Todos e ninguém

Daqui a um ano será conhecido o resultado das eleições presidenciais. As datas das eleições presidenciais não estão previamente marcadas em rigor no nosso calendário político. É o presidente em exercício que as convoca para 60 dias antes do fim do seu mandato ou para 60 dias após essa data. Supostamente, a ida às urnas […]

Daqui a um ano será conhecido o resultado das eleições presidenciais. As datas das eleições presidenciais não estão previamente marcadas em rigor no nosso calendário político. É o presidente em exercício que as convoca para 60 dias antes do fim do seu mandato ou para 60 dias após essa data. Supostamente, a ida às urnas para a escolha do nome do Chefe de Estado durante os cinco anos seguintes deverão ser em janeiro de 2016. Caso não haja uma vitória por mais de 50 por cento dos votos à primeira volta haverá uma segunda volta 21 dias depois, o que poderá cair em fevereiro até que, finalmente, em março de 2016, teremos a tomada de posse do novo Presidente da República. Nos EUA, por exemplo, o calendário é mais rigoroso. Diz que as eleições são de quatro em quatro anos, sempre na primeira terça-feira de novembro, exceto se essa terça-feira calhar num dia 1, a seguir ao feriado do Dia das Bruxas. Se for esse o caso, a data passa então para a terça-feira seguinte, pelo que as idas às urnas estão sempre marcadas para os dias entre 2 e 8 de novembro. E a tomada de posse decorre depois a 20 de janeiro.
Em Portugal, a esta distância de um ano das eleições, temos vários nomes atirados para a discussão pública como possíveis candidatos a Presidente da República. Santana Lopes, atual Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, tem sido o mais propalado. Dentro do seu quadrante político, fala-se também na hipótese do comentador Marcelo Rebelo de Sousa, e ainda de Rui Rio, antigo presidente da câmara do Porto. Sem esquecer o mais forte de todos os nomes do PSD, Durão Barroso, agora longe de Bruxelas e mais próximo da Universidade Católica.
O Bloco Central dos interesses da República tem depois, do outro lado do ringue eleitoral, alguns nomes de peso. António Guterres, que esteve longe de Portugal durante dez anos, poderá regressar do seu refúgio. A única hipótese que o poderá impedir de chegar a Belém é conseguir ser eleito secretário-geral da ONU. Como alternativa a Guterres, os socialistas têm outros nomes na reserva. Um deles, contudo, teve já de ser riscado, pois encontra-se temporariamente retido em Évora devido a assuntos de justiça e, mesmo que consiga aparecer a tempo para a corrida, convém ficar na sombra durante algum tempo. Talvez possa concorrer em 2021 ou 2026… Depois, fala-se na possibilidade do Chefe de Estado ser uma Chefe de Estado. O PS poderia apresentar a ex-ministra da Saúde e antiga presidente dos socialistas, Maria de Belém. Teria ela mais hipóteses do que homens como António Vitorino, Ferro Rodrigues, Carlos César ou Manuel Alegre? Provavelmente, sim, o fator feminino possa resultar.
Nos restantes partidos, fala-se em Carvalho da Silva, apoiado pelo PCP. Ou Francisco Louçã, com o apoio do BE.
Não podemos esquecer que uma corrida presidencial, que em teoria é aberta a todos os cidadãos eleitores portugueses acima dos 35 anos – desde que consigam criar uma estrutura organizada que lhes permita recolher um mínimo de 7.500 assinaturas válidas para formalizar a candidatura perante o Tribunal Constitucional -, poderá contar com candidaturas de independentes, destacando-se desde já o nome do ex-reitor da universidade de Lisboa, Sampaio da Nóvoa.
Perante este cenário, deixo apenas algumas perguntas: então e os dez anos de Cavaco Silva como Presidente, nunca aconteceram e vamos “limpar” a imagem da República assim, com novos nomes? Baralhar de novo e começar outra vez? Assobiar como se nada tivesse passado? Afinal, quem julga os segundos mandatos dos presidentes da República? Resposta: ninguém.

Frederico Duarte Carvalho
Jornalista e escritor

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