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Sogevinus aposta em garrafas ‘leves’ e redução do consumo da água e da luz

A empresa já está certificada pela SATIVA com o selo de Produção Integrada (Certificação dos Produtos Agrícolas e dos Géneros Alimentícios Derivados de Produtos Agrícolas Obtidos através da Prática da Proteção Integrada e da Produção Integrada).
3 Abril 2022, 20h30

Esta é a sexta de uma série de entrevistas integrada num trabalhado alargado desenvolvido pelo Jornal Económico sobre a sustentabilidade no sector dos vinhos do Porto e do Douro. Após as entrevistas em versão integral ao presidente do IVDP – Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, Gilberto Igrejas; a uma fonte oficial da Quinta da Aveleda; a Tiago Alves de Sousa, diretor de produção e enólogo da Quinta da Gaivosa; a Raquel Seabra, Chief of International Cluster and Sogrape Public Affairs; a Tomás Roquette, administrador da Quinta do Crasto; e a Paulo Coutinho, enólogo e diretor de produção da Quinta do Portal, esta semana é a vez de Pedro Braga, diretor de operações da Quinta de São Luiz, pertencente à Sogevinus, detalhar os projetos que a empresa lançou e tem em curso neste domínio.

Ao longo das próximas semanas, será ainda possível acompanhar no ‘site’ do Jornal Económico outras entrevistas aos responsáveis de alguns dos maiores produtores da região e do País, como a The Fladgate Partnership, além de testemunhos sobre o que cerca de outros 20 produtores da região estão a fazer ou a perspetivar no domínio da sustentabilidade.

Pedro Braga assinala que a Sogevinus tem aplicado práticas sustentáveis da vinha ao vinho, dando vários exemplos, como a utilização de garrafas mais leves ou a redução dos consumos de água ou de eletricidade. “As práticas sustentáveis mantêm-se, e vão continuar a ser implementadas, de forma a cumprir objetivos cada vez mais exigentes mas necessários para garantir uma adequada preservação dos recursos”, defende.

Que tipo de medidas de sustentabilidade ambiental têm implementado e quando e porque é que optaram por este caminho?
Na Sogevinus, estamos comprometidos com o futuro e ao longo dos anos temos vindo a implementar práticas sustentáveis em toda a cadeia de valor – da vinha ao vinho – sendo atualmente certificada pela SATIVA com o selo de Produção Integrada (Certificação dos Produtos Agrícolas e dos Géneros Alimentícios Derivados de Produtos Agrícolas Obtidos através da Prática da Proteção Integrada e da Produção Integrada).

De que forma é que estas medidas de sustentabilidade ambiental se têm refletido na sustentabilidade económica da empresa e como é que essa vertente tem evoluído nos últimos anos?
Relativamente aos resíduos produzidos em 2019, a Sogevinus reciclou 97% dos seus resíduos num total de 125,15 toneladas. Detemos também, desde 2018, a Declaração Oficial de Pegada de Carbono Evitada, emitida pela Sociedade Ponto Verde, onde neste mesmo ano, declara que a empresa evitou a emissão para a atmosfera de 366,12 tCO2, o que corresponde a menos de 3.322,15 mil quilómetros percorridos de carro.

Ainda neste âmbito, a Sogevinus iniciou em 2020 um projeto de ‘garrafas leves’, garrafas com peso máximo de 420 gramas, que são atualmente expedidas para mercados como o Canadá. O objetivo é expandir esta reconversão e aplicá-la aos restantes mercados, contribuindo assim para a diminuição da pegada de carbono.

Quais os novos projetos que têm em curso e em perspetiva para 2021 e anos seguintes?
As práticas sustentáveis mantêm-se, e vão continuar a ser implementadas, de forma a cumprir objetivos cada vez mais exigentes mas necessários para garantir uma adequada preservação dos recursos.

