Há estudos que demonstram que um comentário depreciativo escrito nas caixas de comentários dos jornais online tem um efeito de contágio e aumenta significativamente a probabilidade dos leitores seguintes terem uma opinião negativa sobre a notícia, isto se comparado com um grupo de leitores a quem não tiver sido disponibilizado esse comentário.

Quem pretende menosprezar e denegrir uma opinião com a qual não concorda, diz um estudo, é bem-sucedido. Porém o inverso também é verdade, através de comentários positivos amplificam-se opiniões que se gostam. Este facto tornaria a questão inócua não fosse a natureza humana muito mais propensa a criticar do que a elogiar. Nas caixas de comentários prolifera abundantemente mais ódio do que estima.

Estas são as regras do jogo numa época em que, a coberto de uma identidade qualquer, cada um se sente legitimado a dar o seu bitaite, mesmo que esse seja apenas do tipo jocoso ou ofensivo. Não se exige ao leitor-comentador o mesmo escrutínio que se exige ao autor.

Não é este o problema. Com efeito, não é apenas a fonte que determina a qualidade da informação, mas a maneira como ela foi pesquisada, apresentada e justificada. Neste sentido, a opinião de qualquer comentador é tão válida como a do autor do texto, desde que seja assumida com a mesma transparência de quem escreve e expressa de forma sustentada.

Caso contrário, e aqui sim está o problema, quando se entra no insulto todos perdem. Perde o autor de um texto e o jornal, que vêm a sua mensagem denegrida sem qualquer contraditório de valor, e perde a democracia, já que se desperdiça uma plataforma que poderia servir para acrescentar ainda mais dados e outras visões relativamente a um determinado assunto.

A questão dos comentários tem contornos maquiavélicos quando associada a uma estratégia de gestão de opinião pública. À medida que determinadas práticas saem do anonimato, sabe-se que existe gente que é paga para emitir determinada opinião, ou denegrir determinada opinião. E, de facto, se até já houve quem se desse ao trabalho de arranjar uns amigos e gastar uns milhares de euros na compra de livros para demonstrar uma suposta popularidade, isto é, pois, bem mais fácil de montar.

Ora, para os que andam por cá sem ser a coberto de algum interesse, além do interesse na riqueza da democracia, da discussão, da partilha e defesa de ideias, os comentários vazios de conteúdo ou insultuosos realmente dão que pensar. É que um dos argumentos em prol da troca de ideias resulta de uma ideia bem simples. Quando, no mundo físico, uma pessoa troca uma coisa com outra, no final da troca cada uma vai embora com uma coisa. Quando duas pessoas trocam uma ideia, no final cada uma vai embora com duas ideias. Dividindo multiplica-se.

O autor escreve segundo a antiga ortografia.