Pedrógão Grande converteu-se no símbolo de uma tragédia que parece não ter fim à vista para as vítimas. Um ano depois dos nefastos acontecimentos que devastaram a região e onde faleceram mais de cem pessoas, assistimos à má sorte de muitos dos habitantes a quem não foi ainda entregue a habitação reconstruída. Em paralelo, as denúncias de má utilização dos fundos aumentam de dia para dia.

No seguimento das recentes denúncias na Comunicação Social, em concreto na reportagem da jornalista Ana Leal na TVI, que expuseram actos graves de falta de transparência e corrupção nos donativos e dinheiro públicos atribuídos à região de Pedrógão Grande, urge exigir a quem de direito, repito, exigir, uma intervenção célere na investigação criminal e conclusão da mesma.

Enquanto cidadãos não podemos permanecer indiferentes a esta questão que tanto desonra as vítimas como quem doou para a reconstrução e auxílio às populações afectadas. Como cidadã não quero ver uma habitante idosa obrigada a abandonar a casa provisória sem ter a definita pronta, isto um ano depois da tragédia e quando várias propriedades de segunda habitação já estão finalizadas e prontas a habitar.

Não quero ver um homem a chorar de dor e frustração ao mostrar às câmaras as obras que fez por sua iniciativa, revelando ter recebido apenas quatro mil euros de ajuda quando muitas habitações devolutas ou de férias receberam vinte vezes mais para a reconstrução. Vi palheiros serem dados como casas de habitação e reconstruídos como tal. Bem sei que me poderia manifestar de forma mais elegante, mas de momento só me ocorre isto – este país está podre.

Mas também assistimos a outras situações na reportagem e nas redes sociais, desta vez positivas. Ainda encontramos pessoas com carácter, donos de casas de segunda habitação que recusaram modificar a morada fiscal e falsificar os pedidos de ajuda optando desta forma por não receber auxílio financeiro ou materiais para a reconstrução das propriedades. Pessoas que esclareceram a verdade sobre casas devolutas usadas para as candidaturas dos apoios, mesmo vivendo em comunidades pequenas e à mercê da pressão usual neste tipo de denúncias. Vimos uma jornalista sem medo de confrontar e fazer as perguntas necessárias, e nas redes sociais muitos a discutir o assunto com fervor, a denunciar mais casos, a exigir justiça, mesmo estando o país em plena época estival e o futebol e as notícias pop próprias da época tenderem a monopolizar o tempo de antena.

Mas, no fim, o importante é isto – quanto tempo mais as vítimas dos incêndios vão ter de esperar pela recuperação das suas habitações e para ver os casos de corrupção apurados na justiça? E se fosse consigo? Com a sua família? Com a sua casa e bens? Uma coisa é certa, é no seu país, e quem cala consente.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.