Sócrates recebe domingo mais de 100 “amigos” em Évora

O ex-primeiro ministro José Sócrates está preso preventivamente há mais de 60 dias, durante os quais falou à comunicação social, entrando em conflito com as suas próprias declarações dadas em entrevistas em 2013. São dois os autocarros que rumam à porta do Estabelecimento Prisional de Évora no próximo domingo. A iniciativa está a ser organizada […]

O ex-primeiro ministro José Sócrates está preso preventivamente há mais de 60 dias, durante os quais falou à comunicação social, entrando em conflito com as suas próprias declarações dadas em entrevistas em 2013.

São dois os autocarros que rumam à porta do Estabelecimento Prisional de Évora no próximo domingo. A iniciativa está a ser organizada por um empresário da Covilhã, “amigo de longa data” de José Sócrates. Até ao fecho desta edição já se tinham inscrito cem pessoas para participarem numa ação solidária para com o ex-primeiro ministro, que ali se encontra detido preventivamente.

A iniciativa, marcada para as 15 horas em frente à cadeia de Évora, é organizada por um empresário covilhanense, que apresenta esta ação como “uma onda de solidariedade, absolutamente apartidária, pacífica e respeitadora”.
“Vamos lá porque somos amigos de José Sócrates. Porque somos de uma região que muito lhe deve e porque queremos manifestar-lhe a nossa solidariedade e dar-lhe o nosso abraço mais fraterno e sincero”, disse à agência Lusa o promotor, José António Pinho.

O empresário explica ainda que cada um dos participantes pagará o próprio bilhete de autocarro, no valor de 12 euros.
O organizador adianta ainda que já tem a confirmação de que será autorizado a entrar no Estabelecimento Prisional para visitar o amigo e dar-lhe conta da mensagem das restantes pessoas.

José Sócrates cresceu e iniciou o percurso profissional e político na cidade da Covilhã, da qual recebeu a Chave da Cidade e a Medalha de Ouro de Mérito Municipal no dia 20 de outubro de 2014. Na cerimónia, o ex-primeiro ministro afirmou que recebia aquela homenagem com “muita emoção”, porque “nada se compara a uma distinção que testemunha a estima que um político recebe dos seus próprios conterrâneos”.
José Sócrates foi detido a 21 de novembro, no aeroporto de Lisboa, depois de uma viagem desde Paris. O ex-chefe do Governo está indiciado de branqueamento de capitais, fraude fiscal qualificada e corrupção e preso preventivamente no Estabelecimento Prisional de Évora desde o dia 25 de novembro.

A verdade de Sócrates
José Sócrates, ao longo dos últimos anos, tem acusado a generalidade da imprensa de o difamar, colando o nome dele a vários casos polémicos. Mas, o OJE foi rever as declarações de Sócrates desde que voltou de Paris, onde esteve a estudar. Ora na entrevista de 28 de março de 2013, à RTP, o ex-primeiro ministro disse que depois de perder as eleições queria “cumprir um ano sabático, viver no estrangeiro e estudar”. Ao longo desses dois anos, “reparei que um jornal, o Correio da Manhã, me fez uma campanha ignóbil, dizendo a propósito da minha vida em Paris várias mentiras, que eu tinha uma vida de luxo, isso é mentira”. Já na entrevista dada ao Expresso, a 23 de outubro de 2013, disse acerca da sua estadia em Paris: “Nem sabia que existiam vidas assim, vidas tão boas. Nunca tinha tido uma vida dessas”.

Quanto à forma como conseguiu ter dinheiro para estudar sem trabalhar, Sócrates explica em março que a “primeira coisa que fiz quando saí de primeiro-ministro foi pedir ao meu banco um empréstimo para ir viver um ano para Paris, sem nenhuma responsabilidade, ao nível profissional”. Já em outubro do mesmo ano dizia: “Quando perdi as eleições, telefonei à minha gerente de conta e pedi um empréstimo ao banco de 120 mil euros. Um ano sem nenhuma responsabilidade e levando um filho comigo. Gastei o dinheiro todo. Assim fui para Paris, em vez de, mais uma vez, pedir dinheiro emprestado à minha mãe”.

Ora, foi o dinheiro da mãe de Sócrates que levou às suspeitas. Se na entrevista ao Expresso, em outubro de 2013, o ex-governante dizia: “Quando o meu avô morreu, a minha mãe herdou uma fortuna, muitos prédios, andares, que ainda hoje ela não sabe o que fazer com eles, quem tratava disso era o meu irmão. Conseguiu vender dois andares em Queluz que estavam ocupados”. Mas, já este ano, enquanto detido preventivamente, na entrevista à TVI Sócrates escreveu: ”Respondo à questão da venda do apartamento da Rua Braamcamp, já que a venda dos outros dois (no Cacém) foi conduzida pelo meu falecido irmão e não tenho ainda comigo todos os elementos (…)”. Ou seja, os “muitos prédios”, passaram a três apartamentos. Por outro lado, ainda na entrevista ao Expresso Sócrates diz que a mãe “vivia em Cascais, numa moradia”, a qual, na entrevista da TVI passou a um “ apartamento que tem em Cascais”.

Os casos polémicos
A prisão aconteceu anos depois de Sócrates ter aparecido na comunicação social ligado a vários processos polémicos. Mas acabou por ser a venda da casa da mãe, na Rua Castilho, em Lisboa, que levantou as mais recentes suspeitas. Um deles foi o caso Freeport. Iniciado em 2004, com uma denúncia anónima à Polícia Judiciária de Setúbal sobre um alegado pagamento de “luvas”, o caso arrastou-se até 2012 sem resultados. José Sócrates nunca chegou a ser arguido. A conclusão da licenciatura em Engenharia Civil dada pela Universidade Independente, em 1996, foi outra polémica que o envolveu em 2007, durante o seu primeiro Governo. O diploma do curso tem a data de um domingo e as notas de quatro exames finais foram lançadas no mesmo dia de agosto. Em 2010 soube-se ainda que Sócrates foi projetista e responsável por 26 obras na Guarda entre 1987 e o final de 1990, numa altura em que era deputado em exclusividade pelo PS. E no caso da Face Oculta, em que Armando Vara, ex-ministro socialista e ex-administrador da CGD e do BCP, foi condenado a cinco anos por tráfico de influências, também surgiu o nome de José Sócrates. O nome do ex-governante esteve ainda envolvido na suposta a tentativa de compra da TVI pela PT.

 

Carlos Caldeira/Lusa

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