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“Taxas de juro baixas é um suporte positivo para ações”, diz responsável da BlackRock

André Themudo, responsável de negócio da BlackRock em Portugal, apresentou a estratégia de investimento para 2021 da maior gestora de ativos do mundo. Antecipando que as taxas de juro vão continuar baixas por mais tempo e uma recuperação da economia, a BlackRock recomenda o investimento em ações norte-americanas da tecnologia e da saúde e, no mercado de renda fixa, em obrigações ‘high yield’.
17 Dezembro 2020, 17h45

A maior gestora de ativos do mundo subiu a recomendação de ações norte-americanas para overweight e baixou a ponderação em crédito global de investment grade para underweight. Numa frase, esta é a estratégia de investimento da BlackRock para 2021, que foi esta manhã apresentada à imprensa portuguesa numa videoconferência, e que tem subjacente a perspectiva de manutenção de baixas taxas de juros por mais tempo.

A BlackRock, que tem cerca de 7,43 biliões de dólares em ativos sob gestão, parte para 2021 com uma perspectiva otimista por causa das vacinas contra a Covid-19, embora admita que poderá assistir-se a alguma volatilidade nos mercados financeiros no curto prazo devido a novos confinamentos.

“Gostamos de risco para 2021, mas há que ter cuidado com o risco que queremos assumir”, frisou André Themudo, responsável do negócio da BlackRock em Portugal, que fez a apresentação da estratégia de investimento, intitulada “A new investment order”.

“O mundo mudou completamente em 2020. Consideramos que o choque atual é mais comparável a um desastre natural de grande escala, seguido de uma recuperação económica que esperamos que seja rápida e pronunciada. A nossa preferência para tomar risco reside no mercado acionista, em detrimento das obrigações governamentais e de crédito de alta qualidade”, adiantou André Themudo.

Antecipando um cenário recuperação da economia e a manutenção por mais tempo das baixas taxas de juro, a BlackRock está positiva no mercado acionista, no curto prazo, em especial nas small e midcaps  norte-americanas dos setores da tecnologia e da saúde. O factor ‘dimensão’ prende-se com facto de, em clima de recuperação económica, estas empresas mais pequenas tendem a crescer acima da média. Já o factor setorial, nomeadamente o tecnológico e da saúde, tem que ver com três critérios relevantes para a gestora de ativos: “qualidade”, “segurança” e “estabilidade”.

André Themudo explicou que as tecnológicas norte-americanas, apesar de terem os preços elevados, têm atualmente o price to earnings ratio acima da média das cotadas no S&P 500. “Pagamos mais caro porque estamos a comprar os setores com menos dívidas com um rácio net debt to EBITDA de 0,6, que é baixíssimo. É o setor com o menor rácio de alavancagem nos Estados Unidos. Aqui estamos a pagar qualidade”.

Por outro lado, trata-se do setor “com mais cash em mãos” e, por isso, “estamos a pagar segurança”. Quanto à “previsibilidade”, ela reside na capacidade de estas empresas gerarem resultados previsíveis.

Ainda no mercado bolsista, a BlackRock baixou a recomendação de neutral para ‘underweight‘ das ações europeias “porque há demasiada exposição ao setor financeiro, que está sob pressão devido a estas taxas de juro muito baixas”.

Ainda assim, a gestora de ativos encontra oportunidades de investimento em ações europeias, nomeadamente do setor do luxo, que “foi um setor quase inabalado durante os meses do Covid”, sinalizou André Themudo.

Renda fixa: preferência por ‘high yield’

Nos mercados de renda fixa, a BlackRock desceu a ponderação em crédito global investment grade para ‘underweight‘. “Para tudo o que são obrigações de maior qualidade de crédito, baixámos a nossa recomendação porque já há pouca margem das yields depois dos movimentos anunciados de suporte pelos bancos centrais em abril e maio”, explicou André Themudo.

“Investir em obrigações soberanas não paga o risco que estou a assumir. Na verdade eu é que estou a pagar as obrigações soberanas porque as taxas reais são negativas. Mesmo que fosse ligeiramente positiva, eu estou a descontar a inflação portanto estou a perder dinheiro se investir numa obrigação alemã”, disse o responsável, referindo-se a obrigações de países desenvolvidos.

André Themudo disse ainda que neste momento a BlackRock começa a questionar o “papel diversificador” deste tipo de obrigações na diversificação de uma carteira de ativos. “É cada vez mais questionável o papel diversificador das obrigações soberanas na diversificação de carteiras. Preferimos obrigações ligadas à inflação, uma vez que esperamos que a inflação suba no médio prazo”, disse.

Assim, no mercado de renda fixa, a captura por rendimento está do lado das obrigações com maior risco — as obrigações high yield. “Preferimos obrigações high yield, com maior risco mas também com maior rentabilidade, na óptica do rendimento que o cupão nos pode dar no mundo atual de taxas zero”, adiantou o responsável da BlackRock em Portugal.

A BlackRock continua exposta a dívida da periferia, o que envolve dívida soberana portuguesa ou espanhola, por exemplo, porque “vemos margens para uma maior compressão dos spreads”, concluiu André Themudo.

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