Instabilidade e educação em Portugal são sinónimos. Instabilidade de ministros, de conteúdos programáticos, de manuais escolares, de colocação de professores, e por aí fora. À necessidade de democratizar o ensino correspondeu um progressivo enfraquecimento da escola pública. À descontinuidade de políticas geradas por constantes mudanças ministeriais – entre 1976 e 2023 o tempo médio de um ministro da Educação no cargo não chega a dois anos – juntou-se uma permanente politização dos sindicatos de professores que, ao contrário dos ministros, exibem lideranças longas.
A FENPROF, por exemplo, teve 2 líderes nos últimos 28 anos. De acordo com dados da PORDATA, o número de inscritos em cursos superiores de educação atingiu o seu apogeu em 2001, com cerca de 51.224 alunos inscritos. Actualmente, e desde 2016, tem atingido os números mais baixos da história entre 12 e 15 mil por ano. A procura por cursos de educação caiu assim mais de 70% desde o virar do milénio, sendo que nas restantes áreas de formação e ainda de acordo com a mesma fonte, o número de alunos inscritos aumentou nesse período.
O actual ministro diz-nos que serão precisos 30 mil novos professores até 2030. Após 8 anos a assistir à deterioração da atractividade da profissão, o Governo acordou para o problema! O ritmo de reformas no sector e a incapacidade de atrair novos profissionais para uma profissão exigente, mal paga e sem progressão ou com progressão lenta, fazem deste um dos maiores desafios que Portugal enfrenta. Isto demonstra que governos e sindicatos têm vindo a destruir a educação e que alunos e professores são os maiores prejudicados nesta “guerra dos 100 anos” entre ministério da educação e sindicatos.
Os sindicatos como a FENPROF falharam redondamente, apesar do alarido e do bater no peito. A única coisa que a FENPROF e outros asseguraram ao longo das últimas décadas foi a sua própria existência. A classe de professores, essa, está de rastos. E quanto mais de rastos mais se justifica um sindicato, não é assim? Este é mais um exemplo da incapacidade endémica que existe em Portugal para o diálogo e bom senso, de estabelecer um propósito comum que vá para além dos interesses individuais e corporativos, e de trabalhar para a estabilidade de um sector tão crítico como o da educação.
Os próximos sete anos serão decisivos para rever a política educativa e integrar 30 mil novos profissionais num sistema que seja fiel ao seu propósito e que garanta uma educação de qualidade em Portugal.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.