Algumas dezenas de surfistas encontraram-se hoje na praia de São Torpes, no concelho de Sines, com o objetivo de tentar “salvar” este lugar “muito especial” de uma possível extensão do terminal de contentores do porto comercial.
Os manifestantes concentraram-se junto à Escola de Surf do Litoral Alentejano (ESLA), na praia de São Torpes, a sul de Sines, no distrito de Setúbal, onde fizeram uma instalação com pranchas de surf nas quais se podia ler a frase “Salvar São Torpes”.
Depois entraram no mar para “desenharem” um círculo humano, como forma de alertarem a “opinião pública” para os efeitos prejudiciais que uma nova ampliação do Terminal XXI pode ter naquela praia do litoral alentejano, sendo que a terceira e quarta fases desse projeto se encontram em avaliação de impacte ambiental.
“Se o surf é importante para desenvolver o país, então é importante preservar o ambiente”, afirmou hoje aos jornalistas o presidente da associação SOS – Salvem o Surf, Pedro Bicudo.
De acordo com Flávio Jorge, proprietário da ESLA, os surfistas estão “preocupados” com a perspetiva de o molhe de proteção do Terminal XXI continuar a crescer para sul, pois, afirmou, “a praia vai ficar irreconhecível”.
“As escolas [de surf] vão deixar de trabalhar tanto”, garantiu, mas mais do que a questão económica, os surfistas estão receosos pela “transformação da praia”, que consideram “muito especial”.
Os responsáveis pediram hoje que o Porto de Sines “procure alternativas que não passem por aumentar o molhe [leste]”, uma vez que, após a sua construção e a primeira ampliação, concluída em 2012, a praia de São Torpes e a prática de surf na mesma “foram afetadas”.
Recentemente, a Administração dos Portos de Sines e do Algarve (APS) anunciou que a concessionária do Terminal XXI, a PSA Sines, teria decidido adiar a terceira fase de expansão, “por razões de indefinição do mercado internacional”, embora “sem desistir” da mesma.
Em alternativa, a empresa iria avançar, este ano, com um investimento de 40 milhões de euros para aumentar a capacidade de movimentação anual de mercadorias em cerca de 500 mil TEU (unidade equivalente a um contentor de 20 pés), através da utilização da face noroeste do cais.
Esta notícia deixou os surfistas “muito felizes”, admitiu Pedro Bicudo, no entanto, o facto de a hipótese de expansão do cais não estar posta de parte fá-los manterem-se preocupados.
No final do ano passado, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) divulgou que, até ao dia 20 de janeiro, deveria ser emitida a declaração de avaliação de impacte ambiental, que pode ser favorável, condicionalmente favorável ou desfavorável, mas, até hoje, o documento não foi disponibilizado.
A Lusa contactou a APA na quarta-feira, para saber em que ponto está o processo, mas não recebeu resposta.
Em declarações à Lusa no final de janeiro, a APS, responsável pelo estudo de impacte ambiental (EIA) realizado, informou que é previsível que a decisão “venha a ser emitida durante o primeiro trimestre de 2015”.
De acordo com o resumo não técnico do EIA, a que a Lusa teve acesso, na terceira fase de expansão, o Terminal XXI fica com capacidade para movimentar anualmente 2,3 milhões de TEU (unidade equivalente a um contentor de 20 pés), sendo necessário aumentar o molhe de proteção.
Atualmente, a infraestrutura tem uma capacidade de movimentação anual de 1,7 milhões de TEU, após entrar em exploração, no final de janeiro, a segunda fase de expansão, que consistiu na ampliação do cais de 730 para 940 metros, mas não envolveu o crescimento do molhe.
OJE/Lusa