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Setor da distribuição pressiona Governo para acabar com proibição de venda de álcool a partir das 20 horas

Em entrevista exclusiva ao Jornal Económico, Gonçalo Lobo Xavier, diretor geral da APED – Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição exige do Governo, hoje reunido em Conselho de Ministros, que acabe com esta proibição, calculando que a medida possa provocar prejuízos de 15 milhões de euros. Outro cavalo de batalha é a necessidade de flexibilizar o número máximo de pessoas em lojas, para além das atuais cinco por 100 metros quadrados.
  • Diretor-geral da APED, Gonçalo Lobo Xavier
14 Outubro 2020, 10h40

Em dia de Conselho de Ministros, em que o Governo vai revelar as novas medidas do Estado de Emergência que pretende ver aplicadas no país na próxima quinzena em função da evolução da pandemia de Covid-19, Gonçalo Lobo Xavier, diretor geral da APED – Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição, concedeu uma entrevista exclusiva ao Jornal Económico em que defende a eliminação imediata da proibição de venda de bebidas alcoólicas nos supermercados a partir das 20 horas.

Gonçalo Lobo Xavier calcula em cerca de 15 milhões de euros os prejuízos provocados por esta medida, entre 15 de setembro até ao final de outubro, se ela se mantiver. Perdas a repartir entre o setor da distribuição e os produtores nacionais de vinhos, espumantes e cervejas, sem contabilizar os danos que também estão a sofrer os setores das bebidas espirituosas e as vendas de produtos associados.

Além de que esta proibição, diz o diretor geral da APED, “está a ter um efeito pernicioso”, com a aglomeração de demasiadas pessoas junto às caixas de pagamento dos supermercados, precisamente o contrário do que se pretendia com esta medida em termos de saúde pública.

Quanto à restrição de um máximo de cinco pessoas por cada 100 metros quadrados, o diretor geral da APED pega nos exemplos de Espanha e de França, que têm limites que representam o dobro e o quíntuplo, respetivamente, para exigir ao Conselho de Ministros de hoje, dia 14 de outubro, uma flexibilidade nesta restrição. “Já ficaríamos contentes se o Governo subisse esse limite para oito pessoas por 100 metros quadrados, o que permitiria uma utilização mais racional do espaço das lojas e a distribuição mais equilibrada das pessoas nesses mesmos espaços”, confessa Gonçalo Lobo Xavier.

“Queremos que sejam aprovadas medidas com bom senso e que venham ao encontro da realidade do país. Não podemos penalizar um país inteiro com base em perceções erradas de uma região, como Lisboa. O país é diferente. Penso que insistir neste tipo de medidas restritivas, como a proibição de venda de bebidas alcoólicas partir das 20 horas ou o limite de cinco pessoas por 100 metros quadrados será revelador de um desajustamento e de um certo desconhecimento da realidade por parte do Governo”, defende, em tom bastante crítico, o diretor geral da APED, num recado que vai direitinho para o Governo reunido hoje no Palácio da Ajuda.

Nos últimos dias, tem exigido que o Governo levante algumas medidas restritivas tomadas no âmbito da pandemia que dizem diretamente respeito ao setor da distribuição, como a limitação de venda de bebidas alcoólicas a partir das 20 horas em supermercados ou o limite máximo de cinco pessoas por 100 metros quadrados nestes espaços de consumo. Quais as expetativas de que isso aconteça no Conselho de Ministros agendado para hoje, dia 14 de outubro?
Estamos cientes e conscientes de uma realidade em que o setor nacional da distribuição tem sido um dos principais contribuintes para parar o contágio e para que a economia não pare. Mas temos de ver os casos de sucessos e que estão a correr bem noutros países e desmistificar de uma vez por todas esta questão. A proibição de venda de bebidas alcoólicas nos supermercados a partir das 20 horas foi uma medida pensada para o final do verão, para o final de praia, em que se verificaram muitos ajuntamentos de pessoas. Foi uma medida profilática e mesmo que nós possamos questionar a eficiência prática da medida, nós compreendemos a importância da mensagem naquela altura. Agora, o que não entendemos é que se pretende transformar uma medida que estava focalizada numa data específica e para Lisboa, numa medida que se prolonga por várias semanas e meses para todo o território nacional. O verão terminou, as aulas começaram.

