Avant-propos

Eutanásia ou morte feliz, palavra oriunda do grego antigo, traz consigo uma certa ambiguidade. Na Antiguidade tinha sobretudo um cunho ético, referindo-se a quem tinha morrido de um modo natural mas com honra. Tal como o nascimento, que carrega consigo alguma dor, tanto da mãe como do recém-nascido, a morte também a traz na maioria dos casos. Na actualidade instalou-se um pânico da dor. O problema parece ser este mas não o é.

Existem duas considerações de ordem ético-legal neste problema tão em voga. A eutanásia, aprovada, por exemplo nos Países Baixos e na vizinha Bélgica, agora aqui, começa também a fazer ruído nas bocas dos franceses em nome de liberdades tão vagas como os raciocínios apontados.

1ª consideração

A eutanásia ou “suicídio assistido”, para se fugir ao termo homicídio, é a indução da morte num corpo que oficialmente diz não querer viver mais. Bem: por que motivo, então não se suicida pelas próprias mãos? Por ser católico? Mas dizem ser suicídio assistido. Então, é pecado mortal também. Não pode mexer-se? Pode falar para pedir? Poderá muitas vezes. Não há remédios paliativos para lha aliviarem a dor até morrer naturalmente?

Família e médicos dir-lhe-ão que vai sofrer muito e que é melhor acabar com tudo, que um simples abanar positivo de cabeça e, já está, o processo a andar. Poupa-se dinheiro ao Estado e a família vê-se livre de um “ente querido, que, coitadinho, estava a sofrer tanto” e que, às vezes, deixa dinheiro! Quanto mais cedo, melhor, não é?

Isto, quer queiram quer não, é homicídio. E eu que julgava que nestes países não havia pena de morte!  Qualquer dia, será geral. Já ouvi dizer aqui e no Reino Unido: “Ai, não, pena de morte, nunca, a não ser para certos casos”. Ah! Ao que chegou a burrice das pessoas! Não lhes ensinaram que a lei tem de ser geral? Que as excepções tiram o valor de lei? Faz mal ter deixado de haver um disciplina de Introdução à Política ou à Democracia ou qualquer coisa do género; o que é isso da cidadania, afinal? Vê-se o resultado!

Esta, de que vos falei, é a eutanásia positiva que leva a um acto externo, uma injecção, por exemplo, que provoca uma morte. É crime, terá de ser, segundo a lei mas as pessoas, levadas por fantasias de liberdades de “quero escolher” (o quê?), “quero voar”, como vi num filme espanhol um jovem doente num sonho da sua pré-eutanásia, a voar sobre os mares… Mas isto é perigosíssimo! A morte não é uma brincadeira. Se quiserem usar da Liberdade, escolham uma forma de governo que vos garanta paliativos adequados até à morte.

2ª consideração

A chamada eutanásia negativa. Vi e ouvi há pouco tempo num canal francês um interveniente a dizer que não queria acabar como um vegetal. Usa-se muito esta imagem; ridícula, creio. Não sei, não sabemos se o estado de coma, daqueles que dele não regressam, é agradável ou não. Porém, compreendo que uma pessoa que, segundo as avaliações actuais da ciência médica, não revela sinais de vida cerebral e que, ligada a uma máquina para que o coração bata, esta ao fim de uns tempos seja desligada: eutanásia negativa.

Aqui não houve a intervenção de uma injecção letal, logo, não houve homicídio. Lembram-se de a Grace do Mónaco estar ligada a uma máquina durante meses e de os médicos dizerem que ela não voltaria a pensar nem a sentir? Desligou-se a máquina e ninguém falou de eutanásia avant la lettre nem de ela ser um vegetal.  Outra coisa que também se refere é a de se ter uma morte decente e digna. Que enormidade é essa? Se um doente terminal está sujo, limpa-se ou merece ser morto por isso? Paralelamente, mata-se um recém-nascido por estar sujo de sangue ou mais tarde por estar mal da barriga e sujar as fraldas?

Eis-nos chegados a um dos problemas actuais que está também no centro de tudo, embora ninguém o admita. Ninguém admite estas coisas: o preconceito. A juventude, sim, os mais velhos, é acabar com eles!

Existem dois grandes mitos hoje em dia, o da eternidade (faz jogging, come legumes, anda de bicicleta, etc. ) e o da morte por eutanásia. Já repararam como são contraditórios?

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.