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Turismo: Vanguard vai investir 1,5 mil milhões na ‘nova Comporta’

Em setembro começa a ganhar vida o projeto de longo-prazo quea Vanguard tem para a ‘nova Comporta’. Cobre centenas de hectares, custará pelo menos 1,5 mil milhões e terá uma associação para promover o equilíbrio ecológico da região. A Amorim Luxury ‘herdou’ o antigo Hotel Aman, que será o próximo JNCQUOI Comporta. Mas, por enquanto, está tudo nas mãos do juiz Carlos Alexandre.
28 Abril 2019, 08h00

O projeto de 1,5 mil milhões de euros que a Vanguard Properties tem para a ‘nova Comporta’, pensado para o longo-prazo, depende apenas da conclusão do processo de venda dos dois principais ativos que ainda pertencem ao Fundo da Herdade da Comporta, gerido pela Gesfimo. A chave está nas ‘mãos’ do juiz Carlos Alexandre, que tem de emitir um despacho favorável sobre o pedido de aprovação das servidões dos terrenos que estão arrestados pelo Ministério Público, instituição à qual o consórcio enviará “na próxima segunda-feira” o pedido de aprovação.

As servidões são um encargo que determinam benefícios de um terreno a favor de outro, como uma servidão de passagem de água, acessos ou energia. Só depois será assinada a escritura pública do contrato de compra e venda. José Cardoso Botelho, sócio de Claude Berda, estima que a assinatura ocorra entre maio e junho, após a qual o consórcio formado pela Vanguard e pela Amorim Luxury será oficialmente o novo dono do Comporta Links e do Comporta Dunes, as duas áreas de desenvolvimento turístico (ADT) que custarão cerca de 157,5 milhões de euros, dando início à nova Comporta. Deste valor, a Amorim Luxury pagará cerca de 19 milhões pela participação de 12% no consórcio.

A Vanguard tem um projeto pensado para o longo-prazo que ainda está em fase de estudo, com um investimento que “não deverá ser inferior a 1,5 mil milhões de euros”, explicou José Cardoso Botelho. No entanto, os próximos passos já estão identificados.

Os 916 hectares da nova Comporta terão, além de dois campos de golfe de 18 buracos, 26 loteamentos residenciais, onze aldeamentos turísticos, três aparthotéis e cinco hotéis, entre os quais se destacará o Hotel JNCQUOI Comporta, que vai nascer do anterior projeto, um luxuoso Hotel Aman, e que será gerido por Miguel Guedes de Sousa e Paula Amorim.

Há quem lhe chame “o paraíso às portas de Lisboa”, onde as cegonhas dominam os céus e os arrozais acabam quando se iniciam as dunas que desembocam em areais virgens banhados pela água azul-turquesa que se confunde com a linha do horizonte. Apesar das recentes construções em zonas exclusivas, parece que o tempo parou na Herdade da Comporta, sob o mesmo sol que, numa outra época, iluminava os terrenos que pertenceram à Ordem Militar de Sant’Iago e Espada, que chegou a Portugal no século XII para auxiliar D. Afonso Henriques na Reconquista Cristã.

Séculos passados, a nova Comporta está para breve. José Cardoso Botelho revelou que o lançamento da primeira pedra, que marcará o início das obras do “maior desafio da [sua] vida”, poderá ocorrer em setembro deste ano.

O Comporta Dunes, no Carvalhal, a única ADT onde perduram as reminiscências do projeto de desenvolvimento turístico iniciado pelo Grupo Espírito Santo, “que ficou parado depois da queda da Rio Forte”, será a primeira a ser construída pelos novos donos, disse o empresário.

Terá de começar por se fazer um levantamento do estado das infraestruturas já construídas, contratando-se uma empresa fiscalizadora. Só depois será lançado um concurso público para a escolha da construtora que irá fazer a reconstrução das infraestruturas, entre os meses de junho e julho, adiantou o sócio de Claude Berda. As construtoras do projeto anterior, como a MSF e a União Civil, faliram, ou foram adquiridas por outras, como a Opway. Assim, poderão aparecer na corrida outras construtoras nacionais de ‘peso’, como a Teixeira Duarte ou a Mota Engil.

A Vanguard e a Amorim Luxury criaram uma empresa, detida em partes iguais “para terminar as infraestruturas do Comporta Dunes”, adiantou o empresário. Será terminado o campo de golfe de 18 buracos, já parcialmente construído, assim como o club house, que é hoje o esqueleto de um projeto da imaginação do arquiteto Souto Moura, que poderá ser acabado ou inteiramente refeito. No futuro, “o campo de golfe será concessionado a uma empresa especializada”, explicou o empresário.

A Amorim Luxury, que terá uma área de construção total de 70 mil metros quadrados, ficou com aquilo que seria o Hotel Aman, um dos três hotéis previstos no Comporta Dunes, rebaptizado de JNCQUOI Comporta, e que deverá ficar pronto ao fim de dois anos.

