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“Tentámos vender o BFA mas não conseguimos”, disse CEO do BPI

“Angola fez um grande caminho no sentido da aproximação às regras europeias em termos do que são as regras de supervisão bancária”, lembrou João Pedro Oliveira e Costa.
29 Julho 2022, 13h02

João Pedro Oliveira e Costa, CEO do BPI, falava na conferência de imprensa de apresentação dos resultados semestrais quando revelou que “fizemos várias tentativas para vender o Banco Fomento Angola”, onde o banco português detém uma participação de 48,1%.

“O acionista [Caixabank] tem sido muito claro no que se refere ao cumprimento das diretivas do Banco Central Europeu, que vão no sentido de o banco ter de diminuir a nossa exposição a Angola e estamos nesse caminho”, referiu o CEO do BPI.

João Pedro Oliveira e Costa disse que “até agora fizemos variadíssimos esforços nesse sentido. Não encontrámos um comprador nas várias tentativas e nos vários modelos”.

De qualquer forma, reconheceu o banqueiro, “estamos hoje melhor do que estávamos há uns anos atrás, porque o banco como qualquer normal investidor está a receber os dividendos do BFA, as relações com as autoridades angolanas são muito boas, há uma total transparência e compreensão em relação às exigências que temos do nosso supervisor e da nossa posição vendedora”.

O BPI não tem nenhum representante nos órgãos sociais do BFA e é uma participação meramente financeira que não consolida nas contas do banco português. O BFA entregou (em dividendos) 100 milhões de euros para a contas do semestre do BPI que consistiram num lucro de 201 milhões de euros em termos consolidados.

Recorde-se que o CEO do BPI, noutras conferências de imprensa, tinha admitido vender em bolsa a sua participação no BFA. “Se for conveniente e se nós entendermos, juntamente com o nosso parceiro [Unitel], que a abertura do capital em bolsa em Angola é uma possibilidade — e encaramos com bons olhos essa possibilidade, claramente — também poderá ser essa uma das soluções para a situação que nós temos”, afirmou João Pedro Oliveira e Costa durante a conferência de imprensa para apresentação dos resultados do primeiro trimestre do BPI.

Hoje essa opção não foi abordada.

João Pedro Oliveira e Costa respondia às perguntas dos jornalistas depois de ter elogiado a importância de África para a Europa e nomeadamente para Portugal e de ter relatado a sua presença no EurAfrica Forum 2022 que se realizou na Nova SBE e onde o BPI foi patrocinador, sobre se havia uma mudança de paradigma em relação à presença do BPI naquele continente, onde para além dos 48,1% do BFA tem 35% do BCI em Moçambique (onde é sócio da Caixa Geral de Depósitos).

“Não temos nenhum plano de expansão em África”, respondeu o banqueiro, admitindo, no entanto, que a realidade é dinâmica e evolutiva. Ao mesmo tempo, lembrou que “Angola fez um grande caminho no sentido da aproximação às regras europeias em termos do que são as regras de supervisão bancária. Tem mostrado uma independência do sector financeiro e do banco central face ao Governo e, além do mais, tem mostrado bons indicadores quer no crescimento económico, quer no controlo da inflação, e nas regras de compliance e outras que claramente nos mostra que a envolvente em África hoje não tem muito a ver com há quatro anos. Houve uma evolução”.

“Não tenho nenhum calendário para vender o BFA”, frisou o CEO do BPI que alertou que “no dia em que sairmos de Angola, saímos, ponto. Não é um vou ali e já venho. Pelo que é importante perceber que estas decisões têm consequências”.

A propósito da importância de África para Portugal, João Pedro Oliveira e Costa reafirmou hoje o que tinha dito no Fórum de ontem. “Nós precisamos mais de África, do que África precisa de nós”.

O CEO lembrou que os EUA, a China, a Rússia, a Índia já estão a apostar fortemente em África.

“África é a zona do mundo com mais recursos naturais (água, fósseis e gás natural), e tem uma população em franco crescimento e em 2100 igualará a Ásia”, lembrou o presidente do BPI que recordou que o atual conflito geopolítico entre o Ocidente e o Leste leva a que se tenha de “olhar para sul [África]”.

 

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