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Tornar os pagamentos e transferências digitais cada vez mais simples e seguros

Como vão evoluir e quais os desafios atuais dos pagamentos e transações em tempo real?
21 Maio 2023, 09h00

Jon Fath
Cofundador
e CEO da Rauva
As PMEs enfrentam vários desafios relacionados com o acesso rápido a capital e uma das primeiras tendências para o solucionar passa pela tecnologia. Recentemente, surgiu a SEPA instant, que permite a transferência de um valor abaixo dos 100 mil euros em apenas 10 segundos, contribuindo para a liquidez dos negócios. Contudo, ainda não está totalmente democratizada e devem ser implementados mecanismos para a disponibilizar a cada vez mais empresas.

Outro desafio prende-se com a faturação. Por cada transação, é necessário que exista uma fatura certificada associada, e que se acompanhe o progresso desta fatura – se está paga, se o valor já entrou na conta – para a conciliação entre contabilidade e conta bancária – que se encontram em sistemas separados e desconectados.

O terceiro ponto relaciona-se com a literacia para a gestão de empresas. Ter um negócio sustentável exige competências que não são inatas a todos os empreendedores. Estes devem ter conhecimentos de negociação – os pequenos negócios não deveriam ser aqueles que têm os prazos de pagamento mais largos. Ainda neste sentido, uma forma de colmatar estes prazos de pagamento é através do invoice factoring, ou seja, através de empréstimos no valor das faturas lançadas mediante um pagamento de juros. Contudo, esta solução ainda não está acessível a todos e é urgente que surjam alternativas.

Por fim, há ainda o desafio associado à fragmentação dos processos que compromete o foco no negócio. Por este motivo, desenvolvemos a Rauva, a primeira plataforma portuguesa que incorpora pagamentos, cartões de débito físicos e digitais, permite enviar e seguir faturas certificadas ligadas ao portal da Autoridade Tributária, o que facilita o processo de reconciliação, e, ainda, acompanhar e registar as despesas da empresa. Estamos, ainda, a garantir o apoio aos empreendedores durante a sua jornada, através de conteúdos educativos, e estamos a trabalhar no sentido de fornecer mais soluções, como serviços de contabilidade e crédito de curto prazo e invoice factoring para ajudar a gerir o seu working capital.

Henrique Tomé
Analista
da XTB
O rápido desenvolvimento tecnológico tem obrigado as instituições financeiras a inovar e a acompanhar a transição para a web 3.0. O setor financeiro, em particular a banca, tem sido o mais afetado com estas mudanças, pois apesar deste estar a tentar digitalizar cada vez mais os processos, continua a mostrar várias ineficiências. Aliado a isto, os consumidores procuram cada vez mais alternativas ao dinheiro físico e, como consequência desta mudança nos padrões de comportamento, a utilização de cartões de multibanco, pagamentos por smartphone, contactless e o aparecimento de várias fintech têm sido cada vez mais representativas.

As instituições financeiras têm estado empenhadas a desenvolver software e aplicações “user-friendly” que captem a atenção dos seus clientes, mas, ao mesmo tempo, existem alguns entraves que não permitem uma maior inovação do setor. É na banca tradicional que os problemas são mais notórios. Embora os bancos estejam a apostar no atendimento ao cliente à distância, o modelo, na maioria dos casos, continua a ser complexo e demorado. Além disso, a implementação das chamadas “transferências imediatas” muitas vezes não cumprem o que o próprio nome indica e têm limites. Por outro lado, o facto dos utilizadores recorrerem cada vez mais às plataformas (apps) das instituições é um ponto bastante positivo, já que facilita a maior parte dos processos que se podem fazer dentro da própria conta e não há o constrangimento de se deslocar presencialmente à sucursal do banco.

Na minha opinião, ainda estamos numa fase muito embrionária no que toca à transição para o digital no lado da banca, pois ainda existem muitos avanços que se podem dar com a implementação de algumas soluções em web 3.0 como, por exemplo, a utilização dos smart contracts para validarem as transações e garantirem a segurança das mesmas. Existe também alguma rivalidade e receios de que as novas tecnologias possam substituir os sistemas atualmente em uso, no entanto, acredito que tal seja apenas dores de crescimento e o medo de mudança no setor.
A implementação de soluções em web 3.0 no setor financeiro engloba muito mais pros do que contras. Com a recuperação da credibilidade, melhoria do grau de satisfação dos clientes e reforço da segurança, incrementa-se a fidelização dos utilizadores e a atração de novos clientes. Se estes pontos fazem parte do futuro estratégico da banca, é tempo de considerar dar o passo em frente – para a web 3.0.

Teresa Mesquita
Chief Marketing
and Product Officer da SIBS
Em Portugal como em todo o mundo assistimos a uma transição para canais digitais, que desempenham um papel cada vez mais importante, proporcionando conveniência na experiência do cliente.