José Cardoso Botelho referiu que a Amorim Luxury está a equacionar demolir aquilo que a cadeia de hotéis de luxo já tinha edificado, as estruturas dos bungalows com vista que se estende sobre a flora local e que vai até ao mar, ao longe, mas poderá manter a estrutura central do hotel, onde ficava a receção e a restauração.

A Vanguard ficará com os outros dois hotéis previstos para o Comporta Dunes. Mas o seu projeto iniciar-se-á com o desenvolvimento de dois aldeamentos turísticos em parceria com a alemã Dcr & Hdc, “que já tinha interesses acordados com Fundo Imobiliário da Herdade da Comporta”, contou José Cardoso Botelho. “Uma vez que a Vanguard comprou os ativos do fundo e não espera que a Dcr & Hdc exerça o direito de preferência [sobre a quota-parte que ainda pertence ao Fundo]”, o projeto vai iniciar-se por aqui, com a construção, nos próximos três anos, de “52 pequenas villas, com 250 metros quadrados cada uma”, num investimento avaliado em 35 milhões de euros.

As villas serão entregues ‘chave na mão’ e os futuros proprietários poderão optar pelo arrendamento, caso em que o serviço aos hóspedes será desenvolvido pela parceria estabelecida entre a Vanguard e Dcr & Hdc.

Perto da aldeia da Comporta, por trás do conhecido restaurante Dona Bia, situa-se o vasto terreno do Comporta Links, que se encontra ainda em estado selvagem. Detido unicamente pela Vanguard Properties, nesta ADT está prevista a construção de um campo de golfe de 18 buracos, inicialmente projetado pelo arquiteto de campos de golfe Tom Fazio para ser um campo hipercompetitivo de 36 buracos, destinado a receber a prestigiada Ryder Cup, com 16, km2 de percurso e 140 hectares.

José Cardoso Botelho reconheceu que um campo desta dimensão não seria bom para o turismo. Por isso, decidiu reduzi-lo para 18 buracos, deixando o resto destinado a espaços verdes.

O Comporta Links, além de uma parte residencial, tem prevista ainda a construção de dois aldeamentos turísticos com 245 lotes para casas individuais, um ou dois aparthotéis com capacidade para 1.038 unidades, incluindo 3.467 camas, e ainda dois hotéis.

O desporto ocupará um lugar de destaque no projeto da Vanguard, que vai promover a prática do golfe, ténis, padel, desportos aquáticos e equestres, cujas infraestruturas começarão a ser construídas logo numa fase inicial.

Guta Moura Guedes chamada para liderar Associação Comporta Futuro

A Associação Comporta Futuro será constituída na próxima semana e terá um papel determinante na promoção do valor ecológico da Comporta, tendo as instalações na zona. José Cardoso Botelho convidou pessoalmente Guta Moura Guedes para liderar a Associação que vai intervir nas áreas culturais, design e arte, ambiente, sustentabilidade e mobilidade, áreas da competência da consultora de design.

“É importante para o desenvolvimento do projeto porque queremos que seja de altíssima qualidade e os moradores e potenciais parceiros têm de ter uma preocupação com a autenticidade da região”, disse José Cardoso Botelho.

O objetivo principal da associação é a implementação de uma estratégia integrada para incentivar a cidadania participativa, “criando as bases de uma comunidade integrada e integradora para gradualmente tornar a Comporta numa localidade ambientalmente sustentável”, de acordo com os estatutos.

José Cardoso Botelho quer combater a sazonalidade do destino Comporta para o tornar num polo integrado de turismo, ambiente e cultura, assim como numa zona residencial.

“A nova Comporta é uma Comporta desenvolvida com respeito pela sustentabilidade e pelo ambiente, e quer emprego local”, explicou Cardoso Botelho. “No futuro, pretendemos criar três mil postos de trabalho locais que poderão fixar as gerações mais novas à terra”, disse o empresário. A captação de talento internacional para a região também será um objetivo.

Entre as várias atividades, a associação vai estimular a capacidade criativa local, fomentar sinergias e ligações entre o tecido económico e cultural, tanto a nível nacional, como a nível internacional. Tal implica internacionalizar a produção cultural de região. Estão ainda previstas a organização e divulgação de eventos culturais. “O primeiro evento está pensado para agosto, para marcar a apresentação da nova Comporta”, adiantou José Cardoso Botelho.

O responsável pela Vanguard disse que o design e a arte estão hoje indissociados dos projetos imobiliários. Neste contexto, diversas marcas poderão associar-se. “A Ralph Lauren já demonstrou interesse em estabelecer uma parceria para desenvolver uma zona residencial”, revelou.

Artigo publicado na edição nº 1984, de 12 de abril, do Jornal Económico

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