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Transferência de Cristiano Ronaldo é um ‘case study’, diz Fórum da Economia Mundial

Há muitos milhões na indústria do futebol, mas isso não quer dizer que seja fácil para os clubes darem proveitos. Na realidade, os elevados custos de operação são um obstáculo grande, desde logo a folha salarial.
11 Agosto 2018, 12h30

Jogadores como Pelé, Maradona, Eusébio, Cruyff, Ronaldo (Fenómeno) marcaram o mundo do futebol. A estes nomes – e a tantos outros – há ainda que juntar os dois aliens da actualidade futebolística: Cristiano Ronaldo e Messi. Ambos são sinónimos de golos, assistências, vitórias, títulos, estádios cheios e, claro está, receitas para os clubes. Mas há um aspecto em que o português tem clara vantagem sobre o argentino: o número de seguidores nas redes sociais.

Segundo o Fórum Económico Mundial (FEM), CR7 tem mais de 300 milhões de seguidores nas várias plataformas. O número é de tal maneira grande que há fotografias do jogador da Juventus que têm mais likes do que o número de habitantes em Portugal. A popularidade de CR7 nas redes sociais é um aliciante para qualquer clube que conte com madeirense na sua frente de ataque – não são apenas os seus remates certeiros que contam. O FEM escreve que os contabilistas da Vecchia Signora que a marca CR7, fortíssima nas redes sociais, aumentem não só as receitas provenientes dos direitos televisivos, como também as receitas de bilheteira e de patrocínio. Estas três componentes correspondem a 64% das receitas totais da Juventus, de acordo com os últimos resultados apresentados.

Cristiano Ronaldo, o jogador, e CR7, a marca, são importantes para a economia de qualquer clube de futebol que, como qualquer outra empresa, tem receitas diversificadas. No caso da Juventus – e de qualquer outro clube – as receitas provêem essencialmente de três segmentos. Perceber como é que um clube de futebol faz dinheiro ajuda a desmistificar frases como “o Ronaldo já vendeu tantas camisolas da Juventus que quase pagou a transferência do Real Madrid para o gigante do futebol italiano”. “Fazer uma assunção dessas seria ignorar as economias que gerem um clube de futebol”, escreve o FEM.

Antes de tudo, convém explicar que a Juventus apenas fica com 10% a 15% das receitas totais da venda de camisolas. “Isso quer dizer que a Juventus precisaria de vender cinco milhões de camisolas do Ronaldo para recuperar o valor da transferência”, a sexta mais cara de sempre (por enquanto). E, mesmo assim, essa receita não seria suficiente para pagar o salário do novo nº7 dos bianconeri.

Em relação à primeira fonte de receitas, não é segredo nenhum que a maior fatia das receitas de um clube de futebol advém dos direitos de transmissão televisivos. Estas incluem naturalmente a transmissão dos jogos em casa em diferentes competições e receitas conexas, como por exemplo, vender subscrições a um canal já estabelecido. Segundo a consultora Deloitte, os principais clubes ingleses, franceses e italianos geram, em média, 50% das suas receitas com a venda dos direitos de transmissão. No entanto, regra geral quem faz o negócio são as entidades que gerem as ligas profissionais de futebol que depois distribuem as receitas pelos clubes, consoante as suas performances. E, quanto melhor a equipa, melhor joga (na teoria) e mais recebe. E aqui reside mais um aspecto importante em torno da transferência de CR7: aquando da sua passagem conjunta pelo poderoso Manchester United, Carlos Queiroz, então adjunto de Sir Alex, disse que Cristiano punha a equipa a jogar melhor.

A segunda grande fatia das receitas de um clube de futebol vem dos contratos que faz com as marcas que o equipam ou com a venda do naming do estádio em que joga. Estão aqui em cause entre 20% a 30% das receitas de um clube. Em terceiro lugar surge a receita de bilheteira e a venda de mercadorias nas lojas dos clubes que tipicamente representam menos de 10% do rendimento dos clubes.

Quanto às transferências de jogadores, que desde o super negócio de Neymar em 2017 passaram a atingir valores incalculáveis, nem sempre todos os clubes ganham dinheiro. Os grandes clubes, por sinal os mais ricos, são os que menos ganham com as transferências pelo simples facto de que conseguem segurar os melhores jogadores até que estes deixem de ser tão valiosos. Pense-se, por exemplo, no caso recente de Alisson Becker, o guarda-redes titular da seleção do Brasil e que custou ao Liverpool 75 milhões de euros. Em sentido contrário, os clubes mais pequenos, conseguem ganhar bastante dinheiro com as vendas das suas pérolas.

No entanto, é mais fácil incorrer em custos na indústria do futebol do que gerar receitas. Ao lado dos custos (elevados) de operação, depois de pagar avultadas somas pela aquisição de jogadores, os clubes ainda têm que pagar salários. E, nos grandes clubes, a folha salarial é extensa.

Neste sentido, o FEM explica que uma das maiores preocupações dos clubes de futebol prende-se com o rácio salário/receitas. “Nas principais ligas europeias, este rácio situa-se nos 58%, mas os outros custos operacionais tornam difíceis a obtenção de lucros por parte dos clubes de futebol”, lê-se. “Até o Manchester United, uma das equipas que mais receita gera no futebol mundial, apenas apresentaram resultados líquidos de 63 milhões de euros depois de receitas acima dos 600 milhões”. Em média, só em salários, os clubes gastam em média 45% das suas receitas.

Assim se percebe que ter contrato Cristiano Ronaldo não é um investimento para o curto prazo – sim, ganhar a Champions já em 2018/19 seria um feito estupendo – mas antes para o longo prazo. Melhor dizendo, a transferência de Ronaldo “deve ser encarada como uma jogada de ataque paciente que vai criar uma série de boas oportunidades. E, ao longo do tempo, a Juventus tem que assegurar que os custos associados à compra de Ronaldo – prémio de assinatura, salário e custos para o manter no top – serão compensados pelas receitas que ele pode ajudar a gerar”, diz o FEM.

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