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Subida do preço do petróleo devido ao Irão penaliza a Europa

A subida do valor da matéria-prima com o anúncio que os EUA vão sair do acordo nuclear é consensual entre os analistas. O Commerzbank sublinha que enquanto o país liderado por Trump não deverá ser penalizado, para os países europeus, a história é outra.
10 Maio 2018, 07h10

A instabilidade geopolítica no Médio Oriente e a possibilidade de os Estados Unidos aplicarem sanções ao Irão levou, esta quarta-feira, a um disparo nos preços do petróleo. Depois de Donald Trump ter anunciado que o país vai abandonar o acordo nuclear, os analistas não questionam que se aproximam mais subidas nos preços. Enquanto os EUA poderão beneficiar, a Europa deverá ser penalizada.

“Os preços do petróleo continuam a subir na sequência da saída dos EUA do acordo nuclear com o Irão”, refere uma nota do Commerzbank, que analisa as consequências económicas da subida do valor da matéria-prima.

“O crescimento na Europa, que já perdeu momentum de qualquer forma, está a ser especialmente afetado por este choque petrolífero. Nos EUA, que está próximo de se tornar o maior produtor de petróleo do mundo, espera-se um efeito neutro”, afirmam, sobre os países europeus que não produzem a matéria-prima internamente.

No caso da Alemanha, por exemplo, um aumento de 10 dólares por barril aumenta a conta na importação em 0,2% do produto interno bruto (PIB), segundo as contas do banco. Acrescentam que se o custo médio do barril aumentar para 75 dólares, em 2018, corresponderá a uma subida de 0,4% no PIB alemão, em comparação com 2017.

Petróleo em máximos de três anos e meio

“Esta decisão da administração Trump é certamente bulish para os preços do crude”, defende uma nota do Caixa Banco de Investimento, publicada no dia em que o valor da matéria-prima disparou esta quarta-feira para máximos de três anos e meio. O crude WTI avançou 3,03% para 71,15 dólares, enquanto o brent subiu 3,13% para 77,19 dólares.

O anúncio do presidente dos EUA não acaba com o acordo, que se mantém com os restantes países. No entanto, aumenta as preocupações sobre um novo foco de tensão geopolítica no Médio Oriente e as incertezas para o mercado petrolífero global. A questão é especialmente importante dado os esforços dos maiores produtores do mundo (especialmente a Organização dos Países Exportadores de Petróleo – OPEP – e Rússia) em cortar a oferta.

O Irão é um dos maiores produtores de petróleo do mundo, com uma oferta diária superior a dois milhões de barris, sendo a China o principal cliente, mas com a União Europeia também na lista.

Quando Barack Obama e a UE sancionaram o Irão com um embargo à produção de petróleo, em 2012, a oferta caiu para metade. Desta vez, não é certo que possa voltar a acontecer já que França, Alemanha e o Reino Unido continuam a apoiar o acordo. Caso Trump retome as sanções, por exemplo vedando o acesso dos países compradores ao sistema financeiro norte-americano, poderá levar a um novo aperto na oferta e à subida dos preços.

Foco transita para a resposta iraniana a Trump

“A resposta iraniana também vai ser muito importante com o país a potencialmente beneficiar de adotar uma abordagem que seja vista como construtiva aos olhos do mundo e ficando no enquadramento do acordo”, sublinha o Caixa BI.

A primeira reação foi pouco politicamente correta. Ali Khamenei, líder supremo do Irão reagiu ao discuro de Donald Trump dizendo que o presidente dos EUA fez comentários “tolos e superficiais”. No entanto, as conversações ainda não chegaram ao fim e parece ainda haver esperança já que todos os outros países que assinaram o acordo – França, Reino Unido, Rússia, China e Alemanha – teceram críticas à decisão de Trump.

“Apesar dos efeitos positivos de curto prazo nos preços, esta decisão não deve representar uma grande ameaça de um aperto adicional no mercado (que já é apertado), pois há outros candidatos dispostos a avançar (como os sauditas já insinuaram). Esse ambiente de preços mais favorável também deve fomentar a prospeção nos EUA e (com o atraso habitual) a produção de petróleo de xisto. Por enquanto, não alteramos nossas projeções para o preço do brent em 65 dólares por barril em 2018 e 2019”, acrescentou o Caixa BI.

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