Em particular assistimos a uma evolução acelerada da carteira física para o digital. Um estudo no mercado português coloca o MB WAY em 1º lugar na preferência dos consumidores nas compras online, com 33%, e em 2º lugar na preferência dos consumidores nas compras em loja, com 22%. Este é indubitavelmente um caso de sucesso de uma solução Portuguesa, reconhecida na Europa como uma das carteiras digitais mais abrangentes em casos de uso e mais bem-sucedida em níveis de utilização pelos consumidores.

O MB WAY, com quase 5 milhões de utilizadores, é uma opção conveniente e segura para realizar pagamentos online e em loja, num contexto crescente de convergência e omnicanalidade.

O comércio eletrónico teve uma evolução rápida, representando em 2022 15% do número total de pagamentos em Portugal, o que compara com 6% em 2018 . Antecipa-se que este crescimento se mantenha, acompanhado com uma transformação estimulada pelo comércio nas redes sociais e no metaverso.

As transferências imediatas são também uma tendência global, em que Portugal se destaca claramente no panorama Europeu: uma em cada duas transferências são atualmente uma transferência imediata MB WAY para um número de telemóvel. Compara por exemplo com 10% média de transferências imediatas na zona euro .

Por fim, outra tendência relevante são as Moedas Digitais de Bancos Centrais. O BCE está a investigar o desenvolvimento de um euro digital, a concluir até ao final do ano.

O euro digital seria uma forma eletrónica do dinheiro que temos nas nossas carteiras físicas. Cada cidadão na zona euro poderia abrir uma conta de euro digital numa entidade intermediária supervisionada, como um banco ou instituição de moeda eletrónica. Essa conta provavelmente teria um limite e provavelmente não poderia ter juros. A expetativa é que o euro digital possa ser utilizado para pagamentos entre pessoas e para fazer pagamentos em lojas e online.

Pedro Borges
CEO e Co-fundador
Mercado Bitcoin Portugal
Os pagamentos e transações em tempo real estão a passar por uma série de evoluções e enfrentam diversos desafios sendo que, com o avanço da tecnologia e a popularização dos smartphones, existe uma maior adesão a esta forma instantânea, e prática, de fazer pagamentos. O público está cada vez mais disposto a utilizar carteiras digitais, aplicações de pagamentos e soluções sem contato físico. Assim, o caminho parece passar por:

1. Blockchain e Criptoativos com características de moeda. A tecnologia blockchain, com o uso de criptomoedas, vai revolucionar os pagamentos e as transações em tempo real a uma escala global e com custos praticamente inexistentes. Por exemplo, a rede Lightning network do Bitcoin que oferece vantagens como segurança, descentralização, eficiência e baixíssimo custo. No entanto, existem desafios de regulação a vencer antes de uma utilização mais massificada.

2. Moedas digitais dos bancos centrais. No fundo, pretendem ser um meio de pagamento em tempo real, mas mais abrangente geograficamente. O MB Way, por exemplo, é fantástico, mas só funciona em Portugal. A introdução do Euro digital traz não só uma moeda digital, mas um meio de pagamento eletrónico e instantâneo com uma amplitude geográfica superior, neste caso à escala Europeia, pelo menos.
4. Open Banking e APIs. Com a implementação de políticas de Open Banking em diversos países, as instituições financeiras começam a permitir a partilha de dados e serviços por meio de APIs. Isso facilita a realização de pagamentos e transações em tempo real pelos clientes das diferentes instituições financeiras, sem depender dos pontos de acesso que são oferecidos pelo sistema bancário, home banking, etc., ou redes já existentes.

Por fim, uma palavra para a segurança e proteção contra fraudes que deve ser uma preocupação crucial. Deve-se apostar na facilidade de utilização, baixo custo e simplicidade de modo a garantir a retenção dos utilizadores, mas sempre com o foco na implementação de medidas de segurança robustas contra fraudes, hacking e roubos de identidade, principalmente nas soluções centralizadas e que, por exemplo, não beneficiam da segurança proporcionada pelo Bitcoin.

Francisco Pessanha
Head of Customer Experience
do Banco Montepio
A evolução das transações em tempo real não presenciais (via canais digitais) passará pela capacidade dos players financeiros darem resposta àquele que é hoje o seu principal desafio nessa área: como tornar os pagamentos e transferências digitais cada vez mais simples e seguros. A juntar a este desafio, há uma pressão crescente sobre o preço destas transações. Pelo que, ao foco de simplificar com segurança, junta-se a necessidade de tornar cada vez mais baratos os pagamentos para o cliente final.

