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Theresa May cria nova polémica em torno das questões de segurança

Primeira-ministra quer restringir liberdades. Trabalhistas recordam que a ideia é atacar o terrorismo e não a democracia. Já ninguém se lembra que no cerne das eleições antecipadas estava o Brexit.
  • Stefan Wermuth/REUTERS
8 Junho 2017, 07h10

Já ninguém parece lembrar-se que a primeira-ministra britânica Theresa May convocou eleições gerais antecipadas por causa do Brexit, na tentativa de seguir uma receita que perspetivava um possível alargamento da maioria absoluta com que contava. No meio da campanha eleitoral sucederam dois atentados em Londres e a oposição trabalhista nunca mais deixou que o Brexit se mantivesse como o racional da escolha dos britânicos.

A agenda passou a ser liderada pelos ataques terroristas e pelo debate em torno da capacidade de o país responder a esses ataques – e isso parece constituir, se não o fim da liderança conservadora do governo, pelo menos o fim da maioria absoluta com que o partido conta até ao final do dia de hoje.

O líder dos Trabalhistas, Jeremy Corbyn, não quis deixar de apontar as incongruências do discurso da primeira-ministra, que insistia na qualidade da defesa do país por parte das forças policiais, mas aceitara – quando era ministra do Interior, antes de substituir o ex-primeiro-ministro David Cameron – um corte no orçamento dessas forças e dispensa de cerca de 20 agentes da autoridade.

Theresa May ficou numa posição muito frágil, a exigir uma resposta política. Mas essa resposta veio acrescentar mais polémica à polémica – o que não é, de todo, aquilo que a primeira-ministra precisa para sair vencedora do escrutínio de hoje. May afirmou que está disponível para dar mais poderes tanto à polícia como às ‘secretas’ para lidarem com os extremismos instalados no interior do país. Mas Corbyn respondeu de imediato que a luta contra o terrorismo faz-se atacando o terrorismo e não atacando a democracia.

A receita da mulher que tem mais de 100 livros de receitas em casa, Theresa May, passaria pela limitação da liberdade de associação e de comunicação entre pessoas identificadas como ligadas (ou potencialmente ligadas) ao extremismo islâmico; a possibilidade de deportação de suspeitos e o alargamento das detenções sem culpa formada de 14 dias (os atuais) para 28.

Os Trabalhistas apressaram-se a afirmar que a receita é um atentado aos direitos humanos e que não é por aí que se vence a luta contra o terrorismo – principalmente aquele que emana de cidadãos que vivem no Reino Unido e bastas vezes são eles próprios britânicos.

Incógnita

Mas a eventualidade de este tipo de receita ser uma nova machadada nas pretensões políticas de Theresa May está por provar. É que um estudo recente produzido na União Europeia indica que os europeus estão disponíveis para verem as suas liberdades restringidas se isso for sinónimo de maior segurança. A França é um bom exemplo: o país está há meses sob as restrições impostas pelo estado de emergência sem que isso afete verdadeiramente o dia-a-dia dos franceses e sem que haja um clamor de queixas entre os gauleses.

É por isso que todas as hipóteses se mantêm em aberto para hoje. Mesmo assim, o que as sondagens indicam é que Conservadores e Trabalhistas continuam a convergir: os primeiros a descer e os segundos a subir – todos a aproximarem-se dos 40%.

No final do dia de hoje, é preciso que os britânicos voltem a lembrar-se que o que estava em cima da mesa era mesmo o Brexit: as negociações entre o Reino Unido e os seus ex-companheiros de jornada só devem começar no segundo semestre – mas o segundo semestre começa dentro de 20 dias e o novo governo, seja ele qual for, tem de arranjar tempo no meio do debate sobre segurança para preparar os dossiers de saída.

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