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Solskjaer, de velha glória do Manchester United a “emprestado” para substituir Mourinho

Direção dos red devils quer “unir jogadores e adeptos” para o resto da época. “Ole é uma lenda do clube com uma grande experiência, tanto em campo como no papel de treinador”.
  • EPA/GEOFF CADDICK
  • Ole Gunnar Solskjaer, 29 anos, em 19 de janeiro de 2002

  • Ole Gunnar Solskjaer, de 36 anos, em 15 de julho de 2006

  • Ole Gunnar Solskjaer, de 38 anos, em 2 de agosto de 2008

  • Ole Gunnar Solskjaer, de 40 anos, em 28 de janeiro de 2014

  • Ole Gunnar Solskjaer, de 41 anos, em 11 de maio de 2014

  • Ole Gunnar Solskjaer, de 45 anos, em 16 de agosto de 2018

20 Dezembro 2018, 09h20

O antigo avançado do Manchester United Ole Gunnar Solskjaer, de 45 anos, é o novo treinador do clube inglês. O norueguês assumiu na quarta-feira, 19 de dezembro, o cargo de treinador da equipa principal de Old Trafford, de forma interina, até ao final da época 2018/2019, na sequência do despedimento do português José Mourinho.

 

Mas a chegada de Solskjaer a Manchester pinta um cenário pouco comum no futebol: Baby Face (cara de bebé, em português) nome pelo qual era conhecido dentro das quatro linhas, chegou ao Teatro dos Sonhos por “empréstimo” dos noruegueses do Molde.

Com a saída de Mourinho, pelos maus resultados e fracas exibições e após o português ter assumido que o título inglês já não era possível – que restaria apenas a luta por um quarto lugar -, a direção do Manchester United colocou-se em campo para, num prazo de 48 horas, encontrar um treinador interino.

Os critérios? Alguém que conhecesse bem o futebol inglês e o Manchester United e que pudesse “construir” jogadores, trouxesse um discurso positivo e que contribua para que a equipa permaneça unida, sem promover uma cultura de culpabilização de maus resultados e fracas exibições.

A resposta estava na Noruega, em Ole Gunnar Solskjaer que representou o Manchester United por 11 épocas, todas sob o comando do lendário Alex Fergunson, a quem chamava respeitosamente de “Boss” (chefe, em português).

O problema – que afinal não representou celeuma algum – é que Solskjaer estava no comando técnico do Molde FK, mas o clube da primeira liga da Noruega viu no interesse do Manchester United uma oportunidade de se popularizar.

“Que o Manchester United peça ao Molde para emprestar o treinador é, por si só, um evento. Esta é uma grande oportunidade para o Molde, pensamos que vai ajudar a desenvolver e a colocar o clube no mapa do futebol”, afirmou Øystein Neerland, diretor executivo do clube norueguês.

Desta forma, Solskjaer passou a ser o treinador interino dos red devils (alcunha pela qual os adeptos do Manchester United são conhecidos) até maio deste ano, pelo menos até o clube inglês encontrar um sucessor em definitivo para Mourinho. Enquanto Solskjaer fica em Old Traffard, o Molde será orientado por Erling Moe.

Para Solskaer a oportunidade concedida é irrecusável, mas o Baby Face já garantiu que não vai deixar de acompanhar o Molde, clube para onde voltará no verão. “É uma oportunidade que tinha de aproveitar. Estou ansioso por liderar o Manchester United. Mas vou acompanhar de perto o que acontece em casa. Temos a época planeada, ponto por ponto, e temos esperança de fazer uma boa temporada. Quero ainda agradecer ao clube pela oportunidade”, disse o treinador, em declarações ao site do Molde.

Ao sítio do clube inglês, Solskjaer afirmou: “O Manchester United está no meu coração e é fantástico estar de volta neste cargo. Estou ansioso para trabalhar com a talentosa equipa que temos, a equipa técnica e todos no clube”.

Este é assim um sonho tornado realidade para o noruguês. O seu amor pelo clube nunca foi escondido. Em 2017, numa entrevista ao “Manchester United Scandinavian Supporter Club” ,quando questionado se estaria interessado em treinar o clube de Old Trafford a resposta foi: “Para ser honesto, sim, eu gostaria, e neste momento até estou com arrepios [só de pensar nisso]”.

Ole Gunnar Solskjaer não será manager, será apenas o treinador principal. Para toda a coordenação e gestão do plantel do Manchester United, a direção criou uma equipa comandada por este norueguês, mas que inclui o experiente Mike Phelan, com quem Ole partilhará o cargo de treinador interino. O antigo jogador do clube Michael Carrick e Kieran McKenna compõe a resto da equipa técnica interina.

