No sexto dia da campanha eleitoral, mais do que as opções estratégicas que cada um dos partidos defende, os momentos sucedem-se com questões laterais e, claro, com o tema da governabilidade, que ocupa tempo para perguntas e respostas, análises, comentários. Como iniciador de tudo, uma declaração ou uma sondagem bastam para condicionar o dia.
Como tem acontecido, o Jornal Económico destaca três momentos.
Primeiro momento
Num encontro do PS anunciado como sendo com personalidades independentes, realizado em Lisboa, a antiga atleta e campeã olímpica Rosa Mota rotulou o presidente do PSD, Rui Rio, de “nazizinho”, ao comentar a prestação do agora candidato a primeiro-ministro quando era presidente da câmara do Porto. “Aquela parte dele que – ia dizer uma palavra, mas é feia, não se pode – ele é que manda, é um nazizinho, e o resto põe de lado”, disse Rosa Mota, num encontro onde participou o secretário-geral do PS, António Costa. Não foi a única a criticar a gestão social-democrata do Porto, entre 2002 e 2013, sendo secundada pelo escritor Valter Hugo Mãe. “Sou do Porto e atravessei o inverno cultural que foi ter Rui Rio a comandar os destinos da cidade”, declarou o escritor.
Rui Rio, que acabou por visitar a Figueira da Foz, reagiu ao que se passou em Lisboa dizendo que se trata de um insulto e que António Costa “é que sabe quem mete dentro da sala”, acusando também os socialistas de fazerem uma campanha baseada na deturpação do que diz.
António Costa foi confrontado com o atirado “nazizinho” já quando participava numa ação de rua na Guarda e demarcou-se da expressão, dizendo que “cada um fala por si, eu falo por mim e nunca utilizei essa expressão”, mas não sei antes ter elogiado Rosa Mota – “é uma pessoa muito querida de todos os portugueses, uma campeã que deu muitas alegrias” – e de agradecer o apoio dado – “estou muito grato pelo apoio que ela me deu, estou muito grato pelos apoios de todos os cidadãos e cidadãs independentes”.
Uma nota só para referir que Rosa Mota já integrou as listas de deputados do PS à Assembleia da República.
Segundo momento
Esta sexta-feira acabou por ficar marcada pela divulgação de uma sondagem do Centro de Estudos de Sondagens de Opinião da Universidade Católica para a RTP, Antena 1 e jornal Público, que mostra uma quebra do PS, uma aproximação do PSD, mas, também, um empate técnico entre quatro partidos na corrida particular ao título de terceira força mais votada, com o Chega a surgir nessa posição, com uma estimativa de 6%, seguindo-se CDU, BE e IL, todos com 5%.
Depois da disputa ter sido referida, por diversas vezes, pela coordenadora do BE, Catarina Martins, e também pelo presidente do Chega, esta sexta-feira, André Ventura congratulou-se por ser a terceira força política, isolada, de acordo com a sondagem; o presidente da IL, João Cotrim de Figueiredo, reagiu afirmando-se um pouco divertido por ver o número de partidos na disputa do terceiro lugar; a porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, também comentou, mas para desvalorizar o estudo que lhe aponta apenas 2%.
Percentagens são uma coisa, número de deputados é outra e esta contabilidade é importante para o pós-eleições, quando se negociará a governabilidade do país. Olhando para os valores médios que nos dão a sondagem, relativamente aos mandatos, percebemos que o PS se mantém, pelo menos por agora, consistentemente na frente, mesmo que com o PSD mais próximo. Depois, percebemos que a “eco-geringonça” – que juntaria PS, PAN e IL – é insuficiente para uma maioria, e mesmo se lhe juntarmos o PCP, fica aquém. Já a “geringonça” – que juntou PS, BE e PCP/PEV – continua a ser uma solução maioritária.
À direita, ainda com os valores médios do intervalo referido na sondagem, sem o Chega não parece haver possibilidade de maioria – uma união de PSD, IL e CDS-PP dista, pelo menos, 15 deputados desse objetivo; mesmo com o Chega, ainda faltam, pelo menos, sete mandatos. Só se juntarmos todos os máximos dos intervalos de PSD, Chega, IL e CDS-PP chegamos à maioria de direita.
Terceiro momento
Não foi durante qualquer arruada, foi na entrevista à Rádio Observador, mas o secretário-geral do PS, António Costa, voltou a referir o orçamento do Estado (OE) para 2022, cuja proposta foi chumbada a 27 de outubro de 2021, na votação na generalidade, com os votos contra do PSD, CDS-PP, Chega, Iniciativa Liberal, à direita, mas também do PCP, do PEV e do BE, o que resultou na crise política que levou às atuais eleições. “Temos uma grande vantagem nesta campanha”, disse António Costa, “um Orçamento do Estado”, em vez de promessas eleitorais”.
Na Figueira Foz, o presidente do PSD reagiu ao insulto de Rosa Mota, mas também classificou a campanha socialista. “Quando defende as suas próprias propostas é um orçamento que chumbou e nem sei como é que ele o quer fazer passar no caso de ganhar as eleições”.
Rio já demonstrou abertura para negociar, em caso de vitória do PSD, mas mostrou-se cético sobre os resultados.