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Sustentabilidade: ainda há um longo caminho a percorrer na definição de métricas, diz Bruno Padinha da EY

A standardização continua a ser um desafio para as empresas. As maiores organizações ajudam a definir o caminho com a influência que têm junto dos seus principais stakeholders, consideram os participantes na conferência “A Sustentabilidade como Centro da Estratégia das Organizações”.
22 Março 2022, 13h15

Ainda há um longo caminho a percorrer nas métricas para a sustentabilidade, apesar de todo o trabalho que tem sido feito e da aceleração que se verificou durante a pandemia de Covid-19, afirmou Bruno Padinha, Partner e Consulting Leader da consultora EY, na conferência “A Sustentabilidade como Centro da Estratégia das Organizações”.

“[As métricas para a sustentabilidade] são um desafio muito grande e têm sido fonte de alguma confusão inicial, porque, ao contrário, por exemplo, de métricas financeiras e de outras disciplinas de gestão já mais maduras, não havia standards, nem formas de medir que fossem simultaneamente acionáveis e, também, credíveis do ponto de vista de reporte”, afirmou, mas salientando que o “panorama tem mudado”.

“Hoje em dia, há diversas iniciativas que estão a contribuir muito para a standardização destas métricas, desde logo a diretiva europeia, mas também algumas outras, e isso tem ajudado muito a este esforço de medição e de reporte”, disse, acrescentando, no entanto, que “há ainda um longo caminho a percorrer”.

“Ainda estamos muito longe de haver um conjunto de princípios completamente aceites, até porque muitos têm de ser aplicados de forma distinta, consoante o sector de atividade”, sublinhou.

Bruno Padinha falava durante a conferência “A Sustentabilidade como Centro da Estratégia das Organizações”, promovida pela Microsoft Portugal e de que o Jornal Económico é media partner, transmitida esta terça-feira, 22 de março, e que contou também com a participação de Andrea Rubei, Chief Marketing and Operating Officer da Microsoft Portugal, e de Isabel Matos, Diretora de Comunicação e Relações Institucionais do Crédito Agrícola.

Para Andrea Rubei, a colaboração das pessoas para a evolução dos processos ligados à sustentabilidade é essencial, nomeadamente no que respeita às formas de medir essa evolução.

“A tecnologia é fundamental e necessária, mas não é suficiente. Obviamente, precisamos da colaboração das pessoas, por exemplo, em concordarem com os standards, as métricas, etc”, afirmou.

“A tecnologia pode ajudar a capturar os dados e, depois, a analisar esses dados, para tomar decisões em tempo real. Obviamente, precisamos, dos objetivos, por exemplo, das Nações Unidas, depois, de todos os outros standards que as várias organizações internacionais estão a criar; depois, fazer aterrar estes standards dentro da própria empresa, dentro da cadeia do valor, porque, obviamente, a empresa não trabalha num ambiente fechado”, defendeu.

Os maiores ajudam a marcar o caminho

As grandes empresas têm um papel, também, a desempenhar, pela capacidade de influenciarem os stakeholders que lhe são próximos, através das políticas de sustentabilidade que promovem, mas também internamente.

“Nós notamos que há cada vez mais sensibilidade para muitos destes temas, nomeadamente o impacto no ambiente, o impacto na sociedade, mas, naturalmente, nem todas as organizações têm a mesma maturidade ou já fizeram o mesmo caminho”, apontou Bruno Padinha.

“Como penso que é comum neste tipo de questões estruturais, as empresas maiores e as maiores organizações já há mais tempo que têm trabalhado estes temas, desde logo, muitas vezes, até porque são obrigadas regulatoriamente, mas também porque pela sua dimensão e expressão no mercado têm uma noção maior do impacto que têm”, disse.

No caso da Microsoft, isto traduz-se em iniciativas externas, mas também internas. Andrea Rubei exemplifica com o imposto interno criado para incentivar a redução de emissões. “A Microsoft instituiu, há alguns anos, uma carbon tax [taxa de carbono] interna, que nos permite atingir vários benefícios. Fundamentalmente, é um imposto que cada unidade de negócio da Microsoft tem de pagar por cada tonelada emitida de carbono. O objetivo é, por um lado, tentar influenciar como é que as várias unidades de negócios construíram o próprio modelo de negócio para tentar diminuir ao máximo possível as emissões e pagar menos imposto. Obviamente, tentamos que cada unidade tente diminuir a quantidade de imposto; por outro lado, com este imposto conseguimos financiar projetos de inovação para a indústria, por exemplo, um programa que disponibiliza a tecnologia para todas as organizações que querem investir no meio ambiente”.

Este projeto teve também outro efeito: “Para medir, tivemos de concordar nos standards, porque a contabilidade de emissões tem de ser acordada dentro das várias organizações e, também, foi importante utilizar a tecnologia para capturar os dados e informar, em tempo real, para permitir às organizações fazerem previsões sobre as emissões e não ficarem à espera até o final do ano para perceber quanto imposto tinham que pagar”, explicou.

“Este foi um exercício interno – podem imaginar que, no início, no primeiro ano, estávamos com ficheiros Excel, muito complicados, a partilhar estas informações até chegarmos a coisas com muito mais performance em termos de captura de dados, de dashboard [aplicação que mostra a informação de forma mais visual], de power bi [sistema de software, aplicativos e conectores para recolha e tratamento de informação]”, contou Rubei.

“Este tipo de caminho nós já disponibilizamos, com parceiros como a EY, com os nossos clientes, para se aproveitar a aprendizagem”, acrescentou.

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