Há uns anos atrás descobri, graças a Oliver Sacks, a existência de uma pandemia da qual nunca ouvira falar: a encephalitis lethargica ou, mais comummente, “doença do sono”, que terá afetado cerca de cinco milhões de pessoas ao longo de uma década, de 1916-17 a 1927. Trata-se de uma doença estranhíssima. Deixava os pacientes num estado de coma profundo, ou em estados de insónia tão intensos que tornava impossível sedá-los. Para além disso, podia provocar nos pacientes que sobreviviam, dependendo dos casos, um conjunto de sintomas muito diversos, incluindo perturbações no sono, sexualidade, afetos,...
Não escondo a minha perplexidade pela série de “casos” protagonizados em nove meses por este Governo de maioria absoluta, denunciando no mínimo uma falta de rigor e de coordenação política que rapidamente poderia transformar-se num indicador de efetiva descredibilização política…
Confesso também, não a perplexidade mas sim um certo cansaço pela exploração intensiva destes casos por parte dos partidos da oposição (embora as compreenda pois que estão no seu papel enquadrado nas estratégias de desgaste do Governo) mas sobretudo por uma invasão “efusiva” de alguns comentadores “generalistas” os...
Poderá parecer absurdo afirmar que os portugueses têm uma atitude complacente em relação à promiscuidade dos seus representantes políticos, tendo em conta que os casos identificados costumam ter uma cobertura mediática generosa (de que é agora exemplo Miguel Alves) e a opinião pública manifesta a sua indignação durante algum tempo. Contudo, os pequenos desabafos de indignação estão longe de significar forte consciência cívica ou desconforto ético da população.
Casos gravíssimos de corrupção endémica que resultam da prolongada partidarização do país só são assunto enquanto são a notícia do dia,...
“Assim o povo, que tem sempre melhor gosto e mais puro do que essa escuma descorada que anda ao de cima das populações, e que se chama a si mesma por excelência a Sociedade”, Almeida Garrett, “Viagens na Minha Terra”, 1846
Não é possível entender o populismo sem entender a soberania popular. Ou seja, a história do populismo está intimamente ligada à história da soberania popular e à ideia de que a soberania pertence ao povo.
Ideia logo contestada a seguir à Revolução Francesa pelo pensamento reaccionário. Joseph de Maistre no seu “Estudos sobre Soberania” sabe bem quem acusar: “Foram vocês [os...
1. O regresso de Aníbal Cavaco Silva ao cenário político português é o assunto da semana e merece uma análise cuidada e atenta.
Muitos teimam em desvalorizar o legado do antigo primeiro-ministro e ex-Presidente da República esquecendo que, desde 1985, quando chegou ao poder, obteve cinco vitórias, quatro delas com maioria absoluta, duas em legislativas e duas em eleições presidenciais.
Não é para qualquer um, como não é para qualquer um os anos de glória da economia portuguesa com um crescimento acentuado, uma inflação controlada e um país em processo de modernização, a integrar-se na hoje chamada...
“Com leis más e funcionários bons ainda é possível governar. Mas com funcionários maus as melhores leis não servem para nada” – Otto Von Bismarck
(Ao fim de vinte anos de profissão, já me excedi algumas vezes e já aturei excessos de terceiros porque tenho sempre presente que somos todos pessoas. Concordo com algumas decisões e discordo de outras e tal nunca me fez ter menos respeito por quem julga com honestidade intelectual.
Escrevo este texto após a mais insólita experiência que tive no Juízo do Trabalho de Lisboa em que uma funcionária vestida de beca, que se diz juiz, pretendeu obrigar dois...