[weglot_switcher]

Trabalhadores do Fisco alvo de “maus tratos e injúrias” após problemas nos serviços (com áudio)

Depois do “caos” por causa das falhas informáticas, os trabalhadores dos serviços do Fisco estão a ser alvo de “maus-tratos e injúrias”, alerta a presidente do STI. Escassez de recursos humanos agrava a sobrecarga, salienta Ana Gamboa.
8 Agosto 2022, 07h10

Os problemas informáticos que se registaram, nas últimas semanas, nos serviços da Autoridade Tributária (AT) já estão solucionados, mas os trabalhadores têm sido alvo “praticamente todos os dias” de “maus tratos e injúrias” por pessoas que, por causa destas falhas, não conseguiram ser atendidas “no tempo que gostariam”. A denúncia é feita por Ana Gamboa, presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos (STI), em entrevista ao Jornal Económico.

Depois de uma atualização informática, a AT reconheceu que em julho os seus serviços registaram “constrangimentos temporários”, tendo garantido, contudo, pouco depois, que as falhas estavam na sua maioria superados. O STI veio, porém, avisar que se estava a viver uma situação caótica nos serviços.

“O que viveu no início de julho foi uma situação algo caótica, porque foi implementada uma nova aplicação. Os trabalhadores não foram devidamente preparados para utilizarem essa aplicação e, a somar a isto, a própria atualização, quando entrou em funcionamento, deu uma série de erros, que bloqueavam os acessos”, descreve Ana Gamboa.

Segundo a sindicalista, entretanto, os problemas informáticos já estão solucionados e a situação de “extremo caos” regularizada, mas “a pressão continua”, alerta. “Temos tido reporte praticamente todos os dias de maus tratos e injúrias das pessoas que querem ser atendidas e que, por não conseguirem ser no tempo que gostariam, acabam por descarregar nos trabalhadores que estão em funções”, denuncia a presidente do STI.

Ana Gamboa sublinha, assim, que a “situação de mau funcionamento, portanto, não se resolveu” e adianta que não vê uma solução a curto prazo. Isto “porque o problema maior é a falta de recursos humanos”. Aliás, na entrevista que o Jornal Económico publicou recentemente, a presidente do STI antecipa que quase 40% da força de trabalho da AT sairá para a reforma nos próximos seis anos, sendo preciso recrutar, pelo menos, 500 trabalhadores por ano para mitigar essa evolução.

“Os trabalhadores da AT estão em constante sobrecarga e sempre com serviço a acumular, que têm de gerir. Muitos trabalham fora de horas, outros ao fim de semana. Existe um sentido de brio profissional e as pessoas não conseguem deixar cair a toalha, mas depois, em algum momento, isto vai rebentar. Infelizmente, para alguns colegas nossos, tem acontecido situações disto rebentar na sua própria saúde”, adianta a sindicalista.

STI celebra 45 anos

A celebrar 45 anos, o Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos é “atípico”, no que diz respeito às tendências de sindicalização, frisa Ana Gamboa. É que, enquanto na generalidade das outras estruturas se fala num declínio, neste a taxa de sindicalização ronda os 70%.

“O STI tem uma componente de ação social: as pessoas, quando se sindicalizam, fazem-no para pertencerem a uma organização que as represente e que as pode defender, nas questões laborais, mas aqui, além disso, quase metade da quota vai alimentar um fundo de ação social, onde são concedidos empréstimos em situação de emergência ou de doença”, explica a sindicalista. E salienta: “No nosso caso, temos uma taxa de sindicalização que ronda os 70%, o que é altamente atípico na Administração Pública e na classe trabalhadora em geral.”

Para celebrar a fundação do sindicato, têm sido preparadas algumas iniciativas de “caráter mais recreativo”, bem como algumas conferências. “Queremos criar um espaço para debate de algumas questões relacionadas com as funções e perspetiva-las em termos de futuro. A próxima conferência está prevista para outubro e o tema será a função tributária e aduaneira do Estado na perspetiva política”, adianta Ana Gamboa.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.