A expansão do Chega está a prejudicar o PSD por duas vias. Em primeiro lugar, e de forma mais óbvia, pela transferência directa de intenções de votos entre os dois partidos. Em segundo lugar, de forma mais indirecta, ao impedir a transferência natural de intenções de voto do PS para o PSD. Muitos eleitores flutuantes, os que decidem as eleições, estarão a resistir a esta mudança, pelo receio de que os sociais-democratas se venham a coligar com o Chega. Julgo este último aspecto da maior importância.

Apesar desta sangria eleitoral, tudo indica que o PSD não sabe o que fazer com o Chega, não respondendo minimamente a este desafio e não tendo um discurso claro sobre como tenciona lidar com este partido após uma provável futura vitória eleitoral da direita dependendo, muito fortemente, dele.

Neste momento, é lícito suspeitar que a inacção do PSD está a gerar um ciclo vicioso, que aumenta o rácio de intenções de voto no Chega em relação ao PSD, que já ultrapassou os 50%. É útil recordar que, há muito pouco tempo, em Janeiro de 2022, o Chega teve apenas 25% dos votos e 16% dos deputados do PSD.

Por isso, julgo que se impõe ao PSD o seguinte TPC, de análise e resposta às intenções de voto no Chega. Em primeiro lugar, fazer um levantamento das principais razões que levam ao voto neste novo partido e dividi-las em três grupos: A) razões ilegítimas; B) razões legítimas, que o PSD perfilharia; C) razões legítimas, mas em que o PSD não se revê, pelo menos na formulação que lhe é dada pelo Chega. Adianto já que não me vou ocupar deste terceiro grupo, pela sua complexidade.

No grupo A, das razões ilegítimas, incluiria o direito a continuar a ser racista, homofóbico, etc., defender a pena de morte e outras ideias que, mais do que ferirem a Constituição, vão contra princípios básicos dos direitos humanos e de uma sociedade democrática. Era importante perceber se são assim tão importantes para estes potenciais eleitores (o que até duvido), por serem as mais criticadas.

No grupo B incluem-se temas como a luta contra a corrupção. O PSD tem de se libertar da suspeita de que o seu silêncio sobre este tema importantíssimo e gravíssimo se deve ao medo de ter uma justiça mais eficaz, que coloque na cadeia larguíssimas dezenas de dirigentes social-democratas. As respostas – tardias e limitadas – ao escândalo requentado na autarquia de Lisboa são claramente insuficientes, até por não haver qualquer crítica a uma investigação que gasta tantos recursos durante sete anos e ainda nem sequer foi capaz de produzir uma acusação, quanto mais uma condenação.

Os eleitores precisam de sentir que a sua mais do que legítima revolta com o estado a que a “justiça” chegou é compreendida, e que o PSD tem medidas para corrigir os problemas à medida da gravidade destes, mesmo consciente de que o Chega não tem soluções para nada.

O autor escreve de acordo coma a antiga ortografia.