A direção dos red devils, no atual momento, quer “unir jogadores e adeptos” para o resto da época. “Ole é uma lenda do clube com uma grande experiência, tanto em campo como no papel de treinador. A sua história no Manchester United significa que ele vive e respira a cultura daqui e todos no clube estão encantados pelo seu regresso, bem como o de Mike Phelan. Estamos confiantes de que eles vão unir os jogadores e os torcedores enquanto entramos na segunda metade da temporada”, afirmou o vice-chairman do Manchester United, Ed Woodward.

Mas porquê escolher Ole?
Enquanto treinador de futebol, Solskaer tem um currículo “curto”: orientou a equipa de reservas do Manchester United, de onde partiu para o Molde. Liderou o Cardiff City mais tarde, onde os insucessos e a relegação para a segunda liga inglesa ditou o regresso de Ole ao Molde. No seu palmarés de treinador, apenas dois campeonatos e uma Taça da Noruega.

A pergunta é legítima, que “cartas” tem Solskjaer para dar um “salto” para um dos colossos europeus, ainda que “adormecido”? O seu historial não é resposta, mas o trabalho que está a fazer com o Molde têm sido elogiado no mundo do futebol, o que justificará a aposta do clube de Manchester.

O Molde de Solskjær não perdeu nos últimos dez jogos para o campeonato nortuguês nesta temporada, e o agora sucessor interino de Mourinho é reconhecido como um treinador profissional e resoluto.

E o que têm feito no Molde pode vir a ser comparado como um caso de estudo. Na Noruega, tomou a iniciativa de comparar publicamente os seus jogadores com as lendas do Manchester United dos idos 1980 e 1990. E o que era uma brincadeira acabou por funcionar – poderá ser isso que a direção do Manchester United quer de Solskjær, uma mudança na cultura de trabalho.

Quanto às comparações entre o United de outrora e o Molde, a lista é longa: O jovem atacante Erling Braut Håland, filho do antigo médio do Manchester City Alf-Inge Håland, foi descrito como “Romelu Lukaku”, enquanto os veteranos Magne Hoseth e Daniel Berg Hestad foram apelidados a “[Ryan] Giggs e [Paul] Scholes”. No Molde, Solskjær criou uma atmosfera vencedora, que sem eufemismos evidenciou uma equipa táticamente flexível. Em 2018, a equipa do Molde atuou entre um 4-3-3 e um 4-2-3-1, embora o 4-4-2 tenha sido o esquema mais utilizado por Ole. Um 3-5-2 também foi testado.

Outro dado em favor de Solskjaer é o que o antigo avançado simboliza para os adeptos do Manchester United. Ao longo de 11 temporadas como jogador do Manchester United, Baby Face conquistou tudo o que havia para ganhar, sendo que 126 golos foram da sua responsabilidade.

“Matador com cara de bebé”
O golo mais especial poderá ser símbolo da resiliência do Manchester United, no que respeita ao fracasso desportivo – ainda para mais numa altura de escassez de títulos após a reforma de Fergunson. Nas onze época que passou a correr no relvado de Old Trafford, Ole só conheceu Alex Fergunson como treinador. O mesmo treinador que demorou sete anos até conquistar o primeiro campeonato da sua era para o Manchester United (o primeiro do clube ao fim de 27 anos, o último fora em 1967) e que só em 1999 conseguiu fazer com que o clube inglês voltasse a erguer um troféu da Liga dos Campeões.

A final dessa Champions, a 26 de maio de 1999, foi imprópria para cardíacos. Os red devils estavam a perder por 1-0 desde o minuto ‘5, frente a um poderoso Bayern de Munique, quando no tempo de compensação os ingleses deram a volta no marcador e conseguiram erguer o tão ansiado troféu – a última vez que o clube o vencera foi em 1968. Teddy Sheringham marcou o golo do empate, no minuto ’91 e Solskjaer, que entrara em campo como suplente utilizado ao minuto ’81, marcou o golo da vitória ao minuto ’93.

Desde a glória alcançada em 1999, que Solskjaer se tornou numa espécie de jogador-trunfo. A maioria dos 126 golos apontados em 366 jogos, muitas deles decisivos, muitas vezes depois de sair do banco, e dado o seu rosto com traços muito joviais para idade, deram-lhe a fama de “matador com cara de bebé”.

O percurso do antigo avançado recheou-se de troféus, embora sucessivas lesões num joelho tenham impedido que o jogador demonstrasse mais de si individualmente dentro de campo.

Após ter conquistado o sexto campeonato da Premier League com o Manchester United, onde chegou em 1996 vindo do Molde, Solskjaer, que começou a sua carreira sénior em 1990, no desconhecido Clausenengen e chegou a ser internacional da Noruega, pendurou as chuteiras em 2007.

 

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