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Tensão entre a Turquia e a Grécia está de regresso

Depois de Ancara ter acusado Atenas de tentar convencer os Estados Unidos a não venderem armamento de última geração à Turquia, as relações entre os dois países – belicosas quando não mesmo violentas há muitos séculos – voltaram a degradar-se.
27 Maio 2022, 16h20

A Grécia enviou uma carta ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, acusando a Turquia de desafiar diretamente a sua soberania sobre as ilhas no leste do Mar Egeu, sob o pretexto de que Atenas estaria a remilitarizá-as, indo assim contra o que está previsto no Tratado de Lausanne (1923) e no Tratado de Paris (1947).

A carta de quatro páginas enviada pela Grécia a Guterres, datada de 25 de maio e assinada pela representante permanente da Grécia na ONU, Maria Theofili, refere que “a Grécia pede solenemente à Turquia que pare de questionar a soberania da Grécia sobre as suas ilhas do Mar Egeu, em particular por meio de afirmações legalmente infundadas e historicamente falsas e que se abstenha de ameaçar a Grécia com a guerra”.

A Turquia defende-se dizendo que a Grécia está a estacionar armas e soldados nas ilhas e que isso coloca em causa a segurança do país. O ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Mevlüt Çavusoglu, disse esta semana que as medidas da Grécia ameaçam a segurança da Turquia e sublinhou que Ancara estará atenta aos avatares de Atenas. Reunido esta quinta-feira para o efeito, o Conselho de Segurança Nacional (turco) aconselhou o governo a que mantenha uma postura determinada na proteção dos seus direitos e interesses.

A Grécia e a Turquia estão em desacordo há décadas sobre as fronteiras marítimas, mas o desacordo aumentou em 2020, numa altura em que a exploração de petróleo e gás no Mediterrâneo Oriental se intensificou – e em que os dois países se achavam com direito sobre o outro relativamente às prospeções. No ano passado, Guterres tentou mediar a questão, tendo convocado as duas partes para um encontro na Suíça, onde ele próprio esteve presente. No final, Guterres abandonou o país dizendo que nenhum problema se resolve se as partes não estiverem interessadas – aparentemente era isso que acontecia – e recusou estabelecer um calendário para um segundo encontro, que de facto nunca veio a acontecer.

Mas esta não é a única questão. É que a Turquia queixa-se de remilitarização de algumas ilhas gregas desde… 1960. Para os analistas, o regresso do tema não é uma coincidência. Esta semana Ancara queixou-se de que o primeiro-ministro grego Kyriákos Mitsotákis estaria a fazer lobby junto da administração dos Estados Unidos e da secretaria-geral da NATO para que à Turquia não fosse permitida a compra de armamento de última geração (nomeadamente aviões e helicópteros). A possibilidade de compra – sendo de recordar que nem os Estados Unidos nem a NATO têm especial interesse em transferir alta tecnologia para a Turquia – dá-se como ‘moeda de troca’ para tentar convencer o governo turco a aceitar a entrada da Suécia e da Finlândia na NATO.

Ora, considera a Grécia, qualquer aumento do poder militar da Turquia é uma quebra da segurança dos gregos. A Grécia manifestou sempre fortes reservas à possibilidade da entrada da Turquia na União Europeia e mantém com os turcos um sério problema em torno da ilha de Chipre – dividida entre a parte cipriota (independente) e a parte turca (pretensamente independente mas que só a Turquia reconhece como tal).

O aumento dos interesses de ambos os países em torno das energias fosseis guardadas no fundo do Mar Mediterrâneo oriental fez regressar os desentendimentos. Que têm crescido mais uma vez, depois de a Turquia investir elevadas quantias na renovação da sua frota de prospeção ‘offshore’.

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