Continuamos a aposta na reconversão da vinha e replantação tanto de castas que se têm mostrado mais resistentes às alterações climáticas como também de castas minoritárias, preservando o património natural da região. Continuaremos a aposta no corte de infestantes entre linhas e taludes de forma a evitar a erosão, aumentar a capacidade de absorção de água e manutenção da matéria orgânica no solo que durante a floração serve de alimento à fauna. Mantém-se igualmente a instalação de corredores ecológicos, que servem de abrigo e disponibilizam alimento ao ecossistema e servem de ligação a matos envolventes, bem como a não mobilização dos solos, para manter um coberto vegetal que retém a humidade, beneficiando a vida e biodiversidade vegetal e animal, assim como com a melhoria da transitabilidade das máquinas. A opção de não mobilizar os solos de uma vinha, por exemplo, optando pelo enrelvamento natural ou semeado, promove o combate à erosão, conserva a humidade e aumenta a fertilidade. A contribuição direta destes cobertos vegetais nas vinhas, ajuda a um aumento da diversidade de insetos, muitos com papel fundamental por serem predadores de potenciais pragas, tornando-se também parte essencial duma cadeia alimentar que passa pelas aves, répteis e mamíferos.

Ao nível das adegas e das linhas de produção, estamos cada vez mais comprometidos com a redução do consumo de água e de luz, traçando objetivos cada vez mais exigentes na sua utilização responsável.

Também os centros de vinificação possuem um papel muito importante na atividade da empresa, pelo que a Sogevinus não descura o tratamento interno dos efluentes produzidos nesses locais, equipados com ETAR (estações de tratamento de águas residuais). Dando seguimento à sua política de sustentabilidade, num dos centros de vinificação, a água do rio é aproveitada através de uma estação de captação superficial do rio Douro, que é de seguida tratada numa ETA (estação de tratamento de água).

Relativamente aos materiais de embalagem, como as garrafas, por exemplo, existe a preocupação de utilizar objetos mais leves, assim como na racionalização do uso da energia e nos cuidados ao nível da eficiência energética, nomeadamente: pela substituição da iluminação por sistemas de iluminação de tecnologia LED; utilização preferencial de luz natural como claraboias; pela instalação de sensores de presença em zonas de passagem ou espaços menos frequentados, para que a iluminação seja desligada automaticamente na ausência de movimento; e ainda pela procura de cores claras na pintura de paredes e tetos, uma vez que são as que apresentam melhores condições de reflexão permitindo, desta forma, restituir uma parte importante da luz emitida pelas lâmpadas.

Resumindo, para futuro, em área de sustentabilidade estes são os projetos abertos para os próximos anos: uso eficiente da rega, estratégia e tecnologia disponível para a vinicultura duriense; sustentabilidade económica das explorações; aumento e eficiência da mecanização nas tarefas vitícolas; aposta na agricultura de precisão; introdução/divulgação de equipamentos de auxílio às tarefas manuais e aposta na sua ergonomia; qualificação/criação na região de cursos profissionais para operadores de máquinas agrícolas (fundamental para uma viticultura mais moderna e mais eficiente); sustentabilidade ambiental; trabalho em rede na modulação para pragas e doenças; aumento e partilha da monitorização do solo, da cultura e do clima (sensorização); e difusão de práticas culturais de baixo impacto ambiental, capazes de responder à redução de substâncias ativas.

Como é que os vinhos resultantes destas medidas de sustentabilidade ambiental chegam ao consumidor de forma diferenciada em termos de perceção e de preço relativamente aos restantes?
A aposta da Sogevinus tem passado essencialmente pela implementação e consolidação destas práticas sustentáveis na sua cadeia de valor, garantindo ao consumidor vinhos que respeitam o seu ‘terroir’ de origem, refletem a pureza do fruto e demonstram uma qualidade consistente ao longo dos anos.

