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Tudo menos tédio: Guia para acompanhar o discurso de Trump no Congresso

“O discurso de Trump não vai ser aborrecido, porque Trump não é aborrecido”, afirmou Kellyanne Conway, conselheira do presidente, sobre o evento que centra todas as atenções hoje.
  • Carlos Barria/REUTERS
28 Fevereiro 2017, 11h00

Após 40 dias na Casa Branca, Donald Trump vai hoje ao Congresso (às 21 horas de Washington, duas horas da manhã de quarta-feira em Lisboa) apresentar as suas ideias a uma sessão conjunta das duas câmaras – o Senado e a Câmara dos Representantes.

O evento não está a ser apelidado de ‘Estado da União’, pois esse título é omitido no primeiro ano do primeiro mandato de um presidente, mas isso não retira qualquer peso às palavras de Trump. As primeiras semanas do republicano como presidente têm sido marcadas por decretos polémicos, especialmente sobre a imigração e questões ambientais, promessas económicas que têm levado os mercados americanos a novos máximos e a ameaça de uma estratégia externa isolacionista.

Quando, com pompa e circunstância, o Sergeant-at-Arms anunciar a entrada de Trump na Câmara dos Representantes (“Mister Speaker, the President of the United States”), o mundo vai estar atento. Os americanos (apoiantes e críticos), os vizinhos e parceiros, os investidores, milhões de pessoas querem perceber o que Trump planeia para a América e o seu papel no mundo.

A conselheira do presidente, Kellyanne Conway, tem razão: aborrecido não vai ser e Trump, e a sua equipa, já foram lançando pistas sobre o guião nos últimos dias.

Veja aqui os principais temas que o presidente deverá mencionar:

Balanço dos primeiros dias

“Podemos esperar que o presidente apresente uma recitação detalhada e refletiva das muitas coisas que já conseguiu fazer nos primeiros 40 dias”, explicou Conway.

No domingo, no baile dos Governadores, Trump adiantou parte da auto-avaliação. “Posso dizer que após quatro semanas – e foram muito divertidas – conseguimos fazer quase tudo que propusemos fazer”. O presidente salientou um dos seus temas favoritos: “As fronteiras estão mais rígidas, estamos a fazer um trabalho mesmo bom, o General Kelly [Secretário da Segurança Interna] tem feito um trabalho fantástico em termos militares”.

Trump afirmou que tem “uma equipa fantástica, uma A-Team” e que a administração está a receber bons relatos sobre o seu desempenho. Acrescentou que “há alguns problema grandes no mundo, mas estamos muito contentes com a forma como as coisas estão a funcionar. Fizemos muitas promessas nos últimos dois anos, e muitas dessas promessas já foram cumpridas”.

O desmantelar do Obamacare

Uma dessas grandes promessas de Trump foi eliminar o Obamacare, o programa criado por Barack Obama para alargar o acesso aos seguros de saúde a uma fatia mais ampla da população americana e que o novo presidente apelida frequentemente de “desastre”.

“Como vocês sabem, o Obamacare tem tido problemas enormes”, explicou Trump aos Governadores. “Mas vamos concertá-lo, e vamos revogar e substituir. E acredito que vocês vão ver algo muito, muito especial”.

Este deverá ser um dos segmentos mais esperados do discurso, pois apesar da retórica, o partido repúblicano ainda não chegou a consenso sobre qualquer política detalhada para substituir um sistema que, após ter sofrido dificuldades sérias durante a implementação, já ajudou milhões de americanos a obter seguro de saúde e é até bem visto em estados controlados pelo partido de Trump.

Escalada dos gastos militares

Segundo fontes da administração citadas pela Associated Press, Trump quer aumentar o orçamento militar em quase 10%, ou 54 mil milhões de dólares. A medida iria ao encontro das promessas eleitorais de fortalecer o aparelho militar, com o aumento de gastos no Pentágono a ser compensado parcialmente por cortes nas outras agências domésticas, uma redução significativa na assistência internacional e também com impactos negativos no financiamento da Agência de Proteção Ambiental.

No discurso de hoje, Trump deverá sinalizar as propostas orçamentais para estas áreas, que a presidência vai apresentar ao Congresso em março. Nessa altura, espera-se resistência dos democratas e mesmo de alguns republicanos que estão contra os cortes para as agências domésticas.

A Casa Branca afirma que o orçamento não vai ter impactos negativos na Segurança Social nem no sistema de saúde, mas os democratas não acreditam. “Está claro nos planos orçamentais que Trump pretende quebrar as promessas que fez às familias americanas ao trucidar os programas que beneficiam a classe média. Um corte tão profundo significa quase certamente cortes nas agências que protegem os consumidores dos excesso de Wall Street e protegem o ar e a água”, disse Charles Schumer, líder dos democratas no Senado.

Estímulos económicos (e a reação dos mercados)

Os mercados acionistas norte-americanos têm navegado um ‘rally’ criado por Trump com as promessas de cortes nos impostos, mais investimento nas infraestruturas e menos regulação para setores como a banca, levando os principais índices a bater recordes sucessivos.

Durante essa onda de otimismo houve momentos de dúvida, devido à ausência de detalhes sobre os estímulos. O presidente deu novo fôlego ao entusiasmo nos mercados ao prometer este mês um “anúncio fenomenal” sobre o plano fiscal, mas as dúvidas dos investidores persistem, especialmente com Trump a dar prioridade ao desmantelar do Obamacare e não ao plano fiscal.

“Temos de ver alguns detalhes no meio de toda esta conversa sobre políticas”, disse Sean Simko, que gere ativos de dívida no valor de 8 mil milhões de dólares na SEI Investments na Pennsylvania, à Bloomberg. “Mais detalhes em termos de números ou mesmos um calendário mais definido. Se não houver detalhes, as subidas baseadas no apetite [dos investidores] pelo risco poderá estar a acabar”.

No sinal da expetativa que rodeia o discurso de Trump, os índices em Wall Street fecharam ontem com variações ligeiras. “Os mercados vão simplesmente fazer nada até ouvirem o discurso amanhã à noite”, vincou Jeffrey Saut, chefe de estratégia de investimento na Raymond James Financial na Flórida, à Reuters.

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