Um pouco por todo o mundo fomos assistindo a hospitais sobrelotados, sem meios ou capacidade de prestar os cuidados de saúde necessários aos doentes infetados pelo vírus SARS-CoV-2. Para dar resposta a este aumento exponencial de procura, duas das mais conceituadas instituições de saúde do mundo – as americanas Mayo Clinic e a Kaiser Permanente – reuniram esforços e investiram, em conjunto, cerca de 100 milhões de dólares (81,7 milhões de euros) numa empresa tecnológica chamada Medically Home Group.

A experiência destes parceiros durante a pandemia foi muito positiva na medida em que permitiu aliviar a pressão sobre os hospitais e ao mesmo tempo dar a possibilidade aos doentes de acederem aos melhores cuidados de saúde a partir de suas casas, na companhia das suas famílias. Para além disso, este tipo de serviços tem o poder de encurtar distâncias entre os centros de cuidados de saúde e doentes que possam viver em zonas mais isoladas.

Por isso, este trio avança agora para um modelo de colaboração de cariz mais permanente, que prevê que a infraestrutura tecnológica seja providenciada pela Medically Home Group, e que a Kaiser e a Mayo sejam responsáveis pela componente clínica. Estes parceiros acreditam que podemos estar perante a próxima geração de cuidados de saúde centrados no doente.

Em Portugal, já desde 2018 que se está a tentar fomentar a hospitalização domiciliária, estando esta legalmente e clinicamente enquadrada desde essa data. Dentro dos que são elegíveis, estão doentes com patologias agudas ou crónicas agudizadas desde que controláveis no domicílio, como por exemplo, doença pulmonar obstrutiva crónica, insuficiência cardíaca, insuficiência renal, cirrose hepática, e doentes em estado terminal/paliativo que necessitem de procedimentos terapêuticos de responsabilidade do hospital.

Do ponto de vista do financiamento, os hospitais são ressarcidos pela prestação de cuidados domiciliários de acordo com duas linhas de produção distintas no contrato programa – a atividade hospitalar no domicílio, que corresponde ao serviço domiciliário efetuado pelos profissionais dos hospitais; e a hospitalização domiciliária.

Em 25/11/2020 existiam mais de 3.400 doentes em hospitalização domiciliária sendo que o programa estava em funcionamento em 29 hospitais, em Portugal, tendo sido esta a linha de prestação de serviço que mais aumentou no SNS em 2020, segundo reportou o Diretor do Programa Nacional de Hospitalização Domiciliária, Delfim Rodrigues, ao Jornal de Notícias. Para colocar as coisas em perspetiva, avançou o mesmo, é o equivalente a um novo hospital de 300 camas sem necessidade do investimento inicial em infraestruturas.

De acordo com a mesma entrevista, a experiência do paciente também tem sido muito positiva, com taxas de satisfação de doentes, famílias e profissionais de saúde entre os 95% e os 100%. Para isso contribuem diversos fatores como as componentes de conforto, autonomia e humanização do tratamento para os doentes, e a redução dos tempos médios de internamento, diminuição do risco de infeções hospitalares e nos ganhos de saúde, para os prestadores de cuidados de saúde. Em termos de ganhos de saúde são reportadas diminuições na ordem dos 24% na taxa de mortalidade e de 30% nas taxas de reinternamento de doentes mais idosos, segundo o Ministério da Saúde.
Parece, sem dúvida, que a hospitalização domiciliária é uma das grandes tendências do sector da saúde a apostar na próxima década.