Na rotulagem dos nossos vinhos tranquilos DOC Douro iremos, no futuro, incluir a certificação da SATIVA com o Selo de Produção Integrada. Ao nível do Vinho do Porto, a nossa aposta passa também por comunicar a produção de todos os Vinhos do Porto com designação ‘vegan’ com a abolição do uso de produtos de base animal. Por fim, continuaremos a apostar no desenvolvimento de parcerias com diversas entidades, atividades de IDI [Investigação, Desenvolvimento & Inovação] nas áreas de otimização e uso sustentável de recursos, do qual destacamos como projeto mais recente o projeto com a ADVID EyesOnTraps+ como modelo de monitorização de pragas e apoio à decisão. Estes projetos são uma forte aposta na nossa estratégia e são comunicados de forma oportuna.

Quais os dados mais recentes sobre a atividade da empresa?
A pandemia Covid-19 em março de 2020 conduziu a uma quebra de faturação no final do ano 2020 de 7,2 milhões euros face a 2019 (-20%), atingindo-se assim o volume de negócios no valor de 30,2 milhões de euros. No mercado nacional, 2020 fez-nos recuar para números idênticos aos de 2015 nas vendas de Vinho do Porto e aos de 2018 nas vendas de Vinhos DOC.

Durante o confinamento, com o encerramento dos aeroportos, hotelaria, garrafeiras e restauração, dois terços do nosso negócio deixaram de existir e passámos a depender apenas do negócio do ‘Off Trade’ (Hipers e Supers como o Continente, Pingo Doce, Minipreço) que apenas representa um terço das nossas vendas e onde o ‘mix’ (tipo de produtos vendidos) é bem mais penalizador para a Sogevinus, uma vez que as vendas são maioritariamente de gamas ‘standard’.

No entanto, apesar deste cenário, mantivemos a apresentação ao mercado da nova edição de Kopke Winemakers Collection Rosé, tendo sido vendidas todas as garrafas em apenas um mês. No ‘Off Trade’, decidimos manter o plano de lançamento de novos produtos, com Velhotes LBV em junho, e de Barros Singular Reserve em julho, lançamentos esses que contribuíram para que no final do ano, para além da já habitual liderança em volume juntássemos pela primeira vez, a liderança em valor para Velhotes e para a Sogevinus, destronando Ferreira e a Sogrape em Vinho do Porto (encerrámos 2020 com 35,0% quota de mercado em volume vs 28,6% da Sogrape e com 31,4% quota de mercado em valor vs 29,6% da Sogrape).

O ano de 2020, apesar da situação pandémica, foi de excelentes resultados para as vendas da exportação, que cresceram relativamente a 2019 em cerca de 5%, aumentando assim a quota de mercado da Sogevinus em Vinho do Porto em quase todos os principais mercados.

Destacou-se o desempenho positivo em valor absoluto da Dinamarca (+24%) e Holanda (+4 %), com o impacto do crescimento das vendas em cadeias de supermercado (atual tendência de mercado), com principal destaque para o novo cliente dinamarquês (Coop). Nos outros mercados, também se verificou uma ‘performance’ positiva, essencialmente nos países da saudade, Espanha (Mercadona), e Coreia do Sul, com o excelente desempenho da marca Kopke. Nos EUA, apesar da situação atual, conseguimos reestruturar a empresa de forma a que possa iniciar o projeto de crescimento neste mercado de uma forma saudável e equilibrada financeiramente.

Em termos de áreas de atividades, o turismo foi a mais afetada pelos condicionalismos impostos pela situação pandémica, registando uma quebra de cerca de 5,1 milhões de euros relativamente a 2019. Esta quebra de cerca de 74% teve grande impacto no resultado final da empresa. Quanto ao Vinho do Porto e Vinho DOC, tivemos também uma quebra de cerca de 2,1 milhões euros e de 300 mil euros, respetivamente, essencialmente, pelo impacto da situação dos aeroportos, hotelaria, garrafeiras e restauração, principalmente no mercado nacional. Destaca-se, também, o crescimento do recente projeto de ‘E-commerce’, que atingiu a faturação de cerca de 160 mil euros em 2020, indo ao encontro do forte aumento da procura e oportunidades do negócio ‘online’.

 

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