A simplificação das transações passará, sobretudo, pela forma como é recolhida a ordem de pagamento ou transferência e é identificado o beneficiário da mesma. Números de conta e IBANs serão rapidamente substituídos por dados alternativos e de mais fácil acesso, que permitam identificar igualmente os beneficiários (números de telemóvel, QRCodes, entre outros). Se esta é uma realidade já vista em transferências domésticas, o próximo passo será começarmos a ver esta realidade também em transferências internacionais.

Adicionalmente, o próprio formato de recolha da ordem, hoje ainda muito assente no preenchimento de um conjunto de campos, evoluirá para meios alternativos como a conversação e os comandos por voz, cada vez mais sofisticados e eficazes.

Com esta crescente simplificação e rapidez dos pagamentos, aumenta, drasticamente, a pressão sobre a segurança e infraestruturas tecnológicas para processamento destas transações. Por isso, ao longo dos próximos anos, assistiremos a um crescimento significativo do investimento em mecanismo de segurança, que permitam identificar, em milésimos de segundo, riscos e potenciais fraudes nas transações. Aqui, espera-se que a inteligência artificial e o machine learning desempenhem um papel determinante na evolução destes mecanismos.

Por fim, a procura pela escala e pela otimização de sistemas e recursos será uma necessidade crítica para redução do custo das transações e do respetivo preço final para os clientes.

Por tudo isto, e num futuro próximo, os players que melhor conseguirem combinar a simplicidade e segurança dos pagamentos, ao menor custo possível, estarão melhor posicionados para captar a preferência dos utilizadores.

José Carlos Tomás
Business Development Manager
da Eupago
As principais tendências dos pagamentos e transferências em tempo real que se perspetivam para os próximos anos são as seguintes: a padronização das plataformas favorecendo a sua interoperabilidade, promovendo a transição de sistemas de restritos de nível local ou nacional para um sistema pan-europeu de transferências instantâneas (SCT Inst) com base em depósitos bancários; o aparecimento de sistemas de pagamento em tempo real que irão permitir que as entidades não financeiras (particulares e empresas), e não apenas aos bancos, possam efetuar pagamentos, entre si, diretamente a partir de depósitos titulados por essas entidades em bancos centrais, as também designadas moedas digitais dos bancos centrais (CBDC); a integração com plataformas de open banking decorrente da abertura de APIs por parte de instituições financeiras, a qual irá facilitará a transferência de informação sobre estes pagamentos, sejam os efetuados em moeda bancária ou em moeda do banco central; e a disseminação da aceitação deste tipo de pagamentos entre um crescente número de consumidores e empresas, o que impulsionará o aumento da sua representação entre os meios de pagamentos preferidos pelos utilizadores. A migração para pagamentos executados em tempo real que abrange não só a autorização dos próprios pagamentos, mas também a transferência imediata dos fundos, envolve desafios de dois tipos: a garantia da escalabilidade dos sistemas de pagamento será fundamental para evitar atrasos e interrupções, à medida que o volume de transações em tempo real aumentar, isto quando se generalizar a sua utilização para pagamentos de baixo valor; e a segurança e a privacidade dos utilizadores tornam-se questões críticas das plataformas que operacionalizam estes pagamentos.

Consequentemente, deverá assistir-se à melhoria da segurança e inviolabilidade dos meios de autenticação forte do ordenante dos pagamentos, bem como à evolução dos mecanismos de controlo de fraude para que estes consigam atuar de forma automática e confiável, em tempo real, e assim poderem dar cumprimento aos deveres de prevenção de fraudes e de prevenção do BCFT que impendem sobre as instituições financeiras.

Pedro Andrade
Banking Director, Head of Payments,
da NTT DATA Portugal
Os pagamentos em tempo real têm evoluído e tendem a constituir-se como a nova norma de efetuar pagamentos. No entanto, os pagamentos não evoluem da mesma forma em todos os países e, em cada um, a apetência para os pagamentos eletrónicos depende das populações, que têm umas comunidades mais digitais, outras mais tradicionais.

A adoção de pagamentos em tempo real pode representar um indicador de competitividade dos países, na medida em que permite aos analistas perceber um conjunto de variáveis: a literacia digital das populações; as expectativas que têm em relação ao imediatismo; os hábitos de consumo; a capacidade das instituições satisfazerem a necessidade de pagamentos rápidos e simples; e a capacidade que as empresas têm de obter uma visão imediata de cash-flows e de tesouraria.

Esta exponencial evolução dos pagamentos digitais está a motivar tendências e desafios distintos para os dois segmentos de pagamentos:
No retalho, a tendência será unir soluções de pagamentos, com programas de fidelização para os consumidores e o crescimento da oferta de e-wallets, prevendo-se um crescente recurso a fintechs de pagamentos, em detrimento da dependência da relação com os Bancos tradicionais. Na banca comercial/empresas, a evolução passa por alcançar os pagamentos cross-border instantâneos e por reduzir os custos nos pagamentos interbancários.

