[weglot_switcher]

Tecnológicas europeias entram no radar das bolsas de ações

O ecossistema tech está a dar passos significativos, com um número crescente de empresas a baterem às portas dos mercados de capitais.
6 Dezembro 2017, 07h35

As empresas tecnológicas da Europa costumavam ser o parente pobre em relação a outras regiões como os Estados Unidos a e Ásia. A aposta feita nos últimos anos para fomentar o ecossistema tech no Velho Continente está, no entanto, a começar a dar frutos, com o maior interesse por parte dos investidores a conduzir as empresas a optar pela entrada em bolsa.

Nos primeiros nove meses deste ano, a Europa registou 38 ofertas públicas iniciais (IPO, na sigla em inglês). Este é o maior número de tech IPO no mundo em 2017 e compara com as 17 realizadas nos EUA, segundo o Relatório do Estado da Tecnologia Europeia, realizado pela empresa de investimento em inovação Atomico.

A expetativa é que, até ao final de dezembro, o número suplante ainda as 49 IPO que tiveram lugar na Europa em 2016.

“O que isto reflete é que a Europa está a produzir um número crescente de empresas com capacidade de ir desde a fundação até uma entrada em bolsa”, disse Tom Wehmeier, partner e head of research da Atomico. “Acima de tudo, demonstra a qualidade do pipeline das empresas tecnológicas europeias”.

Wehmeier sublinha que se assiste a sinais de que a Europa está a beneficiar de um ciclo virtuoso, sendo que “o que está a mudar é que tivemos sempre ótimos profissionais e ideias, mas agora construímos um ecossistema com as bases corretas para apoiar essas pessoas e ideias e arriscar transformá-los numa empresa, desenvolver o produto e fornecer o capital para ganharem escala”.

No total, as tecnológicas europeias angariaram mais de 6,4 mil milhões de dólares nos mercados de capitais até setembro de 2017, superando ligeiramente o montante registado nos EUA.
Wehmeier explica que, além da atratividade do ecossistema, há três fatores de mercado que fomentam esta corrida aos índices acionistas.

“A realidade na Europa é que não é preciso uma empresa estar avaliada em mil milhões de dólares e ter receitas de 100 milhões, os mercados estão dispostos a investir em empresas de várias dimensões”, adiantou, dando o exemplo de empresas como a alemã de entregas de refeições ao domicílio, Delivery Hero, ou a imobiliária online britânica Purplebricks.

A existência de índices alternativos como o britânico Alternative Investment Market (AIM) ou o Nasdaq Nordics permite a empresas mais pequenas fazerem primeiras incursões em bolsa como rampa de lançamento para financiarem o crescimento.

Da mesma forma, a diversidade de fontes de investimento também é uma oportunidade para empresas de pequena escala ou em fase inicial. “A base de investidores na Europa vai desde angels a operadores sofisticados nos mercados, passando por gestores institucionais”, afirmou Wehmeier. Muitos destes investidores ganharam conhecimentos através de operações noutras regiões, o que se traduz agora num benefício para a Europa.

Gigantes também entram na equação

Nem só de startups é feito o mercado, com alguns negócios já mais maduros a procurarem também cada vez mais o financiamento em bolsa. Segundo o relatório, a Europa é tradicionalmente mais forte em termos de entradas em bolsa com valores mais baixos. No entanto, desde 2012 a região teve mais IPO acima dos 500 milhões de dólares do que os EUA.

Seis das 38 empresas que fizeram IPO na Europa este ano foram avaliadas em mais de mil milhões de dólares. O número representa o dobro do ano passado, mas fica ainda abaixo das nove com o mesmo valor nos Estados Unidos.
“O que é importante é que estamos a ver que não só a Europa é capaz de produzir empresas que atingem uma avaliação de mil milhões de dólares, mas também várias empresas, como a [retalhista de moda online alemã] Zalando ou a [plataforma sueca de streaming de música] Spotify, já quebram o marco dos 10 mil milhões de dólares”, referiu o head of research da Atomico.

As empresas europeias tem tido desempenhos pós-IPO melhores do que as dos EUA, incluindo em 2017.

“Nos últimos cinco anos, assistimos a uma expansão significativa do valor geral das empresas tecnológicas nos mercados de capitais europeus”, explicou Wehmeier. Desde 2012, as tecnológicas europeias acrescentaram quase 350 mil milhões de dólares no valor de mercado total e mais do que duplicaram o limite de mercado total das empresas de tecnologia europeias públicas para 657 milhões de dólares.

No entanto, o crescimento foi eclipsado pela criação de valor dos EUA e da China, durante o mesmo período. Segundo Wehmeier, a Europa ainda tem um longo caminho a percorrer até alcançar estes países. Entre as 10 empresas mais valiosas da Europa, não há tecnológicas, enquanto as cinco maiores dos EUA e as duas principais da China são empresas de tecnologia.

“A expansão relativa tem sido maior noutras regiões do que vemos na Europa, o que mostra a importância de colocarmos as tecnológicas como motor da economia europeia como um todo”, defendeu Wehmeier.

“Se olharmos para o desempenho e crescimento das empresas tecnológicas europeias nos últimos cinco anos, vemos que temos uma fileira de negócios mais forte que nunca, portanto não vejo razão para que a tendência de crescimento não continue como até aqui”, afirmou.

Wehmeier salienta que há cada vez mais empresas europeias que estão na linha da frente da inovação, a crescer e a atrair os melhores recursos. A emergências deste tipo de empresas é o que “dá confiança que a Europa irá criar valor”.

Sinais positivos no panorama nacional

Em relação a Portugal, a Atomico coloca o país no patamar dos países que ainda estão numa fase inicial de desenvolvimento do ecossistema tecnológico.

“O que vemos em Lisboa e em Portugal são sinais muito positivos de um crescente envolvimento com tecnologia e empreendedorismo”. Acrescentou que há um grande conjunto de talento que olha para o setor como possibilidade de carreira.

“Estes são todos os ingredientes necessários para construir um hub tecnológico ao longo do tempo”, disse, dando como exemplos de sucesso a empresa de educação online Babbel, a plataforma de alojamento Uniplaces ou a retalhista online Farfetch.

“Existe espaço para crescer e há indicadores promissores. É por isso que acreditamos em Portugal, tal como Itália, como locais onde esperamos continuar a ver crescimento robusto e contínuo”, acrescentou.

“Quando olhamos para o futuro, mais que para o passado, uma conclusão-chave do estudo é que a probabilidade de a próxima grande empresa tech, que irá definir a indústria, ter origem na Europa, nunca foi tão grande”.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.