No seu entender e no do setor da distribuição, é uma medida que deixou de fazer sentido…
Claro que sim! Por outro lado, o prolongar desta medida de proibição de venda de bebidas alcoólicas a partir das 20 horas nos supermercados tem efeitos contrários, perniciosos, porque a partir de uma certa hora está a gerar grandes ajuntamentos junto às caixas dos supermercados, com risco evidente acrescido para o que à partida se pretendia evitar. Se querem que as pessoas voltem à sua vida normal, ao trabalho, temos de acabar com esta proibição. É que com esta proibição não é só nos grandes centros urbanos que se estão a acumular pessoas nas caixas do supermercado. É normal que as pessoas ao final do dia de trabalho queiram abastecer as suas casas. E é no período entre as 19 horas e as 19h15m que isso mais acontece, pelo que a proibição de comprar álcool até às 20 horas está a provocar esses ajuntamentos junto às caixas dos supermercados. Defendemos tudo o que o Governo aprovar para manter o horário normal para as pessoas serem abastecidas. Repare que mesmo nos piores momentos do confinamento, o setor da distribuição alimentar em Portugal nunca deixou de funcionar e nunca deixou de alimentar os portugueses. Além disso, esta medida está a provocar quebras acentuadas nas vendas dos produtores nacionais de vinhos e de cervejas, assim como de espumantes. Com esta proibição, apertadas por tempo, muitas pessoas deixam o vinho e as cervejas para trás, mas, pior que isso, algumas, aborrecidas, deixam todas as compras.

A APED já tem um cálculo das perdas provocadas por esta limitação de venda de bebidas alcoólicas a partir das 20 horas em supermercados?
Calculamos as perdas em cerca de 15 milhões de euros, desde 15 de setembro até ao final de outubro, se a medida se prolongar até lá, o que não desejamos.

Mas perdas de que setores, da distribuição, dos produtores, de ambos?
São as perdas que calculámos para nós, distribuidores, mas também para os produtores de vinhos, de cervejas e de espumantes, que são importantes para a economia nacional e que estão a sofrer com esta medida. Ainda para mais num momento em que se mantêm há vários meses as limitações no canal HORECA [Hotelaria, Restauração, Cafetaria]. Não conseguimos calcular com tanto pormenor as perdas que se verificam no setor das bebidas espirituosas. E, depois, há perdas, nas vendas de todos os produtos associados. Por fim, é uma proibição que está a ter um efeito contrário do ponto de vista do pretendido ao nível da saúde pública, porque está a gerar um encontro alargado de pessoas ao final do dia junto às caixas de supermercados. Por isso, pensamos que esta foi uma medida mais populista que outra coisa.

Mas há outras medidas restritivas que a APED pretende que o Governo altere neste Conselho de Ministros, como o limite máximo de cinco pessoas por 100 metros quadrados…
Sim, também defendemos que é preciso retirar as restrições de impedir mais de cinco pessoas por 100 metros quadrados. O que se está a passar hoje em dia é que se assiste a lojas relativamente vazias, com filas de pessoas à entrada para poderem entrar. E isto porque as todas as lojas dos nossos associados se adaptaram, como novos ‘layouts’ de circulação para os clientes, não só no retalho alimentar, mas também no retalho especializado. Procederam a profundas remodelações, disponibilizaram equipamento de proteção individual e álcool gel. E o que está a acontecer é lojas vazias e filas de muita gente à porta, com esta medida das cinco pessoas por 100 metros quadrados. Em Espanha, com mais elevados níveis de contágio, o limite é o dobro, de 10 pessoas por 100 metros quadrados. Em França, depois de uma reavaliação mais apertada, baixaram esse limite para 25 pessoas por 100 metros quadrados, cinco vezes mais que em Portugal. Como vê, não estamos a pedir nada de extraordinário…

Qual seria o limite máximo de pessoas por 100 metros quadrados que a APED considera satisfatório?
Já ficaríamos contentes se o Governo subisse esse limite para oito pessoas por 100 metros quadrados, o que permitiria uma utilização mais racional do espaço das lojas e a distribuição mais equilibrada das pessoas nesses mesmos espaços. Não faz sentido manter esta medida inalterada desde maio. Temos lojas vazias, temos clientes aglomerados às portas das lojas. E, depois, não há uma história de contágio do vírus ocorrido dentro de um supermercado ou de uma loja de roupa, por exemplo, dos nossos associados. Temos de tentar minorar o sofrimento por parte dos operadores do setor da distribuição desde o início da pandemia e tomar medidas que permitam retomar um pouco a economia nacional.

E, no entender da APED, como deve o Governo fazer no setor da distribuição para ajudar a essa retoma da economia nacional?
Queremos que sejam aprovadas medidas com bom senso e que venham ao encontro da realidade do país. Não podemos penalizar um país inteiro com base em perceções erradas de uma região, como Lisboa. O país é diferente. Penso que insistir neste tipo de medidas restritivas, como a proibição de venda de bebidas alcoólicas partir das 20 horas ou o limite de cinco pessoas por 100 metros quadrados será revelador de um desajustamento e de um certo desconhecimento da realidade por parte do Governo.

Recorde-se que a APED tem um total de 167 associados, dos quais cerca de 60 são do retalho alimentar. Em termos de colaboradores, o setor emprega cerca de 130 mil colaboradores, dos quais cerca de 90 mil são do retalho alimentar.

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