Quatro dias depois de suspender o Acordo dos Cerais – que subscreveu com a Ucrânia, Rurquia e ONU – a Rússia voltou atrás e decidiu regressar ao pacto, muito por intervenção de Ancara. O presidente Recep Erdogan foi o primeiro a anunciar a inversão de Moscovo após um seu telefonema com o homólogo russo Vladimir Putin esta terça-feira e após consultas entre os respetivos ministros da Defesa.
Erdogan disse que, após a sua ligação com Putin, o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, informou o ministro da Defesa turco, Hulusi Akar, que o acordo para um corredor humanitário de cereais “continuaria da mesma maneira que antes” a partir do meio-dia desta quarta-feira.
Logo após as declarações de Erdogan, o Ministério da Defesa russo disse que a Rússia concordou em continuar a cumprir o seu papel no acordo depois de receber garantias por escrito de Kiev de que a Ucrânia não usaria o corredor marítimo para ações militares contra Moscovo.
O Ministério da Defesa disse que, graças ao envolvimento das Nações Unidas e da Turquia, a Ucrânia se comprometeu formalmente a usar os corredores seguros de navegação através do Mar Negro “exclusivamente de acordo com as estipulações da iniciativa” de 22 de julho passado.
“A Federação Russa considera que as garantias recebidas no momento parecem suficientes e retoma a implementação do acordo”, dizia o comunicado. A Rússia suspendeu o acordo no fim-de-semana passado, por alegados ataques de drones ucranianos contra a sua frota do Mar Negro.
Para os observadores, o acordo permanece instável – mas essa é a sua própria natureza. Em causa está a possibilidade de o acordo, que deve ser revisto periodicamente – vir a ser cancelado à data do próximo encontro sobre a matéria. O pacto expira em 19 de novembro, data a partir da qual deverá ser estendido no tempo.
Mesmo após a ligação com o líder turco, o Kremlin disse que Moscovo só consideraria retomar o acordo após uma “investigação detalhada” do ataque de drones no sábado contra a sua frota do Mar Negro, que acusou a Ucrânia de realizar com o apoio da Grã-Bretanha.
Kiev não assumiu a responsabilidade pelo ataque e nega usar o corredor de segurança do programa de cereais para fins militares. A Grã-Bretanha também negou qualquer envolvimento.
Apesar da medida russa, os navios continuaram a transportar grãos ucranianos na rota do Mar Negro ao longo da passada terça-feira, mas era improvável que isso continuasse por muito tempo uma vez que as seguradoras não estavam a emitir novos contratos.
Erdogan disse também que os novos embarques dão prioridade às nações africanas, incluindo Somália, Djibuti e Sudão.