No Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários, que tenho a honra de liderar, gostamos de bancos. Outra coisa não seria de esperar. Gostamos particularmente daqueles que criam emprego qualificado, servem as empresas e as famílias, têm fornecedores portugueses e que em Portugal pagam impostos. Bancos com este perfil? Como não gostar?

Mas gostamos também de equipas de gestão competentes e profissionais. E regozijamo-nos com o facto de os comissários políticos inexperientes de outros tempos, estarem hoje, na sua quase totalidade, arredados da gestão da banca.

Gostamos de bancos e somos orgulhosos trabalhadores bancários. Daqueles que têm uma enorme vaidade no que fazem, da instituição de crédito para a qual trabalham e dos clientes, direta ou indiretamente, a que servem.

Naturalmente, gostamos que o ano de 2021 tenha sido muito profícuo para os bancos: lucros em níveis recorde, rácios de capital e de rendibilidade em crescendo e níveis de sinistralidade e de imparidades em baixa.

E antevemos que o ano de 2022 venha a ser mais positivo ainda, o que muito nos satisfaz.

Contudo, há também factos dos quais não gostamos e de alguns deles não gostamos rigorosamente nada.

Não gostamos, para começar, de legislação nacional que impõe uma carga fiscal e regulamentar aos bancos que empregam, servem e pagam impostos em Portugal.

Não gostamos de operadores que, sediados no estrangeiro, aqui operam sem criar emprego relevante, sem pagarem impostos dignos de nota, sem estarem sujeitos exatamente aos mesmos custos de contexto. E também não gostamos mesmo nada que os incautos (eventuais) clientes portugueses destes bancos sediados no estrangeiro tenham que fazer valer os seus direitos num qualquer tribunal lituano caso algo venha a correr mal.

Não gostamos mesmo nada de gestores que procuram apenas o retorno acionista. Sabemos bem que representam os interesses dos acionistas, mas estamos contra a maximização dos interesses acionistas à custa da proletarização e da precariedade dos bancários.

Sim. Medi bem as palavras: proletarização e precarização dos bancários. De que outra forma poderemos entender as propostas de aumentos salariais de 0,4% para 2021 ou 0,7% para 2022, quando a inflação destes dois anos deverá andar perto de 4% e os lucros dos bancos em níveis sem precedentes?

“Shame on you” é uma expressão anglo-saxónica que poderíamos traduzir em português para tenham vergonha. Haja decência. Ou de forma mais coloquial, não façam tristes figuras.

“Shame on you”, bancos integrantes do Grupo Negociador das Instituições de Crédito (GNIC).

Centenas de milhões de euros de lucros em 2021 e o GNIC insiste numa proposta de aumentos salariais de 0,4%?

A banca portuguesa não é isto! Não pode ser isto!

Shame on you!