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Tecnologia irá destruir e criar funções e profissões

Vai a automatização e a inteligência artificial eliminar muitos postos de trabalho? É certo que sim, mas no lugar desses vão surgir outros. Profissões que ainda nem existem nos dias de hoje.
  • Tyrone Siu/Reuters
3 Dezembro 2017, 20h00

“O mundo está a mudar muito rapidamente”. As palavras são de Liliana Castro, da organização da conferência xFutures, na qual foi debatido o impacto da tecnologia no futuro do trabalho. O progresso tecnológico está a acelerar consideravelmente, “colocando-nos novos desafios e resolvendo problemas que até então não tinham solução”.
Como assinala Nuno Arruda, head of clients na Willis Towers Watson Portugal, “a tecnologia e os avanços em campos como a inteligência artificial e a robótica estão a tornar cada vez mais difusas as fronteiras que separam as dimensões física, digital e biológica, levantando simultaneamente questões éticas que não são despicientes”.
O responsável da empresa de serviços profissionais que apoia as organizações a melhorar o seu desempenho através da gestão financeira, das pessoas e dos riscos, alerta que “a velocidade e impacto” daquelas mudanças “não tem paralelo com as revoluções anteriores”, com implicações na vida das pessoas enquanto consumidores ou como trabalhadores. “Criam-se novas funções/profissões, ao passo que rapidamente desaparecem outras, a produtividade assume outra escala e o fosso de competências torna-se ainda mais alargado”.

A opinião é semelhante à de Liliana Castro, que afirma que “começa a ser claro que a automação e a inteligência artificial vão eliminar muitos trabalhos, quer pouco qualificados quer altamente qualificados, mas [que] também irão criar outros”. Percetível é também que “os profissionais mais bem sucedidos no futuro são aqueles que conseguem tirar melhor partido da tecnologia que temos à nossa disposição”.

E Nuno Arruda assinala igualmente que será “essencial uma capacidade de aprendizagem e adaptação sem precedentes para acompanhar a velocidade da mudança e a cada vez maior simbiose homem/máquina/inteligência artificial”.

Os empregos que ainda não existem

O responsável da Willis Towers Watson Portugal avança mesmo com estatísticas: “65% das crianças que entram hoje na escola vão provavelmente trabalhar em empregos/funções que hoje não existem”.

A “revolução” é de tal modo “transversal”, que torna “difícil isolar” um sector onde o impacto será maior. Testemunhamos sinais dessa mudança diariamente: na forma como as compras nos chegam a casa, na aquisição de bens e serviços, na definição de modelos de trabalho, na indústria, nos transportes, na forma como nos deslocamos e comunicamos.

Do ponto de vista laboral, a Willis Towers Watson considera que “evolução implicará obrigatoriamente uma mudança não só na forma como se vê o talento e a sua retenção, mas até na própria organização do trabalho”, passando pela “desconstrução” de funções em tarefas ou projetos que permitam maior eficiência e flexibilidade”. Nuno Arruda alerta: “Um profissional poderá, no limite, desempenhar funções em diferentes projetos e ou empresas, com cada vez maior flexibilidade e potencialmente um vinculo menos vincado a determinada organização”.
A par das mudanças no dia-a-dia das pessoas, vão também surgir novos riscos, “alguns desconhecidos ou irrelevantes hoje”, aponta Nuno Arruda.

É o caso dos ciber riscos e da proteção de dados, que embora já integrem o “léxico e agenda de todas as administrações”, são “seguramente a ponta do iceberg”. Em causa está a cada vez maior “interconetividade de cadeias de abastecimento, a obsolescência, a reputação, a tecnologia prototípica e a regulação que acompanhará – ou tentará – esta revolução. São desafios que se somam às alterações climáticas e aos riscos políticos/sociais que se anteveem”. O especialista da empresa que fornece soluções de gestão de risco e de retenção de recursos humanos, acredita que o risco será “um fator competitivo” e material para o sucesso e resiliência das organizações, dependendo da forma como o gerem e utilizam em benefício próprio.

Recentemente foi anunciado um grande despedimento coletivo numa multinacional tecnológica. Este poderá ser um alerta real para uma preocupação generalizada: “irão as máquinas substituir a mão de obra humana na indústria transformadora e noutras atividades económicas”?

Claudia Raposo, chief operations officer da PHC, está convencida que a automatização e a robotização e outros sistemas associados à indústria 4.0 poderão “alterar para sempre como vemos o trabalho”. E recorre à história: “Da mesma forma que a revolução industrial alterou para sempre o trabalho nas fábricas, a revolução digital está a fazer o mesmo dentro das empresas. Muitas funções que hoje conhecemos tornam-se obsoletas, outras novas surgirão”. Entretanto, o “grande desafio está nesta fase de transição em que é fundamental, mais do que nunca, dar importância às pessoas e saber como aproveitar a tecnologia para aproveitar o potencial humano que existe nas empresas”. Isto pode passar “por produtos de software que favorecem a colaboração interna, o trabalho em equipa e a colaboração na gestão de projetos”. Em suma, temos de deixar as tarefas administrativas para as máquinas e dar às pessoas a liberdade para tirarem partido desta mudança”, assinala a COO.

A opinião é partilhada por Nuno Figueiredo, administrador da Ábaco Consultores. “Irá existir uma alteração no mercado de trabalho com a cada vez maior adesão ao conceito de robótica. No entanto, não consideramos que as máquinas irão substituir totalmente a mão de obra humana”, diz.

O administrador do integrador acredita que os robôs “irão, possivelmente, desempenhar algumas tarefas que hoje em dia são realizadas pelos humanos, mas não os vão substituir por completo”. Alerta que a “transformação digital não consiste na automatização dos postos de trabalho, antes pelo contrário. A tecnologia, ou até mesmo as próprias máquinas estão a ser pensadas para melhorar os resultados e a produtividade dos trabalhadores, fornecendo insights em tempo real graças a tecnologias como cloud computing ou a Internet das Coisas [IoT]”. Além disso, assinala, “esta maior aposta na robótica poderá levar a que sejam criados novos empregos e os robôs passem a encarregar-se de executar partes monótonas do trabalho diário, permitindo aos seres humanos dedicarem-se a outro tipo de tarefas”.
Apesar da evolução tecnológica, por fim, Jorge Lourenço e Nuno Ferreira, cofundadores da Rebis, consideram existem perfis de trabalho em claro risco de desaparecimento. “Estes trabalhos serão aqueles mais repetitivos, pesados, perigosos ou, simplesmente, sem necessidade de capacidade de decisão por parte do operador. No futuro poderia ser o caso dos operários de transportes com a chegada da tecnologia dos veículos autodirigidos (que não vemos generalizar-se a médio prazo, já agora), ou trabalhos de baixa qualificação na indústria da manufatura, que poderia ser substituída pela robótica”. No entanto, o ser humano vai continuar a “ocupar um lugar de privilégio, pela sua capacidade de criar valor acrescentado, através da sua visão global, as suas capacidades de resolução de problemas complexos e imprevistos e, principalmente, definir as prioridades em caso de conflitos”.

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