Desde a Babilónia, Constantinopla e Roma, passando por Londres, Tóquio e Nova Iorque, os constantes fluxos demográficos para as metrópoles levaram a que estas se tornassem grandes centros económicos e culturais. A plataforma Statista calcula que 80% do PIB mundial seja proveniente de cidades, e o Banco Mundial estima que em 2050 dois terços da população mundial viverá em cidades.

O problema inerente a este crescimento é que as cidades não o vencem com o aumento da sua área geográfica, mas sim com o aumento da densidade populacional. Os grandes centros urbanos precisam então de reagir a estes fenómenos demográficos, que condicionam o seu funcionamento, aliando-se às mais recentes evoluções tecnológicas.

Assim, com a chegada de uma nova revolução na indústria (Indústria 4.0), IoT e Internet 5G, crescem as possibilidades de se implementar o conceito das “Smart Cities.

Uma Smart City utiliza tecnologia para tomar decisões eficientes, aumentando a qualidade de vida dos seus habitantes e usando do mínimo de recursos possíveis. Isto significa ter redes eficientes, nomeadamente de transporte, habitação, segurança, energia e administração.

As aplicações reais divergem e já podem ser encontradas em muitas cidades, como são exemplos: a melhoria das redes energéticas e de gestão de resíduos em Barcelona, ou em Singapura, onde 94% dos serviços administrativos são feitos online. A plataforma Statista projeta que o mercado para soluções de Smart Cities cresça 251% entre 2019 e 2030.

Uma cidade com potencial para ser inteligente necessita de grande penetração de rede móvel, rápida internet e bastantes conexões dos habitantes. Isto para assegurar a existência de uma forte cadeia de informação, que se distingue em várias fases: recolha, tratamento, armazenamento, análise e aplicação.

Existe, porém, uma maior resistência nos países desenvolvidos, principalmente na Europa, quanto à utilização dos dados pessoais. Cada cidadão demora mais tempo a reconhecer os potenciais benefícios do uso da informação, muito pela utilização errática e abusiva de dados pessoais a que temos assistido na última década, tanto do lado do setor tecnológico como público.

Nas Smart Cities os cidadãos poderão usufruir de benefícios práticos no seu quotidiano, mas isso começa com a aceitação e envolvimento de cada cidadão, na clarificação dos processos de utilização dos dados pessoais, em especial pela sua anonimização: Quem os recolhe? O que recolhe? Quem tem direito a usar? Para que finalidade? O cidadão deve ser informado e educado.

Cabe, também, aos líderes de cada cidade definirem os planos e projetos urbanos que ofereçam valor de forma equitativa. No entanto, o maior desafio que as cidades ocidentais têm em mãos é garantir a confiança dos seus habitantes. Não haverá “Smart Cities” enquanto nos sentirmos observados no “telescreen”, e esta mudança de paradigma não deve ser encarada como um passo em direção ao “Big Brother”.

O artigo exposto resulta da parceria entre o Jornal Económico e o ITIC, o grupo de estudantes que integra o Departamento de Research do Iscte Trading & Investment Club.