Trabalhar menos ou trabalhar melhor? O tema do encurtamento da semana laboral entrou na agenda, não apenas a nível nacional, mas também global. Na sua edição deste mês de janeiro, a revista “Courrier Internacional” interroga-nos sobre se a semana de quatro dias vai ser o futuro do trabalho, reunindo artigos do “Financial Times”, do espanhol “Cinco Días”, do “The New York Times” e “The Christian Science Monitor”.

Na verdade, há muito que as horas efetivas de trabalho não correspondem e, por vezes, até em muito ultrapassam, as que estão definidas pelo horário laboral. Um exemplo evidente é o dos professores, cujas horas de preparação e avaliação de trabalhos e testes, para não falar das tarefas administrativas, soma horas em casa às que são definidas por contrato. Mas muitas outras profissões passam por situações similares.

Nesse sentido, os efeitos práticos e as consequências da recente Lei portuguesa sobre “o direito ao desligamento”, falada em todo o mundo, deverão ser acompanhados de perto e com muita atenção, para mais após as palavras de Naj Ghosheh, o jurista da Organização Internacional do Trabalho que em recentes declarações citadas pelo “Público” veio afirmar que a solução portuguesa para garantir o direito de os trabalhadores não responderem a mensagens da entidade patronal, enviadas fora do horário acordado, é “inovadora” e “poderá influenciar os regulamentos europeus nesta matéria”.

Importa, assim, ir para além do conceito da semana de trabalho da forma como nos habituámos a vê-la. Como esta pandemia nos demonstrou com a obrigatoriedade do teletrabalho, existe uma fluidez entre o doméstico e o profissional que não é compaginável com definições de fronteiras artificiais.

O caso irlandês, que iniciará no próximo mês de fevereiro uma experiência piloto de seis meses com a introdução da semana de quatro dias, será muito interessante de seguir, até porque a campanha “Four Day Week Ireland” conseguiu reunir sindicatos, associações sectoriais e universidades, num conceito que tem por base aquilo que o sindicalista Kevin Callinan resumiu num slogan: “100% de produtividade, 80% de tempo, 100% de pagamento”.

No entanto, mesmo que a experiência irlandesa revele resultados positivos, e como infelizmente bem sabemos, Portugal não é a Irlanda. Por cá, os 100% de produtividade são uma total miragem num horizonte que nos parece inalcançável. Um trabalho recente da Pordata revelou, aliás, que Portugal é um dos seis países com menor produtividade da União Europeia. Ou seja, geramos pouca riqueza por hora de trabalho e, nesse defeito, somos acompanhados pela Bulgária, Grécia e Letónia, numa lista encabeçada pelo Luxemburgo, Dinamarca e, lá está, Irlanda.

Como escreveu Fernando Pessoa pouco antes de morrer: “Who knows what tomorrow will bring?”. Uma coisa é certa, virão em breve novas mudanças na forma como enfrentamos a vida, em todas as suas dimensões. A laboral e as outras. O ideal é aprender com o exemplo dos melhores.

 

 

Está de parabéns António Horta Osório pela sua postura de elevada dignidade e cumprimento das regras éticas, ao demitir-se da presidência do Credit Suisse devido ao incumprimento da quarentena imposta pelas regras anti-Covid. Este seu comportamento apenas reforçará a imagem positiva do banqueiro a nível mundial.