Terminam com um cenário em jeito de aviso, as mais de 700 páginas do novo livro “Por onde vai a banca em Portugal?”, editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e assinado por Jorge Braga de Macedo, Nuno Cassola e Samuel da Rocha Lopes. No último dos anexos apensos ao seu trabalho, os especialistas alertam para os três níveis de riscos para o sistema bancário: os riscos operacionais e de continuidade de negócio, os riscos de liquidez e de financiamento e os riscos de crédito e de solvabilidade.

É neste último grupo que os autores entendem apresentar-se os maiores desafios: “Se por um lado os rácios de solvabilidade estão mais elevados e mais elevados do que estavam (…) os níveis de rendibilidade continuam muito baixos. Os custos de capital vão subir novamente. Ao mesmo tempo que as margens de intermediação financeira continuarão a ser muito reduzidas”.

Com efeito, a banca portuguesa irá certamente enfrentar em breve tempos muito difíceis em termos de necessidade de capital, acrescido pelo facto de que pelo menos 15% a 20% das moratórias de crédito concedidas deverá entrar no final em incumprimento, por parte das empresas e famílias.

Aqui ao lado, na vizinha Espanha, a palavra de ordem para responder isso é “fusão”. De uma delas sairá o novo maior banco espanhol, com ativos superiores a 660 mil milhões de euros, após a absorção do Bankia pelo CaixaBank, dono do BPI. E outra fusão ainda deverá envolver o Sabadell (cujo rating a Fitch baixou para -BBB) e o Abanca ou BBVA, segundo o jornal ABC. A Fitch, aliás, alertou para o facto de que – lá como cá – as medidas de apoio das autoridades espanholas vão ser retiradas com o tempo e as implicações para o setor financeiro só serão efetivamente visíveis em 2021.

Em Portugal, para já, apenas foi noticiada a eventual inclusão do Montepio no Millennium bcp. Uma informação que os responsáveis de ambos os bancos, no entanto, já negaram. O Montepio avançou com um grande plano de reestruturação e vai entregar o documento aos trabalhadores no próximo dia 6 de outubro, prevendo-se a saída de 600 a 900 funcionários, como o “Jornal Económico” aqui noticiou.

Mas este é apenas o primeiro movimento de outros que inevitavelmente se seguirão por parte de um setor que já mantinha elevados níveis de crédito em incumprimento nos seus balanços, mas que agora, no contexto da pandemia, assiste a uma situação em que o risco aumenta muito significativamente. Como disse Fernando Faria de Oliveira, o presidente da APB, numa entrevista há poucos dias: “Não podemos ter dúvidas que qualquer recessão implica automaticamente um aumento significativo do incumprimento”.

Para já, a extensão do prazo das moratórias de crédito é como que um cobertor que tapa e oculta um corpo semiparalisado. Só depois de retirado esse cobertor conseguiremos ver a extensão dos danos. Mas tal não impede que desde já os bancos devam perceber que, sozinhos, não terão hipóteses de resistir ao que aí vem.

 

Na terça-feira celebrou-se o Dia Internacional da Consciencialização Sobre Perdas e Desperdício Alimentar. Um tema que me é muito querido pela missão que desempenhei como Comissário Municipal do Combate ao Desperdício. Saúdo por isso o movimento cívico “Unidos Contra o Desperdício” agora criado e espero que a sociedade civil, as empresas e as instituições oficiais continuem um trabalho que tanto impacto tem e ainda mais pode vir a ter, na alimentação dos que mais necessitam.

 

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