Nuno Breda
Co-CEO
da Ifthenpay
Hoje vivemos em tempo real! A conectividade global possibilita fluxos de informação, quer em volume, quer em velocidade, nunca antes imaginados. Acontecimentos em qualquer parte do planeta são conhecidos em segundos por uma percentagem muito significativa da população mundial. Não é preciso recuar muitos anos para aquilo que hoje é o nosso dia a dia, parecesse absoluta ficção científica aos olhos dos nossos pais ou avós. Falar para um relógio, ou fazer uma videochamada eram cenas frequentes em filmes de Hollywood.

Hoje não só falamos para um relógio, ou smartphone, como também efetuamos pagamentos utilizando a tecnologia existente nestes dispositivos. E a exigência do utilizador é cada vez maior, no sentido de todo este processo ser feito de forma imediata.

As questões relacionadas com a segurança tem sido o principal travão à velocidade do avanço desta inevitável realidade. A aposta em mecanismos que assegurem a identidade dos destinatários dos fundos é o caminho a seguir pelas empresas envolvidas em todo este processo.

A começar pelos bancos, que devem apostar mais na agilização dos seus sistemas, para disponibilizarem as transferências imediatas por processos digitais, a outras instituições de pagamento, integradoras das soluções tecnológicas.

Estas empresas e a própria banca, tem hoje ferramentas ao seu dispor que permitem reduzir substancialmente os riscos associados às transações em tempo real. Os avanços da inteligência artificial, aliados à capacidade de cruzamento de grandes volumes de dados em poucos segundos, possibilitam já, com grande segurança, determinar a idoneidade das partes envolvidas nestas transações.

Naturalmente, com o alargamento da utilização dos pagamentos digitais, surgem sempre tentativas de burlas ou fraudes, como sempre tem acontecido, sobretudo no início de qualquer novidade tecnológica nesta área. No entanto, acreditamos que, quer o impacto, quer a duração destas perturbações, tenderão a ser cada vez menores, graças à utilização da Inteligência artificial para mitigar e inclusivamente antecipar eventuais problemas.

Em resumo, as transações em tempo real são já hoje uma realidade, como por exemplo no MBWAY. Terão certamente uma utilização muito mais alargada num futuro próximo, ultrapassados estes desafios relacionados coma segurança.

Não falta muito para podermos dizer para o nosso relógio: “Siri, paga 50 euros à Maria Alice!”

João Queiroz
Head of Trading
do Banco Carregosa
O imediatismo e a necessidade de gratificação quase instantânea, que provocam um ambiente de alguma apreensão do comportamento social, fazem com que a eficiência, a eficácia e a velocidade das operações, para as marcas e indústrias em geral, se tornem determinantes.

Consequentemente, também os setores bancário e segurador estão obrigados a imprimir uma transformação digital contínua e disruptiva na relação com os seus Clientes para entregar valor. A tecnologia é um dos mais recentes catalisadores das alterações comportamentais dos clientes bancários, que exigem atualmente sistemas de pagamentos e de transações de forma imediata; em qualquer momento do dia e independente do lugar onde estamos, ultrapassando assim as barreiras e as limitações de outrora.

As transferências bancárias automáticas suplantam os tradicionais meios de pagamento, como por exemplo os cheques ou mesmo os cartões, permitindo assim operar em janelas de tempo muito mais reduzidas; com consequente rapidez de conclusão das operações. Esta realidade impulsiona, fortemente, as operações de baixo impacto; como pagar e receber, ou comprar e vender instrumentos financeiros.

O desenvolvimento e a robustez das novas infraestruturas tecnológicas têm permitido à Indústria Financeira oferecer soluções mais sofisticadas, recorrendo e integrando as mesmas interfaces de pequenas empresas de Tecnologia (fintechs). Esta mudança de paradigma tem proporcionado igualmente aos incumbentes a apresentação de soluções pensadas no “cliente”, distribuindo os seus modelos de negócio de forma escalada e massificada das suas operações. Tal verifica-se nos meios de pagamento móveis ou nas ordens de abertura e fecho de operações negociadas em Bolsa, que dependem de divisas centralizadas num Banco Central, ou também operações descentralizadas – ainda que em muito menor escala – mas demasiadamente centradas em criptomoedas.

A “blockchain” ou “tecnologia de registo distribuído”, considerada como uma solução disruptiva, integrada nas transações das fintechs, permite apresentar os mais elevados níveis de segurança e ainda rastrear toda a informação relevante de uma dada operação para os diversos fins e objetivos (segurança, eficiência ou mesmo fiscalidade). A Banca e os players dos Mercados Financeiros continuarão a integrar a mais recente tecnologia, providenciando aos investidores e aos traders o acesso a melhores serviços, experiências e informações de qualidade para que estes possam gerar decisões robustas, conscientes e informadas; que proporcionem retornos sustentados e ponderados pel apetência ao risco.

