“Transformar o poder em serviço à cidade”

A minha tomada de consciência sobre a problemática do desperdício alimentar surgiu quando, em 2009, após uma longa conversa com o Comandante António Costa Pereira, pude constatar que, apesar do elevado empenho das várias instituições da cidade, a existência de uma rede abrangente só seria possível com um verdadeiro compromisso municipal. As várias iniciativas da […]

A minha tomada de consciência sobre a problemática do desperdício alimentar surgiu quando, em 2009, após uma longa conversa com o Comandante António Costa Pereira, pude constatar que, apesar do elevado empenho das várias instituições da cidade, a existência de uma rede abrangente só seria possível com um verdadeiro compromisso municipal.
As várias iniciativas da sociedade civil, umas mais bem sucedidas que outras, demonstraram bem o espírito solidário dos Lisboetas mas deixaram igualmente clara a necessidade de um enquadramento que permita uma maior cobertura da cidade, no que respeita ao apoio às famílias.
Quando fui eleito vereador da CML, e após várias reuniões com as diferentes forças políticas, apresentei uma proposta sobre o papel do Município no apoio ao combate ao desperdício alimentar, designadamente na chamada recuperação alimentar, proposta esta que colheu o apoio unânime de todos os partidos representados na CML e que permitiu que Lisboa tenha um Comissariado Municipal de Combate ao Desperdício Alimentar.
Pela primeira vez em 40 anos de democracia no município de Lisboa, um vereador da oposição lidera um projecto municipal, sem no entanto comprometer a sua independência e o seu voto.
Com o contributo de dezenas de entidades da sociedade civil e da política, temos um plano/estratégia municipal de combate ao desperdício alimentar que poderá permitir a Lisboa tornar-se a primeira cidade, a nível mundial com uma efetiva rede de recolha e distribuição de refeições recuperadas para as famílias mais carenciadas. E é por nascer da sociedade civil que esta resposta não pode ser confundida com qualquer forma de assistencialismo centralista, sendo também certo que não constitui um modo de vida.
Este plano municipal define os contornos de um “caderno de encargos social” que emana da vontade da sociedade civil e das diferentes experiências de cada uma das entidades que integram o Comissariado, e simultaneamente estabelece um compromisso social entre todos os seus protagonistas, visando a posterior integração dos seus beneficiários nas respostas sociais da CML, designadamente através da rede social.
Uma coisa é já certa: com este comissariado e com o plano municipal, a tomada de consciência dos lisboetas sobre a necessidade de alterar mentalidades e hábitos será, sem dúvida, mais rápida.
A frase de Nuno Krus Abecassis, a quem Lisboa tanto deve e que dá o título a este texto, transmite na perfeição o espírito suprapartidário e aquilo que se pretende com o trabalho do comissariado: que aqueles que detêm o poder político o transformem em verdadeiro serviço, responsabilidade e missão maior para a qual fomos, nós autarcas, eleitos pelos cidadãos em prol de uma melhor e mais solidária forma de viver a cidade.

João Gonçalves Pereira
Vereador do CDS-PP na CM Lisboa e Deputado do CDS-PP à AR

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