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Temer “leiloa” Amazónia e Brasil revoltou-se

Governo brasileiro decidiu abrir uma reserva na Amazónia maior que o território da Dinamarca, para exploração de minérios.
29 Agosto 2017, 13h34

#TodosPelaAmazonia, #SOSAmazonia, e #ForaTemer. Estas hashtags têm inundado as redes sociais, principalmente o Twitter.

Em causa está o decreto assinado por Michel Temer, presidente do Brasil, na semana passada, onde extinguiu a Reserva Nacional do Cobre e Associados, mais conhecido por Renca, assim como autorizou que uma empresa de mineração canadiana explore uma mina de ouro, no coração da Amazónia.

No entanto, o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho o ministro das Minas e das Energias, Fernando Coelho Filho, anunciaram que Temer decidiu revogar o decreto e assinar um novo texto para “clarificar” a questão. A decisão foi anunciada após as repercussões negativas que a medida gerou entre ambientalistas, celebridades, a sociedade em geral e até nos meios de comunicação internacionais. Também uma petição foi criada, contra a exploração de minérios no “coração do mundo”.

Desde a publicação do decreto, o governo tentou por diversas vezes convencer, especialmente os ambientalistas, de que a extinção da Renca não iria abrir a exploração mineira nas áreas protegidas que existem atualmente, nos 47 mil quilómetros que formam a reserva… mas sem sucesso.

O coordenador de políticas públicas do WWF Brasil, Michel de Souza, alertou numa entrevista ao jornal O Globo para o risco de uma corrida do ouro, que acarreta o risco de repetir tragédias ambientais, como o caso da barragem em Mariana.

Dentro da área da Renca, criada na década de 1970, estão hoje nove áreas de conservação ambiental, incluindo terras indígenas. Ambientalistas afirmam que a liberação da exploração mineral pode poluir rios na região e aumentar a desflorestação.

De acordo com o ministro de Minas e Energia, a edição do decreto vai esclarecer ponto a ponto a extinção da reserva, de forma a preservar as reservas indígenas e de conservação existentes na região, assim como impedir a exploração de minérios de forma ilegal na área. Para isso, o decreto assinado na semana passada será revogado, informou o Planalto, e deverá ser publicado nos próximos dias no Diário Oficial da União.

Respondendo às críticas o ministro do Meio Ambiente disse que a atitude foi tomada após a “confusão” gerada, com diferentes interpretações sobre o que seria extinto. “Foi entendido pela maioria da sociedade que estávamos a aligeirar as regras contra a desfloretação da Amazónia, que estaríamos a abandonar a Amazónia. E isso não corresponde à realidade, pelo contrário”, disse.

Na semana passada, o próprio ministro de Minas e Energia concedeu uma entrevista à Agência Brasil, para explicar o decreto, dias após o Planalto divulgar uma nota à imprensa e o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, contestar as críticas através do Twitter.

Criada em 1984

A área de proteção foi criada em 1984 pelo último presidente do período militar, João Rodrigues. Na altura, foi definida como uma área de proteção de 47 mil quilómetros quadrados, entre os estados do Pará e do Amapá.

Desde então, a exploração mineral e a atividade económica na área passaram a ser da responsabilidade da Companhia Brasileira de Recursos Minerais (CPRM – Serviço Geológico Brasileiro) ou de empresas autorizadas pela Companhia. Para além do cobre, estudos apontam para a existência de ouro, manganés, e ferro.

 

Entrevista a Michel Temer

No passado domingo, canal SBT realizou uma entrevista ao presidente brasileiro, onde voltou a defender a edição do decreto. Segundo Temer, as críticas à medida são um “equívoco”, porque todas as áreas indígenas e de preservação ambiental vão continuar protegidas.

 

A modelo brasileira Gisele Bundchen foi um das muitas figuras públicas que mostrou o seu choque com a situação, juntando-se a nomes como Ivete Sangalo e Caetano Veloso.

 

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