Ricardo Madeira
Diretor de Inovação e Digital
do Grupo Crédito Agrícola
Pagamentos e transações em tempo real assentes em tecnologia digital existem há décadas. Nos últimos anos, fruto de desenvolvimentos tecnológicos e de alteração de comportamento por parte dos consumidores, têm tido um crescimento acelerado representando a grande maioria dos pagamentos em volume e em valor. Esta tendência é impulsionada pela necessidade de processamento de pagamentos mais rápido e eficiente por parte dos agentes económicos e consumidores. Os maiores desafios enfrentados pelos pagamentos e transações em tempo real incluem segurança, conformidade regulatória e a necessidade de interoperabilidade entre diferentes sistemas de pagamento.

O setor dos pagamentos tem assistido a um aumento acentuado de fraudes e violações de dados, uma grande ameaça para consumidores e empresas. À medida que as transações digitais continuam a aumentar, o mesmo acontece com as oportunidades para agentes maliciosos tirarem partido das vulnerabilidades dos sistemas. No mercado português, nos últimos anos, temos assistido a um crescimento deste flagelo. A educação dos utilizadores relativamente a estes meios de pagamento é chave para garantir que a sua utilização é correcta e que a possibilidade de fraude é reduzida.

A combinação de “Open Banking”, infraestrutura de transações instantâneas e outras iniciativas regulatórias, tem permitido criar alternativas e concorrência entre diferentes plataformas de pagamentos. Os pagamentos em tempo real permitiram reduzir os custos transaccionais e aumentar a disponibilidade de liquidez junto dos agentes económicos com benefícios claros para o desenvolvimento económico.

Num futuro próximo, a emissão de moeda digital pelo banco central poderá proporcionar uma âncora de estabilidade para os sistemas de pagamentos e monetários. Um euro digital reforça também a soberania monetária da área do euro e promove a concorrência e a eficiência no setor de pagamentos europeu. O Euro Digital aumentará o leque de opções de pagamento e potenciará a própria resiliência dos sistemas de pagamentos. É esperado que o Euro Digital consiga combinar a segurança e a universalidade do numerário com os benefícios dos pagamentos eletrónicos, adaptando a moeda de banco central às necessidades dos utilizadores mais digitais. A interoperabilidade entre diferentes sistemas de pagamento é chave para garantir um desenvolvimento justo dos sistemas de pagamentos, uma área com potencial para distorção concorrencial. O papel do regulador é fundamental para evitar situações de abuso de posição dominante.

Afonso Eça
Diretor
Executivo de Inovação do BPI
Os meios de pagamentos constituem uma das áreas, senão a área, com maior evolução ao longo dos últimos anos no sector financeiro. A crescente digitalização dos clientes tem vindo a mudar tudo nos pagamentos – a velocidade, a acessibilidade, a disponibilidade e muito mais. Para os próximos anos podemos antecipar uma crescente exigência dos clientes relativamente aos pagamentos, bem como, uma cada vez maior concorrência neste espaço, não só entre instituições financeiras incumbentes, mas também, com outro tipo de agentes, sejam start-ups, fintech ou até BigTech. Os reguladores e supervisores, em especial na Europa, não são indiferentes à importância deste espaço na Economia: forçando maior competição neste espaço com iniciativas legislativas de open banking ou até com a potencial iniciativa do Euro Digital. Logo, seja por pressões de outros competidores, seja por pressão dos consumidores, seja por pressão regulatória ou legislativa – este espaço continuará dinâmico e desafiante especialmente para os bancos. Neste contexto, cabe-nos continuar a evoluir os serviços de pagamentos, acompanhando os desenvolvimentos tecnológicos e necessidades dos clientes, para que consigamos entregar um serviço de excelência a um custo competitivo. Sendo que há três dimensões críticas na qualidade de serviço nos pagamentos: (1) resiliência, para que os clientes consigam realizar pagamentos sempre que necessário; (2) conveniência, que os meios de pagamentos postos à disposição dos clientes sejam aqueles que facilitam a transação a cada momento e (3) relevância, a crescente digitalização dos pagamentos contribui para um melhor conhecimento do cliente, o que também permite servi-lo melhor. Por fim, todos sabemos que os pagamentos são uma função essencial do sistema financeiro e que, simultaneamente, são uma fonte de informação sobre os clientes, logo, por muito desafiante que seja o espaço, continuaremos a ver os bancos a competir neste mercado onde, cada vez, mais tecnologia e banca se cruzam.

