As eleições legislativas do próximo dia 30 vão ser, a vários títulos, eleições únicas no seu género.

1. Primeiro, porque há a real possibilidade de o poder cair para um lado ou para o outro, consoante o equilíbrio de forças que venha a girar à volta de António Costa (líder do PS) ou de Rui Rio (líder do PSD).

Existe ainda a possibilidade de Costa ganhar sem maioria e não conseguir os apoios dos partidos à esquerda e, no limite, chamar o PSD para o bloco central. Ou pode ainda demitir-se e o próximo líder do PS chamar-se Pedro Nuno Santos.

Por outro lado, existe a possibilidade de Rui Rio conseguir mobilizar eleitorado nos dias que faltam e reunir apoios ao centro-direita e à direita, e tornar-se o próximo primeiro-ministro. No entanto, nas sondagens, e a mais recente é a do Barómetro da Intercampus publicada no “Jornal de Negócios”, destacam-se os indecisos que representam 17,8%, ou seja, são a terceira força política nacional.

Mas há outros fatores únicos nestas eleições, que vão desde a crise política à não aprovação do Orçamento que o Governo de Costa apresentou, ou ainda a manutenção do statu quo em termos de pandemia.

Aliás, sobre este tema haverá ainda muito a dizer porque já se poderia ter preparado uma solução para os infetados, por exemplo, via voto eletrónico ou de modelos com equipas devidamente protegidas que, à semelhança do que acontece em lares ou instituições onde há surtos, poderiam visitar os inscritos.

A CNE tem toda a informação disponível via DGS e, desta forma, manteria os direitos constitucionais de todos. Não se vê uma especial preocupação da ministra da Administração Interna (que é também ministra da Justiça) com o assunto e o Presidente da República tem andado preocupado com temas tão díspares como as implicações constitucionais do confinamento e da impossibilidade de voto, a par de preocupações como o agraciar de pessoas ligadas ao desporto ou a outras atividades.

Convenhamos que para melhorar o triste recorde da abstenção só falta o argumento da pandemia para, desta forma, se manter o país dividido e pouco concentrado na coisa pública.

2. A notícia da extinção da Fundação Berardo, deliberada em conselho de ministros depois de uma auditoria da IGF, apenas peca por tardia.

É surpreendente que o Governo e o Parlamento, sendo que o Conselho de Ministros tem por obrigação supervisionar e receber relatórios das fundações, apenas tenha descoberto em 2021 que a Fundação Berardo era usada para fins diferentes daqueles que são os de utilidade pública.

E não deixa de ser surpreendente que existindo uma fundação com suficiente visibilidade pública que é apropriada pelo fundador, esta seja de tal forma desvirtuada que perde todo o seu património.

Tudo se passa ao longo de cerca de 20 anos e nunca ninguém suspeitou de nada. Não obstante em 2007, no programa televisivo “Prós e Contras”, o gestor Fernando Ulrich ter confrontado Berardo sobre as contas, ao que este respondeu que a fundação era dele e não tinha de prestar contas a ninguém, quando por lei as contas eram depositadas na presidência do Conselho de Ministros e tinham de ser públicas.

3. O INE divulgou a inflação média, que se situou em 2021 em 1,3%. Ninguém duvida do INE, mas para o cidadão comum a tendência não passa pela avaliação de um cabaz e, sim, pelo preço da habitação, produtos alimentares e combustíveis. E aí o senso comum diz-nos que a inflação é muito mais elevada.