Startup de Leiria com tecnologia para créditos de carbono recebe 1,5 milhões de euros

As árvores e a blockchain têm mais em comum do que talvez imaginássemos. “Vamos criar digital twins (“gémeos digitais”) da floresta que depois nos irão permitir escalar a solução para qualquer parte do mundo”, avança ao Jornal Económico o cofundador da empresa CO2offset.

A startup portuguesa CO2offset, que desenvolveu uma tecnologia para calcular a quantidade de dióxido de carbono (CO2) que é capturado pelas zonas florestais e gerar créditos de carbono que depois são vendidos, fechou uma ronda de investimento pré-seed (inicial) no valor de 1,5 milhões de euros.

O investimento adveio da gestora de fundos de capital de risco Ged Ventures Portugal, através do Ged Tech Seed Fund – que tem estado atenta a empresas no sector do digital e energia limpa (cleantech). Aos investidores, agradou a missão de combate às alterações climáticas e oportunidade de negócio criada pela CO2offset, que caracterizam como “uma das mais promissoras startups nacionais de clean tech”.

A CO2offset nasceu em 2021, pelas mãos dos físicos Rui Lopes e Pedro Cipriano e gestores Sérgio Lorga e Rui Maia, e está sedeada em Ansião, no distrito de Leiria. A solução inovadora da empresa permite medir meticulosamente as emissões de CO2 e, depois, transacionar os créditos de carbono gerados através de smart contracts (“contratos inteligentes”), entre pessoas e/ou empresas, na blockchain.

O montante agora angariado será utilizado para desenvolver essa tecnologia, cujo principal propósito é democratizar o acesso aos créditos de carbono e recompensar os proprietários de terras, e aumentar a equipa de nove para doze pessoas. A CO2offset prevê recrutar, até ao final de abril, três pessoas nas áreas de Inteligência Artificial, programação e jurídica.

“Estamos numa fase de desenvolvimento do produto e vamos também criar aquilo a que chamamos de digital twins [«gémeos digitais»] da floresta que depois nos irão permitir escalar a solução para qualquer parte do mundo. Nesta altura, a nossa base de clientes está mais entre Portugal e Espanha. Diria que, neste preciso momento, temos uma solução vocacionada para o mercado europeu e pretendemos exportar para o mundo inteiro”, revela Rui Lopes, cofundador da CO2offset, ao Jornal Económico (JE).

O tema dos créditos de carbono é especialmente premente quando, na passada sexta-feira, o ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, promoveu em Coimbra uma sessão pública de apresentação da lei sobre o mercado voluntário de carbono, que está em consulta pública até meados do próximo mês de abril.

Segundo o Governo, o objetivo do mercado voluntário de carbono é gerar incentivos económicos para reduzir as emissões ou aumentar o sequestro de carbono (o termo utilizado para definir o processo de remoção de CO2 da atmosfera), bem como criar uma oportunidade para acrescentar rendimento de curto prazo à fileira florestal.

Rui Lopes diz ao JE que o Governo “pode ser um parceiro importante” no desenvolvimento deste mercado e na transição energética, ao lado do sector privado. “Especialmente porque, durante a conferência de sexta-feira, demonstrou uma clara abertura para soluções privadas também submeterem propostas. Cabe-nos também a responsabilidade de ser um parceiro importante neste debate e construção da lei”, afirmou, referindo-se à consulta pública.

Na sua opinião, Portugal tem caminhado ao ritmo da Europa nesta questão, embora haja Estados-membros onde os mercados de carbono estejam mais desenvolvidos – o que também é uma boa notícia. “Temos notado cada vez mais interesse e necessidade por parte das empresas em fazer a sua mitigação carbónica. Claro que há países onde o mercado voluntário já cresceu bastante, mas o facto chegar cá de forma um pouco mais lenta dá-nos oportunidade de ver o que foi errado nos outros sítios. Por exemplo, vimos muitos projetos que foram aprovados por standards e por empresas certificadoras que não faziam muito sentido e agora se calhar podemos evitar esses erros”, explica o empreendedor ao JE.

Francisco Lino Marques, sócio e membro do conselho de administração da Ged Ventures Portugal, referiu publicamente que “numa altura em que o mundo ambiciona atingir as metas definidas pelo Acordo de Paris e pela Agenda 2030 das Nações Unidas”, a sociedade acredita “que a solução pioneira desenvolvida pela CO2offset pode dar um importante contributo para alcançarmos este ambicioso objetivo”.

Por sua vez, Pedro Cipriano, cofundador da CO2offset, mencionou que este novo investimento “irá permitir reforçar o trabalho de I&D [Investigação e Desenvolvimento] que” a startup tem “vindo a desenvolver, assim como internacionalizar a solução” com o intuito de “garantir a sustentabilidade da Humanidade”.

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