[weglot_switcher]

Tolentino Mendonça: o filho de pescadores para quem a Igreja tem de “purificar-se” dos erros passados

Novo cardeal português entrou no seminário com 11 anos. Considera que o Papa Francisco é “uma referência” na Igreja Católica.
2 Setembro 2019, 17h13

Nascido na Ilha da Madeira há 53 anos, Tolentino de Mendonça teria tudo para ser pescador, o ofício da família em Machico. Mas a Igreja trocou as voltas à vida do arcebispo português que vai ser nomeado cardeal a 5 de outubro. A entrada no seminário com 11 anos abriu-lhe uma porta de que, além de o ter transformado em sacerdote, fez dele um ensaísta e poeta consagrado.

A vivência espiritual e contemplativa revelou-se cedo. Saiu da Madeira com um ano e foi para Angola com a família, que ia para o Lobito tentar melhor sorte. “Lembro-me de uma viagem que fiz com o meu pai. Na minha cabeça ia também pescar. Dei comigo, para lá dos enjoos típicos de um iniciante pelo mar fora, na borda do barco, a olhar as paisagens. Praias que ainda não tinham sido exploradas, rochedos, o azul do mar, o fundo do mar. Eu teria sete, oito anos. Essa contemplação despertava em mim uma emoção enorme, enorme”, revelou numa entrevista a Anabela Mota Ribeiro.

Entrou no seminário com 11 anos, já regressado a Portugal depois dos anos em Angola, e a vocação impôs-se. Iniciou os estudos de Teologia em 1982 e foi ordenado padre em 1990, tendo sido nomeado, em 2011, consultor do Conselho Pontifício da Cultura. Estudou Ciências Bíblicas em Roma e viveu em Lisboa, onde, foi professor e vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, a instituição que escolheu para o doutoramento em Teologia Bíblica.

Na Igreja, não esconde a admiração pelo Papa que o escolheu para Cardeal. No ano passado, quando foi escolhido como arquivista e bibliotecário do Vaticano, Francisco estava ser alvo de críticas por alguns setores mais conservadores da Igreja, e o português saiu em sua defesa, numa entrevista ao Público: “Uma coisa é certa: o Papa Francisco é o ponto de referência de uma Igreja que assume a necessidade de purificar-se de desvios, erros e de crimes passados e que transporta para o presente uma exigência de coerência evangélica. E ele é o primeiro a dar o exemplo”.

Além de sacerdote, Tolentino Mendonça destaca-se também como poeta, ensaísta e professor. Autor de numerosos livros, que o tornaram conhecido pelos portugueses dos mais diversos quadrantes, exerce atualmente as funções de arquivista nos arquivos secretos do Vaticano, sendo bibliotecário da Biblioteca Apostólica.

Como autor, foi distinguido com vários prémios, entre os quais o Prémio Cidade de Lisboa de Poesia (1998), o Prémio Pen Club de Ensaio (2005), o italiano Res Magnae, para ensaio (2015), o Grande Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes APE (2016), O Grande Prémio APE de Crónica (2016) e o Prémio Capri-San Michele (2017). Em 2015, foi um dos autores selecionados para os exames nacionais de Português, em 2015.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.