Jorge Raminhos
Head of Technology & Operations Department do Bison Bank
Os pagamentos e transações em tempo real têm o potencial de reformular a experiência de consumidores e empresas, oferecendo velocidade, conveniência e eficiência sem precedentes. Contudo, apenas cerca de 13% das transferências em euros na UE são imediatas, o que levou a Comissão Europeia a anunciar, em outubro de 2022, uma proposta de regulamento para promovê-las, incluindo: i. obrigar os Prestadores de Serviços de Pagamento (excluindo Instituições de Pagamento e de Moeda Eletrónica), que já disponibilizem transferências tradicionais em euros, a oferecer a sua versão de transferências imediatas, ii. garantir que as comissões cobradas por transferências imediatas são iguais ou inferiores às das transferências tradicionais, iii. implementar um serviço de confirmação do beneficiário das transferências imediatas, aumentando a segurança e confiança no serviço e iv. verificar os clientes contra as listas de sanções da UE pelo menos uma vez por dia, mas não durante a operação, simplificando o processo. Os pagamentos em tempo real trazem importantes desafios a superar, nomeadamente a manutenção de uma infraestrutura robusta e resiliente através do investimento em tecnologia de segurança avançada para deteção e prevenção de fraudes em tempo real. Além disso, também a padronização e interoperabilidade entre diferentes sistemas e fronteiras, como fator essencial à eficácia desses pagamentos e, finalmente, a regulamentação adequada como alicerce à segurança e ao combate a atividades ilícitas. Em termos de evolução de curto prazo, a publicação e implementação do novo regulamento da UE deverá ocasionar um substancial aumento na adoção de transferências imediatas. No médio prazo, a integração com outras tecnologias emergentes – como blockchain – e com as futuras moedas digitais de banco centrais – como o Euro Digital – serão a alavanca para avanços significativos nos pagamentos em tempo real. O Bison Bank posiciona-se na vanguarda destas inovações, em conjunto a sua subsidiária Bison Digital Assets. A longo prazo, é expectável que estes pagamentos se tornem uma característica padrão da economia digital.

Gonçalo Santos Lopes
Country Manager
da Visa em Portugal
Assistimos a uma evolução de comportamento dos consumidores, assim como das empresas portuguesas e europeias, que confiam cada vez mais nos métodos de pagamentos digitais, consideram-nos mais rápidos, seguros e cómodos. Neste contexto, os consumidores e empresas procuram pagar e ser pagos mais rapidamente, pelo que os pagamentos em tempo real representam uma grande oportunidade. Métodos mais flexíveis permitem à economia facilitar formas de trabalhar e viver o quotidiano com maior qualidade, e apoiar as economias locais. Dispomos de algumas tecnologias que ajudam isso mesmo, como a Visa Direct e Visa Direct Payouts, que permitem às empresas efetuar pagamentos conta-a-conta em tempo real. Isto é extremamente importante, pois assim, parceiros como a Uber e a Airbnb, conseguem pagar em tempo real. A segurança, por sua vez, é um dos maiores desafios. Na Visa, criamos e mantemos a confiança no mercado, mantemos o dinheiro seguro e cumprimos padrões de serviço elevadíssimos. Nos últimos cinco anos investimos mais de 9 mil milhões de euros em tecnologia – de modo a manter a rede a funcionar ao ritmo certo e atualizada. Como já referi, os consumidores estão virados para o digital, mas exigem mais conveniência em termos de segurança e experiência de pagamento. Estamos concentrados em proporcionar aos consumidores a flexibilidade de recusar, adiar ou pagar parcialmente, para aliviar, com flexibilidade, os seus planos de pagamento a consumidores e comerciantes. Em termos de tendências, a principal é a expansão do comércio eletrónico e dos pagamentos sem contacto. Agora, estes são impulsionados por dispositivos móveis, portáteis e soluções inovadoras como a tokenização e os transportes públicos de circuito aberto. Existem atualmente mais tokens Visa (6 mil milhões) do que cartões físicos em todo o mundo. Os tokens ocultam e tornam os dados de pagamento sensíveis mais discretos e seguros face à possibilidade de fraudes, proporcionando uma melhor experiência ao consumidor. O acesso aos transportes urbanos através de pagamentos contacless proporcionam aos consumidores uma experiência de pagamento rápida e segura. Na Visa temos privilegiado ferramentas que permitam isso mesmo, e já introduzimos soluções de pagamento sem contacto nos transportes públicos em mais de 650 cidades em todo o mundo, como é o caso da cidade do Porto.

