O que o trabalho híbrido, o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e a recente quebra de serviço das redes socias têm de comum? Aparentemente nada, mas na realidade tudo.

A relação das empresas portuguesas com o teletrabalho tem sido difícil. São sabidas as suas vantagens económicas, sociais e ambientais, mas a incerteza dos seus custos ainda é elevada. Se em Lisboa se verificou uma elevada adoção do teletrabalho acima da média europeia, nas restantes regiões foi bem abaixo. No verão, a consultora PwC publicou um inquérito em que 63% dos trabalhadores referem que a empresa ficou mais produtiva, mas apenas 26% dos patrões partilha da opinião.

Nas últimas semanas, muitos portugueses viram o regresso obrigatório ao escritório e tem-se criado a sensação de que os prometidos modelos híbridos serão afinal exceções, talvez predominantes nas multinacionais, cavando um fosso entre diferentes realidades. Existem várias razões para este comportamento desde temas socioeconómicos e de instabilidade legislativa, a adicionar um fator crítico que tem tido muito pouca atenção: qualidade da infraestrutura de TI. E know-how digital da administração, que vai além do CTO.

Quando o teletrabalho se tornou obrigatório, os media (e, ainda hoje, os legisladores) resumiram os obstáculos à existência de material de escritório (computadores) e largura de banda. No terreno rapidamente se percebeu que é muito mais do que isso. Empresas com bons processos digitais e menos infraestrutura são mais produtivas do que as com excelente infraestrutura e maus processos.

Um exemplo familiar para muitos foram as aplicações centrais do negócio que não estavam web-based, e que dependiam de um programa instalado nos computadores físicos no escritório. A necessidade de uma resposta rápida levou a uma manta de retalhos entre acessos em cadeia remotos, lentos e muito pouco eficientes para o utilizador, e a migrações à pressa para clouds caras e com enormes riscos de segurança. O número de ciberataques bateu recordes durante a Covid-19.

A verdade é que o sucesso do teletrabalho está diretamente ligado a uma boa estratégia e execução digital, que implica decisões fundamentais que requerem conhecimento, investimento e tempo, e não se limitam ao departamento de TI. Decisões — como que tipo de aplicações é necessário investir; que tipo de infraestrutura deve ser própria ou baseada em cloud ou o nível de investimento em cibersegurança — são complexas e exigem bom conhecimento técnico e financeiro.

Mas são cada vez mais fatores não só de diferença de produtividade ou lucro, mas de vida ou morte das empresas. Pelo que é necessário investir em quadros seniores capazes de compreender o negócio a par do digital, e é fundamental apostar em infraestrutura digital. Neste sentido, o PRR apresenta-se como uma oportunidade única de dar um passo em frente, e o investimento digital deve ser central na sua execução. Não apenas em largura de banda ou computadores, mas numa verdadeira digitalização do negócio.

E qual a relação com as redes sociais? No passado dia 4, o Facebook e subsidiárias estiveram sem serviço várias horas e foi decidido fazer uma reinicialização a vários servidores numa tentativa de repor o serviço, acontece que os empregados que tinham essa responsabilidade ficaram bloqueados fora dos data centers, porque o sistema que permitia validar os cartões de acesso para entrar estavam nos próprios data centres e como tal também fora de serviço. Também no Facebook más decisões da infraestrutura de IT custam milhões ao negócio.