Um acontecimento de grande importância na próxima semana será as eleições gerais no Reino Unido. Depende delas o desenlace do processo do Brexit, o talvez fim desta saga caso o Partido Conservador ganhe as ditas com uma margem confortável. Mas é provável que os conservadores se contentem com uma vitória, dado o andamento da coisa: a 27 de novembro, o YouGov dava 359 deputados aos conservadores, acima dos 326 necessários para uma maioria.

Hoje persiste a possibilidade de um “hung parliament”, pois os trabalhistas ganharam cinco pontos numa semana, contra uma perda de dois para os conservadores. A coisa está em 42%-34% a favor dos Tories, mas o esfaqueamento na Ponte de Londres da semana passada pode baralhar (ainda mais) os resultados.

Corbyn comprometeu-se com a realização de novo referendo em caso de vitória, o que é não se comprometer com nada – jogou em manter as soluções em aberto para não dividir o seu eleitorado, já suficientemente dividido. Veremos se a estratégia paga. Entretanto comprometeu-se também com aumentos “colossais” de despesa pública: 4,3% da despesa anual do SNS, apoio domiciliário gratuito a maiores de 65 anos e autocarros gratuitos para os menores de 25, 100 mil habitações sociais por ano e uma onda de nacionalizações.

No conjunto, mais 135 mil milhões de libras de despesa pública por ano, financiados parcialmente por 80 mil milhões de aumentos de impostos no que é considerado o manifesto eleitoral mais à esquerda desde 1983, na altura apelidado por Gerald Kaufman de “a mais longa carta de suicídio da História” – onde, por exemplo, se defendia a saída da CEE, o desarmamento unilateral do Reino Unido, a abolição da Câmara dos Lordes e a renacionalização da British Telecom, da British Aerospace e dos estaleiros navais.

Mas não podemos esquecer que Corbyn, como comenta Jen Kirby na “Vox”, nunca pensou ser líder dos trabalhistas até que foi. Nunca pensou que iria durar no lugar, até que o conseguiu. E nunca pensou que faria cair May, até que o fez. É de se lhe tirar o chapéu.

Em contraste, o manifesto Tory é comedido, apenas 3 mil milhões (líquidos) de despesa corrente a mais por ano. Como diz o “Times”, “few big ideas and, in truth, not many big policies either.” Pode ser que sim, mas é o resultado das eleições de 2017, quando Theresa May (que liderava as sondagens) prometeu uma política social ambiciosa para perder tudo nas urnas. Mas este é também o manifesto eleitoral que o “Guardian” classifica de desonesto por ter uma mensagem escondida: “sim ao Brexit, não aos aumentos de impostos e Deus nos salve de Jeremy Corbyn.”

À data de hoje, as coisas parecem apontar para uma vitória clara de Johnson, com as casas de apostas – sempre um indicador interessante – a darem 67% de probabilidade a uma vitória Tory, 50% com maioria. Mas ainda falta uma semana, e como disse Harold Wilson, “na política, uma semana é muito tempo.”