.241,4 milhões de euros. O que dá uma ideia do embalo que levam para o final do ano.

A consultora norte-americana Alvarez & Marsal diz ainda que o risco da banca portuguesa diminuiu em 2022, que apresenta uma forte liquidez e uma subida da rendibilidade, mas ainda tem um percurso a fazer na melhoria da eficiência e na redução do rácio de crédito malparado.

No primeiro trimestre de 2023 verifica-se que o banco com maior lucro consolidado foi a CGD com 285 milhões; seguiu-se o BCP com 215 milhões de euros; depois o Santander Totta com 185,9 milhões; o Novobanco com 148,4 milhões; o Grupo Crédito Agrícola com 95,8 milhões de euros; a seguir surge o BPI com 84,7 milhões e por fim o Banco Montepio com lucros de 35,3 milhões.

Mas quando se olha para a evolução, a maior subida anual foi precisamente no Banco Montepio (+209,6%). Segue-se o Crédito Agrícola com os lucros a subirem num ano 168,4%. Depois, e por esta ordem, surgem CGD (+95,7%); BCP (+90,5%); BPI (+75%); Santander Totta (+19,6%) e Novobanco que viu os lucros subirem apenas 4%.

No entanto é a rentabilidade dos capitais próprios (ROE), ou o ROTE (que é preferido por alguns bancos), que deve ser tida em conta.  A rentabilidade dos capitais próprios do banco liderado por Paulo Macedo fixou-se 13,1%.

O ROE do BCP fixou-se em 17,7%, mas neste caso, tal como explicou Miguel Maya, o BCP só contabiliza os custos regulamentares (que inclui contribuições extraordinárias para o FdR) no segundo trimestre razão pela qual o ROE é tão alto neste trimestre.

O Novobanco foi quem reportou a maior rentabilidade. O resultado antes de Impostos e de Interesses que não controlam sobre os Capitais Próprios médios fixou-se em 20,3%.

Já o banco liderado por Pedro Castro e Almeida reportou uma rentabilidade dos capitais próprios de 19,70%. O Grupo Crédito Agrícola registou um rácio ROE de 18,40%.

O Banco Montepio, por sua vez, registou um ROE de 15,70% e o BPI reportou uma rentabilidade dos capitais próprios tangíveis de 9,5%.

Outro indicador que surpreendeu no trimestre foi o rácio de capital core, o CET1. O maior rácio de capital core foi apresentado pelo Grupo Caixa Agrícola (20,40%).

A CGD registou um impressionante rácio de CET1 de 19,50%, o que lhe permite, o reembolso antecipado da recapitalização obtida em 2017. O banco liderado por Paulo Macedo adiou recentemente a decisão sobre a distribuição dos dividendos para uma nova assembleia geral de acionistas a decorrer ainda este mês. Isto porque ainda falta conhecer o valor do edifício-sede, que será entregue ao Estado. Tal como disse o presidente da CGD, Paulo Macedo, durante a apresentação dos resultados do primeiro trimestre. O dividendo em dinheiro da Caixa será de 352 milhões de euros – “o maior de sempre” ao qual acresce o valor do edifício sede, que está ainda em avaliação.

O rácio de CET1 do BPI é o segundo maior do sistema com 14,30%. Segue-se o Novobanco com um rácio de 14,10%; depois o BCP reportou um rácio de capital de 13,60%; o Banco Montepio também atingiu um rácio de capital core de 13,60%; e o Santander Totta reportou um rácio de capital CET1 de 13,50%.

Outra tendência da atividade dos bancos no primeiro trimestre é a queda da carteira de crédito. A retração do crédito atravessou todos os bancos, exceto no BPI que registou uma subida da carteira de crédito a clientes de 4%.

O Grupo CA reporta uma queda do crédito (líquido) de 1% face a março de 2022. No comunicado o banco liderado por Licínio Pina diz que face a dezembro de 2022, ou seja nos primeiros três meses do ano, a carteira de crédito (bruto) a clientes do Grupo registou uma redução de 0,7% face a
Dezembro de 2022 (-82,6 milhões de euros) para 11,9 mil milhões de euros.

A maior queda foi no Banco Montepio (-2,30%); seguiu-se o Santander com uma queda no crédito a clientes (líquido) de 2,2% face ao período homólogo do ano anterior. Mas também a CGD assistiu a um recuo de -1,25% e o BCP viu o crédito cair 1,6%. No Novobanco houve uma queda ligeira.

Mas se a subida dos juros justifica a queda da procura de crédito, também do outro lado do balanço as notícias não são mais animadoras para a banca. Os depósitos (onde as taxas sobem mais lentamente) registaram também uma queda generalizada. A exceção aqui é o BCP onde os depósitos subiram 4,30%.

O Santander reportou a maior queda anual dos depósitos. Num ano recuaram 4,9%. Depois surge o BPI com uma queda de 4%; a CGD com 1,20%; o Montepio com uma queda de 0,6% e o Novobanco com um perda de depósitos de 0,16%.

O Grupo CA só reportou os dados do trimestre face a dezembro e nos primeiros três meses do ano perdeu 3,3% em depósitos.

O que não é de estranhar porque os clientes bancários têm canalizado as poupanças para outros produtos mais rentáveis, como os certificados de aforro.

A qualidade da carteira de crédito também é um fator positivo no trimestre, com os rácios de NPL e NPE (ambos de crédito malparado) em percentagem da carteira de crédito a registarem uma redução. Aqui o banco com um rácio mais alto é o Crédito Agrícola com 5%, seguido do Banco Montepio com 4,8% e do Novobanco com 4,4%. O BCP reportou um rácio de NPE de 3,8%. O banco liderado por Miguel Maya revelou mesmo uma redução significativa de ativos não produtivos face a março de 2022. São menos “506 milhões de euros em NPE, 216 milhões de euros em imóveis recebidos por recuperação e 372 milhões de euros em fundos de reestruturação”.

Depois temos a CGD com uma rácio de NPL de 2,5% (2,2% de NPE) e o Santander Portugal com 2,10%. O BPI continua a ser o banco com melhor qualidade da carteira de crédito com um rácio de malparado de apenas 1,6%.

A maior cobertura por imparidades cabe ao Grupo CA com 142,4%. Depois aparece a CGD com 124,7%; o BPI com 96%; o Santander Totta com 87,7%; o Novobanco com 81,3%; o BCP com 71,10% e o Banco Montepio com apenas 58,6%.

O custo do risco do crédito no primeiro trimestre também foi muito positivo. O que está pior aqui é o BCP com um custo do risco de crédito de 0,56%. Segue-se o Novobanco com 0,41%; a CGD com 0,30%; o BPI com 0,20%; o Crédito Agrícola com 0,10%; o Santander com 0% e o Banco Montepio regista o melhor indicador ao ser de -0,50%. Estamos a falar do rácio entre a imparidade do crédito, líquida de reversões do período (valor da demonstração  de resultados) e o saldo médio do crédito a clientes.

Por fim olhemos para o rácio entre custos e proveitos. O melhor rácio de eficiência é o do BCP (31%); depois é o do Santander Portugal (31,3%); segue-se a CGD (33,20%); o Novobanco com 34,60%; o Grupo CA com 45%; o BPI com 45,30% e o Banco Montepio com 50,50%.

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