O novo governo britânico, liderado por Liz Truss, trouxe várias controvérsias relativamente ao seu plano fiscal que visa estimular o crescimento da economia nacional. As primeiras medidas anunciadas provocaram pânico logo à partida devido a cortes em impostos que, posteriormente, seriam financiados pelo Estado e que, juntamente com medidas para controlar o aumento dos custos de energia, iria traduzir-se num custo de cerca de 60 mil milhões de libras para o Estado.

O principal motivo para o pânico foi o novo plano que passava pela exclusão do escalão superior de 45% e da descida do escalão mais baixo de 20% para 19% sobre pessoas singulares. Após o anúncio destas novas medidas, o mercado reagiu negativamente, registando-se uma descida histórica da libra para 1,05 face ao dólar e vendas apressadas de Gilts por parte dos investidores. Esta reação deveu-se ao simples facto de não ter sido apresentado qualquer plano para reduzir despesas, de forma a mostrar sustentabilidade da dívida pública.

O Banco de Inglaterra viu-se, então, obrigado a intervir, subindo as taxas de juro para 2,25%, e a aliviar a dívida ao adquirir temporariamente Gilts no valor de 22,1 mil milhões de libras, mantendo a aquisição dos títulos com um teto diário de cinco mil milhões de libras até dia 14 de outubro, adiando, simultaneamente, a venda de novos títulos para dia 31 de outubro.

O FMI também não ficou indiferente e apelou ao governo britânico para cessar o corte nos impostos, uma ocorrência pouco usual para um Estado como o Reino Unido.

Este “giveaway” fiscal mostrou-se temporário quando o governo cedeu à pressão colocada pelo Banco da Inglaterra e pelo FMI e reverteu a sua decisão relativamente à exclusão do escalão superior de 45%, levando à maior subida da libra nas últimas duas semanas.

Mas importa perguntar o que levou a libra a baixar. Seria de esperar que, numa economia altamente desenvolvida, como a do Reino Unido, um aumento nas taxas de juro viesse valorizar a sua moeda. Todavia, observou-se exatamente o oposto, sendo este o cenário expectável apenas numa economia emergente. Este evento inesperado ocorreu devido à insegurança que os investidores sentiram face ao aumento imprevisível da dívida pública, mostrando a desconfiança que este novo governo gerou. A reversão mostrou instabilidade nas medidas tomadas face à segurança previamente evidenciada por Kwasi Kwarteng e Liz Truss.

Será que a falta de credibilidade deste novo governo pode criar uma maior volatilidade na sua moeda? Sentir-se-ão os investidores seguros para voltar a investir na libra após esta demonstração de incerteza nas próprias medidas aplicadas? Como se percebeu, os investidores abandonaram o barco quando confrontados com uma ameaça à estabilidade da libra, o que pode apontar para uma maior cautela por parte dos mesmos face à instabilidade global nos últimos anos.

Será de esperar que haja mais receio em investir na libra após este jogo de vai e vem, e, por isso, a descida da moeda pode ser uma realidade exequível, demonstrando indiretamente a opinião dos investidores relativamente ao novo governo britânico.

O artigo exposto resulta da parceria entre o Jornal Económico e o ITIC, o grupo de estudantes que integra o Departamento de Research do Iscte Trading & Investment Club.