Eduardo Nunes
Senior Manager
da Ask Blue
Historicamente, o negócio de pagamentos tem sido um processo nuclear e continua a ter um papel vital na atividade bancária. A relação da banca com os seus clientes ainda assenta muito neste segmento, independentemente do canal ou “touchpoint” utilizados, de onde, segundo alguns estudos, mais de 40% da receita dos bancos provém (em média). Mas, nos tempos mais recentes, os desafios para o setor, com a desintermediação do processo de pagamentos, têm vindo a agudizar-se. A mudança de paradigma com os recentes tempos de pandemia (Covid-19), em que o comércio eletrónico cresceu exponencialmente e, como consequência, também os pagamentos eletrónicos, tem provocado o aparecimento de vários outros agentes a tentarem ganhar uma parte significativa desta fonte de receita. Operadores tradicionais de soluções de pagamentos, mas sobretudo novas plataformas tecnológicas que providenciam os chamados “embedded-finance products”, – processos de negócio financeiros, pagamentos e não só, incorporados numa experiencia de utilizador que pode ser B2B2B ou B2B2C, ou seja, operação de intermediação ou operação até cliente final – têm vindo a crescer a e capturar uma fatia cada vez mais crescente deste mercado. Neste contexto, assume particular importância a jornada de cliente. Paralelamente, a confiança e segurança dadas ao utilizador, a rapidez, fiabilidade e consistência na execução, e o “tracking” de toda a jornada, bem como o suporte, passam a ser o foco central, permitindo alargar a base de clientes para estes novos “players” de mercado e seguir estratégias de crescimento. Primeiro, oferecem apenas um serviço, tipicamente pagamentos mas com o tempo e com o aumento da base de dados alargam os serviços prestados, tornando estes mais complexos e de maior importância na cadeia de valor, o que garante maiores níveis de receita e de retenção dos clientes. No final do dia, como sempre, a conquista da confiança dos clientes é fundamental, mesmo nestes mais recentes modelos de negócio digital.

Gonçalo Duque
Delivery Manager – Payments & Consumer Credit da Asseco PST
A utilização de um cartão físico, até agora o veículo preferencial utilizado nos pagamentos de compras, está seguramente a viver os seus últimos dias. Sugiro abordar a temática da revolução no setor dos pagamentos através da perspetiva de duas grandes transformações e do impacto que as mesmas terão na experiência dos ditos pagamentos.

1. Democratização da autenticação: A digitalização dos pagamentos, como sejam o advento dos cartões virtuais e os pagamentos tokenizados, está gradualmente a desviar a autenticação exclusiva das redes tradicionais (Visa, Mastercard, …), para novos agentes que garantem a mesma autenticação segura (ApplePay, GooglePay,…). Estes novos players têm duas enormes vantagens sobre os tradicionais: i) a portabilidade do dispositivo gerador do criptograma (telemóveis, dispositivos wearables,…) já presente no utilizador; ii) conhecimento e fidelização do consumidor conseguida através da contratualização prévia dos serviços da sua oferta tradicional.

Em breve, os mecanismos de autenticação portátil referidos irão também perecer em detrimento da autenticação biométrica. Esta evolução tem sido adiada. Não por aguardar uma qualquer disponibilização tecnológica, mas apenas por resistência legislativa, nomeadamente no que concerne à proteção de dados.

2. Fidelização em todas as experiências de compras: Os processos de fidelização tradicionais, por acumulação de pontos ou coupons associados a um qualquer cartão de comerciante, irão em breve tornar-se invisíveis para o utilizador. Apps com algoritmos de machine learning passarão a gerir as nossas opções de compra. Mesmo o próprio setor financeiro, na sua oferta de produtos e serviços, terá a possibilidade de a disponibilizar a essas aplicações especializadas em consumo para que elas produzam a escolha mais vantajosa para o consumidor.

Fernando Carvalho
Administrador
da Unicre
Acreditamos que os próximos anos continuarão a ser de muita inovação no setor financeiro, em especial no que que diz respeito aos métodos de pagamento. Uma vez que os hábitos dos consumidores são cada vez mais digitais – de acordo com o estudo Economia Digital em Portugal 2022, da ACEPI, o nosso país registou, no ano passado, um total de 56% de compradores online, um crescimento de 17% face a 2019 –, cabe ao setor financeiro acompanhar esta tendência no sentido de proporcionar experiências de pagamento que vão ao encontro das reais necessidades dos clientes. Atualmente, assistimos a uma generalização da utilização da tecnologia contactless, mas, a curto e médio prazo, poderemos estar a assistir à predominância das wallets digitais, em que basta termos um cartão de crédito, débito ou ter dinheiro associado a uma conta para conseguirmos fazer pagamentos num ambiente digital.

