A Tesla é uma daquelas empresas que não faz sentido no papel. Falha sistematicamente as metas de produção, tem prejuízos todos os anos e consome recursos de uma forma avassaladora.

Porém, apresenta uma capitalização bolsista de 51 mil milhões de euros, superior à da maioria das construtoras automóveis norte-americanas, como são os casos da Ford ou da Fiat Chrysler.

A questão é que a Tesla é muito mais do que uma construtora automóvel: é uma visão do futuro e encontra-se numa posição única para beneficiar da transição que está a ocorrer a nível mundial, com a passagem da utilização dos combustíveis fósseis para as energias limpas.

A nível automóvel apresenta apenas quatro modelos: Modelo S; Modelo X; Modelo 3 e o mais recente Roadster; todos são extraordinariamente elegantes e potentes, sendo classificados, de forma unânime, como os melhores nas suas classes.

Ainda assim, e apesar do alinhamento da Tesla com as estrelas do universo, existe um conjunto de desafios que terá de enfrentar para se afirmar como a verdadeira construtora automóvel do futuro.

1. Produção do Modelo 3: os últimos resultados disponíveis, relativos ao primeiro trimestre de 2018, evidenciam vendas de 2,9 mil milhões de euros e prejuízos de 662 milhões de euros, na sequência de cinco trimestres negativos.

Apesar do crescimento das vendas em 26%, os prejuízos têm sido fortemente penalizados pela incapacidade da Tesla em aumentar a produção do Modelo 3, o mais económico e com um preço base de 30 mil euros, do qual depende o futuro da marca e a recuperação dos enormes investimentos realizados.

Até abril deste ano, o máximo que tinha conseguido produzir foram 2.270 unidades, muito abaixo das 5.000 unidades por semana, valor de produção a partir do qual se vislumbram perspetivas positivas, e que permitrá uma certa tranquilidade junto dos investidores.

2. A ajuda alemã na automatização: uma das dificuldades inesperadas e que mais problemas tem criado ao incremento do volume de produção do Modelo 3, é o excesso de automatização. Apesar de ser contraintuitivo, ao se adicionar mais automatização a uma única fábrica, está a criar-se um ecossistema industrial cada vez mais complexo, com mais programação informática, mais manutenção e uma maior conflituosidade entre as diferentes estruturas robotizadas.

Para superar os estrangulamentos na produção, a linha de montagem da Tesla está a ser acompanhada pela empresa alemã recentemente adquirida, a Grohmann Engineering, à qual a BMW, a Mercedes e a Volkswagen recorriam para conceber as suas linhas de montagem, e que sempre conseguiu resolver os problemas com que se deparou.

3. Investimentos: a aquisição de equipamentos industriais, a contratação de pessoal e o suporte dos elevados prejuízos têm levado a uma erosão dos recursos disponíveis da Tesla, que diminuíram 629 milhões de euros nos últimos três meses, gerando receios no mercado de que seja necessário, ainda este ano, um novo aumento de capital entre 2,5 e 3 mil milhões de euros, para financiar a atividade de investimento e o pagamento da dívida que começará a ser agressivo a partir do início de 2019.

4. Dívida colossal: a dívida bancária da Tesla, descontando os valores em caixa, é de 5,3 mil milhões de euros, um valor elevadíssimo. Além disso, o free cash flow – dinheiro gerado pela empresa depois de descontadas as despesas de investimento – agravou-se para um valor negativo de mil milhões de euros, fazendo com que seja necessário recorrer a ainda mais dívida para manter níveis de liquidez satisfatórios.

Por mais legiões de fãs que a Tesla tenha, por mais otimistas que sejam as entidades financiadoras e por mais visionário que seja o seu fundador, uma empresa só o é, na verdadeira aceção da palavra, quando gera lucros. Desta forma, o Modelo 3 representa não só a salvação da Tesla, mas também a redenção do planeta.