Se as metrópoles relevantes do globo investissem em modernizar as redes de transportes públicos teriam ganhos de mais de 310 mil milhões de euros por ano, indica um dos primeiros estudos a atribuir um valor económico aos custos dos transportes ineficientes.
As cidades, responsáveis por gerar 80% do produto económico global, são os motores do crescimento futuro. No entanto, numa economia globalizada, em que a transferência internacional de empresas e recursos humanos é cada vez maior, os centros urbanos têm de competir entre si para proporcionar o ambiente mais atrativo para a atividade económica. E os transportes são considerados um dos principais fatores de competitividade de uma cidade. Só que a falta de recursos financeiros limita muitas vezes a capacidade de investir nas redes de transporte.
Se as grandes cidades do globo apostassem na modernização das redes de transportes públicos teriam um benefício económico de quase 800 mil milhões de dólares (cerca de 690 mil milhões de euros) em 2030. Esta é uma das conclusões do estudo “A Oportunidade da Mobilidade”, realizado pela consultora britânica Credo para a alemã Siemens. No documento são analisadas as redes de transportes públicos em 35 metrópoles e é avaliado o grau de preparação face aos desafios futuros, incluindo o crescimento da população e a maior concorrência existente entre as cidades na captação de investimento.
De acordo com o relatório Credo/Siemens, se as 35 cidades estudadas implementassem os padrões “best in class” adequados à sua realidade em termos de mobilidade em transportes públicos, o atual benefício económico anual seria de 119 mil milhões de dólares (102 mil milhões de euros). Em termos mundiais, o benefício económico anual para todas as cidades relevantes do globo seria de 362 mil milhões de dólares (312 mil milhões de euros).
Voltando às 35 metrópoles analisadas, com o aumento da população, a força de trabalho e a riqueza, os ganhos vão aumentar, e, em 2030, os benefícios económicos vão rondar os 238 mil milhões de dólares (205 mil milhões de euros). Já em termos globais, ou seja, para todas as cidades relevantes do mundo, a oportunidade situa-se quase nos 800 mil milhões de dólares (786 mil milhões de dólares), o equivalente a cerca de 1% do PIB mundial.
A oportunidade da mobilidade
Este estudo “é único na medida em que procura atribuir um valor económico aos custos dos transportes ineficientes, fornecendo, deste modo, argumentos às cidades para investir neste campo”, referem os responsáveis. A análise teve em conta fatores como o tempo de viagem, o congestionamento de tráfego e a densidade da rede, todos com um impacto profundo na produtividade de uma cidade. No sentido de assegurar uma comparação razoável, as cidades são divididas em três categorias, para ter em conta os diferentes níveis de riqueza e de desenvolvimento. E as metrópoles mais eficientes em termos de custos são:
– Copenhaga, Dinamarca (na categoria de “Cidades bem estabelecidas”)
– Singapura (nos “Centros compactos de alta densidade”)
– Santiago, Chile (na categoria “Cidades Emergentes”).
Chris Molloy, partner na Credo, afirma que “todas as cidades podem aprender com as principais na sua categoria, a fim de colmatar as lacunas na eficiência das suas redes de transporte, reduzir custos e aumentar a produtividade”. E adianta que “quanto mais eficiente for a rede de transportes de uma cidade, tanto mais atrativa será para os negócios e para os habitantes”.
Roland Busch, CEO de infrastructure & cities na Siemens e membro do conselho de administração da multinacional, acrescenta que “os melhores sistemas de transporte são aqueles que asseguram a mobilidade das pessoas de forma mais rápida, fácil e confortável até aos seus destinos. As cidades líder já atingiram este objetivo através de redes de transporte eficientes, com infraestruturas modernas, facilidade de conexões entre os vários modos de transporte e, acima de tudo, com uma estratégia clara de como satisfazer as necessidades futuras”.
35 cidades analisadas
Banguecoque, Tailândia
Berlim, Alemanha
Buenos Aires, Argentina
Cairo, Egito
Cidade do México, México
Chicago, EUA
Copenhaga, Dinamarca
Deli, Índia
Dubai, Dubai
Estocolmo, Suécia
Guangzhou, China
Hong Kong, China
Istambul, Turquia
Jacarta, Indonésia
Joanesburgo, África do Sul
Lagos, Nigéria
Londres, Reino Unido
Los Angeles, EUA
Madrid, Espanha
Melbourne, Austrália
Moscovo, Rússia
Mumbai, Índia
Nova Iorque, EUA
Paris, França
Pequim, China
Riade, Arábia Saudita
Santiago, Chile
São Paulo, Brasil
Seul, Coreia do Sul
Singapura, Singapura
Sydney, Austrália
Tóquio, Japão
Toronto, Canadá
Viena, Áustria
Xangai, China
Portugal quer executar PETI3+ até 2020
A administração central portuguesa estabeleceu um plano a ser executado até 2020, onde se assume que o investimento na modernização dos transportes e das infraestruturas associadas irá tornar o país mais competitivo na captação de negócios e na resposta às necessidades de mobilidade. O Plano Estratégico dos Transportes e Infraestruturas (PETI3+) engloba 59 projetos que representam um investimento total de 6067 milhões de euros, e inclui seis eixos de atuação, em função dos corredores considerados estratégicos. A grande fatia do investimento, 44%, será alocada aos projetos ferroviários, seguindo-se o sector marítimo-portuário; dentro deste investimento, cerca de 13% vai ser aplicado em transportes públicos de passageiros.