Adicionalmente a este desafio, de acompanhamento e resposta às tendências de consumo, destaco, ainda, duas preocupações dos clientes que emergem a par da inovação tecnológica: segurança e humanização. A segurança das transações em tempo real tem sido um ponto de foco para o setor financeiro, que, em resposta, tem vindo a investir fortemente em soluções de cibersegurança, além dos habituais mecanismos de segurança, como a autenticação forte, a tokenização de transações, as assinaturas digitais certificadas ou a assinatura com chave móvel digital.
Por sua vez, e apesar desta disrupção digital, os clientes continuam a valorizar a relação de proximidade com as instituições financeiras, na medida em que procuram, através de canais de contacto mais diretos, uma resposta rápida e eficaz. Duas preocupações que motivam o nosso propósito de ligarmos pessoas, empresas e tecnologia, proporcionando experiências de pagamento únicas.

Fernando Castro e Solla
Partner da Baluarte
Wealth Advisors
“Nos anos 90, período em que a Bolsa portuguesa teve aliás uma forte participação popular, um investidor individual que pretendesse comprar ações em mercado, deslocava-se ao balcão do seu banco, ou outro intermediário financeiro, assinava a ordem e esperava 3 dias para conhecer o resultado da mesma. Passados 30 anos, há hoje intermediários e praças de negociação que medem o tempo de resposta em frações de segundo. Esta espantosa evolução, em tudo assente na revolução tecnológica, trouxe enormes benefícios às instituições financeiras e aos seus clientes. Os ganhos de produtividade do lado das instituições financeiras foram evidentes (traduziram-se aliás nas sucessivas ondas de redução de recursos humanos e de balcões). Foram igualmente evidentes os ganhos de qualidade no serviço prestados à generalidade dos clientes destas instituições traduzidos na poupança de horas em deslocações e filas de espera nos balcões. Houve, no entanto, um elemento que não acompanhou esta evolução: a literacia, e consequente autonomia do investidor agora empoderado com ferramentas de investimento “do it yourself”. Conscientes desta realidade, dois intervenientes têm vindo a ganhar protagonismo neste contexto – reguladores e os “curadores” de investimentos, ie, os Consultores de Investimento. Os primeiros, empenhados em criar regras, limites e obrigações tendentes a proteger o investidor; os segundos empenhados em mediar os inevitáveis conflitos de interesse entre intermediários e investidores, sempre em defesa destes últimos. O futuro dos Serviços de pagamentos, de transações e afins, on-line vai continuar a viver da gestão deste fino equilíbrio entre tecnologia (e livre acesso aos mercados), regulação e o cliente (apoiado no seu consultor de investimento independente) até que uma literacia – pedra basilar de uma eficaz autorregulação – mais adequada e profunda, torne algumas peças deste triangulo menos necessárias. Quando lá chegarmos poderemos usufruir em pleno das vantagens que a evolução tecnológica tem trazido neste campo, tornando assim o processo mais ligeiro e, no fim, mais seguro para todos como se deseja.”

Sebastião de Lancastre
CEO&Founder
da Easypay
A transformação dos pagamentos ainda agora começou. É um facto que a pandemia acelerou a transformação digital mas ainda estamos no princípio da mudança.

Vamos mudar e habituarmo-nos a algumas alterações.A primeira é deixar de usar os cartões. Se está habituado a pagar sem contacto agora vai pagar com o telemóvel ou com o relógio, e garanto lhe que quando experimentar não vai querer outra coisa. É que não ter que tirar o cartão da carteira receber o papel e voltar a guardar tudo juntamente com as compras que acabou de fazer é mesmo uma sensação de leveza. Isto sim são pagamentos sem fricção e que ajudam a salvar o planeta porque até o papel pode ser dispensado. Depois vêm os QRcodes. Eles vão permitir começar uma subscrição, enviar dinheiro para um conta sem ter que preencher o iban ou até fazer um simples donativo. A easypay está neste momento a juntar os qrcode com o WhatsApp e os robots para conseguir fazer donativo como se tivesse numa conversa com o seu melhor amigo. É uma experiência que nos faz pensar porque não é tudo assim tão simples. Por fim posso falar ainda dos pedidos de pagamento via easypay. Sim já está habituado a fazer isso com o MBway, mas fazer isso entre empresas é outra loiça. Neste caso a empresa recebe um e-mail com a ou as faturas em dívida, escolhe as que quer ou pode pagar, escolhe com que meio de pagamento vai pagar e magicamente tudo acontece e fica conciliado com a conta bancária. E se por acaso for necessário pagar a prestações também pode tratar com simplicidade desse crédito, ou parcelamento como no outro lado do Atlantico dizem. Como em tudo na vida existem aquelas empresas inovadoras ou aquelas que estão atentas a estas pequenas revoluções e que por isso estão na linha da frente e sabem aproveitar estas transformações para serem mais eficientes e os seus clientes comprarem mais e pagarem mais depressa. Para todas as outras lembro que ainda é possível enviar cartas, não é tão rápido nem tão eficiente. Tudo se faz, mas não se faz num instante.

 

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