Em Cabo Verde, o turismo é o responsável por cerca de 25% do PIB nacional, em termos diretos, e é o maior criador de emprego a nível nacional. Contudo, mais de 90% deste fenómeno ocorre apenas em duas ilhas, o Sal e a Boavista, com elevada concentração num produto, o sol e o mar, em poucos empreendimentos, e com elevada sazonalidade.

Por outro lado, o conjunto da economia não tira partido da procura que o turismo representa para os diversos sectores da atividade, ou seja a economia cabo-verdiana teima em funcionar a várias velocidades. São exemplo disso o caso da ilha de Santo Antão – a monocultura do grogue – e de todos os sectores tradicionais de qualquer das ilhas do arquipélago.

A estratégia atual do Governo, com a forte participação do empresariado, é a de um modelo de duas ilhas, o Sal e a Boavista, com elevada concentração de empreendimentos turísticos, a par da dispersão de empreendimentos turísticos por todas as ilhas.

A dispersão do fenómeno turístico pelo todo nacional, a par da concentração em duas ilhas, por um lado, facilita a unificação do mercado interno, uma vez que também o turista passa a ir ter com o potencial fornecedor em cada ilha, mas por outro lado, torna mais complexo o processo.

Num sector globalizado e maduro, como é o Turismo, é a procura que comanda o negócio. O Turismo é uma atividade globalizada e com a distribuição a assumir o papel de líder da relação entre a procura e a oferta, com uma relação dinâmica e em permanente evolução, entre as chamadas grandes Operadoras ou Agências Globais de Turismo, as grandes Plataformas Globais de booking, as Agências Nacionais de Viagens e de Turismo e as Empresas Nacionais de Plataformas de Informação.

A relação dinâmica entre estes quatro fatores é determinante para qualquer estratégia e planeamento do turismo, no todo nacional e em qualquer ilha, se quisermos que o Turismo seja sustentável e competitivo.

A repartição do valor a criar pelo sector do turismo, entre o país ou região, e os operadores externos, depende em larga medida da compreensão e da relação – dinâmica – que se conseguir estabelecer entre estes quatro fatores.

Em Cabo Verde esta repartição é francamente desfavorável ao país e aos operadores nacionais e das regiões onde o fenómeno turístico acontece.

Cabo Verde necessita de um Turismo Inclusivo, isto é, que beneficia a todos, em termos etários, de género, de estrato social e das regiões e que acontece respeitando os seguintes equilíbrios. Estes equilíbrios não são espontâneos e supõem o planeamento do que se pode e do que não deve ser feito, bem como, em consequência, do que se pretende fazer.

O bem-estar das famílias e das comunidades, a criação de emprego, a geração de oportunidades e a criação, prévia e em sequência, das condições que permitem aos nacionais e aos que vivem em cada região tirar partido dessas oportunidades: no emprego, nos negócios, na inovação.